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Xingu terá menos floresta que SP em 2015
Análise mostra que proporção de mata remanescente fora de parque e área indígena será de menos de 30% naquela bacia
Instituto Socioambiental
fez projeção a partir dos
dados do desmatamento de
2005, olhando áreas fora
de unidades de conservação
CLAUDIO ANGELO
EDITOR DE CIÊNCIA
Se as tendências atuais de
desmatamento continuarem, a
bacia do rio Xingu, entre Mato
Grosso e Pará, terá em 2015 a
mesma proporção de florestas
remanescentes -na verdade,
até um pouco menos- que a região metropolitana de São Paulo, segundo uma nova análise.
Não, você não leu errado: a
região das cabeceiras de um dos
maiores rios da Amazônia, que
tem densidade demográfica de
1,5 habitante por quilômetro
quadrado, pode chegar ao mesmo total de florestas remanescentes que a região mais densamente povoada da América do
Sul, que tem 2,3 mil habitantes
por quilômetro quadrado.
O estudo, feito pelo ISA (Instituto Socioambiental) a partir
de dados do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais),
indica que em 2015 o total de
florestas que sobrarão fora de
unidades de conservação e terras indígenas na bacia do Xingu
em Mato Grosso 29,2% se mantidas as tendências atuais de
desmatamento. No lado paraense da bacia, a cifra é 28%.
Na região metropolitana de SP,
a cobertura vegetal fora de parques e terras indígenas é 32%.
"Você pode dizer que é óbvio,
porque a utilização para agricultura é evidentemente mais
extensiva em termos de área do
que na região metropolitana",
diz André Lima, do ISA. Ele é
autor do estudo, apresentado
em Brasília na última quarta-feira. "Mas ainda assim é chocante concluir que, numa das
bacias hidrográficas mais importantes do país em termos de
diversidade socioambiental e
proteção dos recursos hídricos,
teremos em dez anos menos
florestas do que o que existe
hoje na região mais densamente ocupada da América do Sul."
A situação é mais grave ainda, aponta Lima, se for considerado que a lei determina a proteção de 80% das florestas em
qualquer propriedade rural da
Amazônia, enquanto em São
Paulo a área determinada como
reserva legal é 20%.
É preciso tomar os dados
com um grão de sal. Afinal, em
área absoluta de floresta, a bacia do Xingu está resguardada,
já que cerca de 60% dela está
protegida na forma de parque
ou terra indígena.
"Mas é preciso controlar o
desmatamento fora para que
ele não chegue até as unidades
de conservação", diz Lima. Ele
lembra um estudo recente de
Leandro Ferreira, do Museu
Goeldi, que mostra que quase
40% das áreas de conservação
da Amazônia sofrem desmate.
Para fazer sua análise, Lima
usou a série de dados de desmatamento de 2000 a 2005. O foco principal do estudo foi saber
o que acontece fora de áreas
protegidas, onde a saúde da floresta depende do cumprimento
da lei pelo setor produtivo.
"Ele não faz análises estatísticas mas, se elas fossem aplicadas, aposto que o resultado seria o mesmo", disse à Folha
Leandro Ferreira.
A bacia do alto Xingu no Pará
foi um dos lugares para onde o
desmatamento "vazou", subindo 53% em 2005 mesmo tendo
caído na Amazônia em geral.
As causas são a sobretudo
pressão da soja (que entrou em
crise, levando o desmatamento
no alto Xingu em Mato Grosso
cair 27% em 2005) e da grilagem de terras, no Pará.
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