|
Próximo Texto | Índice
Osso da mão confirma status de "hobbit"
Pulso do hominídeo de Flores se parece mais com o de um macaco, o que sugere que fóssil ilustre é mesmo nova espécie
Classificação do esqueleto,
de 18 mil anos, é motivo de
disputa entre antropólogos;
grupo diz que ele é homem
moderno com malformação
GIOVANA GIRARDI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
A história do "hobbit", o hominídeo-anão que foi encontrado na ilha de Flores, na Indonésia, está cada vez mais digna de Tolkien -autor que
imortalizou os pequeninos na
série "O Senhor dos Anéis".
Assim como os personagens
da saga, ele já foi e voltou diversas vezes. O vaivém aqui se refere às discussões em torno da
sua classificação. Originalmente identificado como uma espécie nova -Homo floresiensis-,
ele chegou a ser rebaixado por
alguns a humano moderno
com alguma malformação.
Agora, um novo estudo vem lhe
confirmar o status de espécie.
A partir da análise de três ossos do punho esquerdo de um
dos esqueletos achados há quatro anos, uma equipe internacional de pesquisadores afirma
ter encontrado evidências para
dizer que se trata mesmo de
um novo tipo de hominídeo.
Segundo a equipe, liderada
por Matthew Tocheri, do Instituto Smithsonian, o formato do
pulso do "hobbit" é bem mais
primitivo que o dos humanos
modernos, assemelhando-se
mais ao de grandes macacos e
primeiros hominídeos. Essas
características, de acordo com
o grupo, não são observadas em
neandertais e no Homo sapiens.
Os cientistas dizem que essa é
uma evidência de que os dois
últimos compartilham um ancestral que o primeiro não teve.
A equipe, que publica seu
trabalho na revista "Science"
(www.sciencemag.org), inovou nas análises que vinham
sendo feitas até então ao deixar
de lado o crânio do pequeno
hominídeo -objeto de estudo
dos trabalhos anteriores.
"Os ossos do punho oferecem uma visão nova e são bastante úteis, uma vez que essa
área anatômica é muito diferente em humanos modernos e
nos mais antigos, como o Australopithecus (o melhor exemplo é Lucy) e o Homo habilis",
explicou Tocheri à Folha.
"Além disso, não é conhecida
nenhuma deformação ou
doença que seja capaz de transformar o pulso de um humano
moderno no de um chimpanzé", complementa, justificando
por que essa característica é
um indicativo de que se trata
de uma espécie diferente.
Fim de caso?
Tocheri deu essa resposta para rebater os trabalhos que propõem a malformação. O principal defensor dessa idéia é o paleoantropólogo indonésio Teuku Jacob, que diz que o "hobbit" era apenas um homem moderno com microcefalia.
"Enquanto a equipe de Jacob
argumenta isso, eles não oferecem nenhuma explicação para
o pulso primitivo do hobbit. Ele
tinha um crânio pequeno e um
pulso primitivo porque era de
uma espécie primitiva de hominídeo. Para mim, a controvérsia acabou", disse Tocheri.
Não é o que pensa Robert Eckhardt, que escreveu com Jacob um artigo na "PNAS" com
evidências da sua teoria. "O trabalho de Tocheri e colegas segue o mesmo padrão que caracterizou a publicação de Peter
Brown [o descobrir da ossada].
Eles pegam um aspecto da anatomia que é único e usam isso
para justificar que é uma nova
espécie. Mas quando uma evidência é derrubada, eles ignoram isso e buscam uma nova
característica", disse à Folha.
Próximo Texto: Floresta esverdeia mesmo sem receber chuva na Amazônia Índice
|