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Ganhador do Ig Nobel, físico já levitou sapos e descobriu adesivo em lagartixas
Arquivo Pessoal
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O físico holadês André Geim, da Universidade de Manchester |
DA REDAÇÃO
O efeito mais imediato da
descoberta do grafeno foi colocar um freio à criatividade de
André Geim e seus alunos. Desde 2004 o grupo de Manchester
só se dedica a pesquisar as propriedades do novo material
-deixando de lado pesquisas,
digamos, pouco convencionais,
como a levitação de sapos e o
desenvolvimento de um adesivo inspirado em lagartixas.
O cientista holandês, de 47
anos, ganhou fama (e escárnio
dos colegas) em 2000 ao ganhar o Prêmio Ig Nobel, dado a
pesquisas "que não poderiam
ou não deveriam ser replicadas". O responsável foi um artigo publicado em 1997 no "European Journal of Physics" no
qual Geim e o inglês sir Michael
Berry descreviam o uso de ímãs
para levitar um sapo.
Naquele mesmo ano, Geim
publicou na revista "Nature" a
descrição do mecanismo pelo
qual as lagartixas se grudam a
paredes, o que inspirou o desenvolvimento de um novo tipo
de adesivo.
"Eu sempre tive algum tipo
de pesquisa que me possibilita
obter verbas -se eu dissesse
"quero levitar um sapo" nenhuma agência daria dinheiro. E
cinco ou dez pequenos projetos
nos quais eu pergunto "o que
acontece se?'", diz.
"Em 99% dos casos é um lixo
completo. Mas, uma vez ou outra, esse questionamento do
senso comum produz resultados, e o grafeno é provavelmente o exemplo mais espetacular."
Geim atribui sua forma "sui
generis" de fazer ciência, em
parte, às próprias origens: filho
de alemães, ele nasceu na Holanda e cresceu na Rússia. "Na
Rússia ninguém faz as coisas do
jeito convencional", brinca.
Aparentemente o grafeno
deverá suprir o gosto de Geim
pelo bizarro por mais algum
tempo. Recentemente, por
exemplo, ele e seus colegas observaram no pequeno filme de
carbono um efeito que até agora só se achava que acontecesse
na evaporação de buracos negros: o chamado paradoxo de
Klein, no qual elétrons atravessam barreiras teoricamente intransponíveis como se elas fossem transparentes. O estudo
será publicado no mês que vem
na revista "Nature Physics".
"Agora, processos fundamentais que acontecem no
Universo e estavam fora do alcance até dos maiores aceleradores de partículas podem ser
simulados no grafeno", diz.
Geim pode se tornar, ele
mesmo, vítima de um paradoxo: ser o primeiro cientista a ganhar um Ig Nobel e um Nobel.
"Sem comentários sobre isso",
ri. "Mas tenho muito orgulho
do experimento do sapo."
(CA)
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