São Paulo, terça-feira, 21 de julho de 2009

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Sem promessas, Obama recebe pioneiros

Ao lado dos primeiros astronautas a pisarem a Lua, presidente diz que fará com que matemática e ciência voltem à moda

Tripulantes da Apollo-11, que completou 40 anos ontem, pressionam Nasa por volta ao satélite e por missão tripulada a Marte

Mark Avino/Smithsonian Institution/Reuters
Armstrong (centro), ladeado por Aldrin (esq.) e Collins, em frente a
réplica do módulo Águia


SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON

Para quem trazia no currículo o feito de serem os primeiros humanos a chegarem à Lua e o fato de quase nunca se encontrarem, os astronautas Neil Armstrong, Edwin "Buzz" Aldrin e Michael Collins saíram de seu encontro com Barack Obama na Casa Branca de mãos abanando. O democrata os elogiou, disse confiar na Nasa e prometeu deixar "matemática e ciência na moda ["cool", no original] de novo".
Foi pouco para um time que, nos últimos dias, vem pedindo para que os EUA voltem a liderar um campo, a exploração espacial tripulada, que sofre de falta de interesse do público e de verba -o orçamento do programa de exploração planetária da agência norte-americana passou de US$ 3 bilhões ao fim do primeiro mandato de George W. Bush (2001-2009) para o atual US$ 1,5 bilhão proposto por Obama para 2010.
"Temos um administrador maravilhoso da Nasa na figura de Charles Bolden e da vice-administradora, Lori Garver", disse Obama, referindo-se a seus indicados para comandar a agência que espera o veredicto de uma comissão para definir quão rico será seu futuro. "Estamos confiantes em que eles farão tudo que puderem na próxima década para continuar a missão inspiradora da Nasa."
Elogioso e empolgado ao lado do trio de astronautas, Obama lembrou-se de onde estava quando a cápsula lunar voltou à Terra -no ombro do avô materno, no Havaí. "Muito raramente eu tenho um prazer tão extraordinário como eu tive hoje ao dar as boas vindas a três figuras icônicas, três legítimos heróis americanos", disse.
A seu lado, Armstrong, Aldrin e Collins observavam.
Ao final do encontro, Aldrin falou algo ao presidente, mas foi logo interrompido pelo cerimonial. Minutos antes, o porta-voz da Casa Branca toureava os jornalistas sobre a falta de empenho do novo governo em relação ao programa espacial. "Eu sei que esta administração está comprometida com a exploração espacial por humanos", disse Robert Gibbs. "Mas estamos esperando o resultado da comissão."
A recepção na Casa Branca foi o ponto alto de uma celebração que começou há alguns dias e reuniu pela primeira vez no mesmo lugar e em pelo menos uma década, segundo alguns relatos, Armstrong, Aldrin e Collins. Pela idade dos três -78, 79 e 78, respectivamente- e pela vida reclusa do primeiro, analistas especulavam se não seria também a última reunião em torno do Apollo-11.
Na noite anterior, os três haviam dado palestra no Museu Aeroespacial do Smithsonian, em Washington. Participantes, que concorreram a ingressos por sorteio, disseram que era a primeira vez que eles faziam um evento do tipo juntos desde os que se seguiram ao retorno da Lua, em 1969 -o museu não pôde confirmar a informação.
Nele, Aldrin defendeu fortemente a volta dos EUA à Lua e, de lá, a ida pela primeira vez a Marte, com o que Collins concorda em parte; avesso à fama e a falar de si, Armstrong preferiu fazer uma avaliação técnica intitulada "Goddard, governabilidade e geofísica", em que analisou o trabalho do pioneiro Robert Hutchings Goddard (1882-1945), chamado o pai do moderno foguete a propulsão. Dedicou poucos segundos de sua fala à Apollo-11.
"A melhor maneira de nos homenagear", disse Aldrin, piloto do módulo que chegou à Lua no dia 20 de julho de 1969 e segundo homem a andar no satélite, "é seguir nossos passos; ir corajosamente de novo numa missão de exploração".
Collins, que sobrevoou os colegas mas nunca pisou a Lua, desdenhou um retorno. "Às vezes eu me pergunto se nós não voamos para o lugar errado. Marte sempre foi meu favorito quando criança e ainda é hoje. Gostaria de ver [o planeta] se tornar o foco, como JFK se concentrou na Lua."
Comandante da missão e instado a falar dela, Armstrong, o primeiro homem a andar na Lua, ressaltou o aspecto pacifista indireto do feito. "Era o mais acabado exemplo de competição pacifista, EUA versus URSS", disse. "Se não é certo que foi uma distração que preveniu a guerra [entre as então superpotências], certamente foi uma distração."
Ontem pela manhã, Aldrin e Collins se encontrariam de novo com outros astronautas que andaram na Lua, num evento que lembrava no bom sentido a camaradagem e o clima do filme "Caubóis do Espaço", de Clint Eastwood, em que astronautas veteranos se reúnem para uma última viagem.
"Temos de voltar à Lua e deixar pessoas lá", resumiu Aldrin. "Assim, seremos obrigados a voltar cada vez mais e com maior frequência."


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