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ESPAÇO
Equipes ao redor do mundo na disputa por prêmio de US$ 10 milhões arriscam e explodem protótipos em lançamentos
Testes agitam corrida privada ao espaço
SALVADOR NOGUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
"Sábado estava um dia perfeito
para voar", descreveu John Carmack, engenheiro-chefe da Armadillo Aerospace, ao justificar as
preparações para o lançamento
de seu foguete, sob o céu azulado
do Texas. Pelos planos modestos
da equipe, o veículo deveria ter
subido uns 200 metros. E subiu.
Mas algo deu errado. A nave
desceu dando piruetas, caiu de lado e se espatifou no chão, menos
de 20 segundos após a decolagem.
Moral da história: "US$ 35 mil de
foguete agora são um monte de
destroços de primeira qualidade
do Armadillo", ponderou Carmack, no site do grupo (www.armadilloaerospace.com), onde é
possível ver o vídeo do esforço.
Essa é uma das histórias menos
glamourosas, mais emblemáticas
e cada vez mais recorrentes da
corrida pelo Prêmio X Ansari
-uma bolada de US$ 10 milhões
a ser oferecida ao primeiro grupo
privado que conseguir lançar
uma nave espacial com capacidade para três pessoas a cem quilômetros de altitude, duas vezes,
num prazo de duas semanas.
A competição, criada pela Fundação Prêmio X, de St. Louis,
EUA, conta com participantes
dos quatro cantos do mundo. A
idéia é estimular o desenvolvimento de naves de baixo custo,
principalmente para aplicações
em turismo espacial.
Carmack é engenheiro e co-fundador da empresa id Software,
criadora da série de jogos de computador "Doom". Com o dinheiro ganho com os games, ele lidera
uma das 26 equipes na disputa.
O teste de seu veículo, uma versão não-tripulada da nave com
que pretendia disputar o Prêmio
X, ocorreu há três semanas, quando outros times também começaram a mostrar serviço.
Aquecendo os motores
A coisa esquentou depois que a
Scaled Composites, empresa de
aeronaves leves da Califórnia,
anunciou sua intenção de tentar
vencer a competição entre os dias
29 de setembro e 4 de outubro.
Não se trata de blefe. Liderados
pelo legendário engenheiro aeroespacial Burt Rutan, homem
que criou o primeiro avião a circular o mundo sem reabastecimento, e financiados pelo milionário Paul Allen, co-fundador da
Microsoft, os técnicos da Scaled já
promoveram um vôo bem-sucedido ao espaço com sua nave, um
planador-foguete chamado SpaceShipOne, em 21 de junho.
Pretendem repetir o feito no fim
de setembro e ganhar os US$ 10
milhões -metade do valor investido na criação da nave. O anúncio foi feito no final de julho, cumprindo a exigência de que todas as
tentativas sejam comunicadas
com 60 dias de antecedência.
Uma semana depois, o grupo
canadense Da Vinci Project, liderado pelo engenheiro Brian Feeney, anunciou que também faria
uma tentativa de capturar o prêmio, com o primeiro vôo em 2 de
outubro. O financiamento veio do
GoldenPalace.com, o maior cassino virtual do mundo. É, de fato,
uma aposta ousada. Feeney ainda
não promoveu um vôo sequer.
"Podemos fazer alguns testes de
descida da cápsula, mas não vamos anunciar esses eventos", afirmou o canadense, durante o
anúncio da data para seu vôo.
Retardatários
A essa altura, somente se esses
dois grupos falharem, algum dos
outros 24 terá a chance de vencer.
Mas as equipes não desistem.
Carmack já prometeu que reconstruirá sua nave, numa versão
aperfeiçoada, e voltará a voar.
Outros grupos também continuam trabalhando a todo vapor.
No dia seguinte à destruição do
protótipo do Armadillo, o grupo
americano Space Transport Corporation, de Washington, lançou
uma versão em escala reduzida de
seu foguete Rubicon-1. O veículo
explodiu no ar, após atingir parcos 60 metros de altitude.
Os resultados negativos são esperados -e bem-vindos. Pelo
menos é o que defende o engenheiro e médico americano Peter
Diamandis, o criador do Prêmio
X. "Tentar algo novo e revolucionário envolve riscos significativos, a maioria das novas estratégias não funciona", ele diz.
Por isso, prossegue, os programas espaciais governamentais
são tão caros: não se pode arriscar. A prioridade é não perder vidas e causar comoções nacionais.
Na corrida pelo Prêmio X, apesar dos riscos, até agora, ninguém
morreu. E nem tudo é fracasso.
No sábado passado, a equipe Canadian Arrow, rival canadense do
Da Vinci Project, realizou com sucesso o teste de descida com pára-quedas de sua cápsula. O foguete é
baseado no consagrado modelo
V-2, desenvolvido pelo alemão
Wernher von Braun durante a Segunda Guerra Mundial.
Um dia antes, as boas novas vieram da América do Sul. O grupo
liderado pelo engenheiro argentino Pablo de Leon reportou sucesso no teste da torre de ejeção de
seu foguete, o Gauchito, num modelo em meia escala. "É um importante marco", diz Leon.
Ele não tem mais esperanças de
vencer o Prêmio X, mas diz que
ainda assim irá concluir o projeto.
E, como único concorrente da
América Latina, espera representar mais que a Argentina. "Se conseguirmos, representaremos todos os países latino-americanos
também -a criatividade de nosso povo e a habilidade de trabalhar com pequenos orçamentos e
fazer grandes coisas", orgulha-se.
Segunda fase
Enquanto isso, a empresa britânica Starchaser Industries, liderada pelo fogueteiro Steve Bennett,
está abrindo escritórios no Novo
México, nos EUA. Bennett, que
detém o recorde pelo maior foguete particular já construído na
Europa, disse que pretende iniciar
operações de lançamento em solo
americano a partir de 2006. Por
quê? É lá, segundo seus organizadores, que acontecerá a segunda
etapa na revolução espacial impulsionada pelo Prêmio X.
Os promotores da competição
já fecharam um acordo com o governo daquele Estado americano
para lá reunir as equipes participantes anualmente e promover a
chamada Copa Prêmio X. Será
uma espécie de "Fórmula-1 espacial", em que os times disputarão,
ao longo de uma ou duas semanas, prêmios específicos por número de lançamentos, número de
pessoas transportadas, altitude
atingida, e assim por diante.
Diamandis acredita que cerca
de um terço das equipes que disputam o Prêmio X será capaz de
iniciar operações tripuladas em
dois ou três anos. E o custo de um
pequeno vôo até o espaço será
bem menor. Hoje, um turista que
queira voar numa nave russa Soyuz precisa desembolsar cerca de
US$ 20 milhões. Um vôo na SpaceShipOne, de Burt Rutan, não
custaria mais que US$ 100 mil.
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