São Paulo, sábado, 21 de outubro de 2006

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Xingu terá menos floresta que SP em 2015

Análise mostra que proporção de mata remanescente fora de parque e área indígena será de menos de 30% naquela bacia

Instituto Socioambiental fez projeção a partir dos dados do desmatamento de 2005, olhando áreas fora de unidades de conservação

CLAUDIO ANGELO
EDITOR DE CIÊNCIA

Se as tendências atuais de desmatamento continuarem, a bacia do rio Xingu, entre Mato Grosso e Pará, terá em 2015 a mesma proporção de florestas remanescentes -na verdade, até um pouco menos- que a região metropolitana de São Paulo, segundo uma nova análise.
Não, você não leu errado: a região das cabeceiras de um dos maiores rios da Amazônia, que tem densidade demográfica de 1,5 habitante por quilômetro quadrado, pode chegar ao mesmo total de florestas remanescentes que a região mais densamente povoada da América do Sul, que tem 2,3 mil habitantes por quilômetro quadrado.
O estudo, feito pelo ISA (Instituto Socioambiental) a partir de dados do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), indica que em 2015 o total de florestas que sobrarão fora de unidades de conservação e terras indígenas na bacia do Xingu em Mato Grosso 29,2% se mantidas as tendências atuais de desmatamento. No lado paraense da bacia, a cifra é 28%. Na região metropolitana de SP, a cobertura vegetal fora de parques e terras indígenas é 32%.
"Você pode dizer que é óbvio, porque a utilização para agricultura é evidentemente mais extensiva em termos de área do que na região metropolitana", diz André Lima, do ISA. Ele é autor do estudo, apresentado em Brasília na última quarta-feira. "Mas ainda assim é chocante concluir que, numa das bacias hidrográficas mais importantes do país em termos de diversidade socioambiental e proteção dos recursos hídricos, teremos em dez anos menos florestas do que o que existe hoje na região mais densamente ocupada da América do Sul."
A situação é mais grave ainda, aponta Lima, se for considerado que a lei determina a proteção de 80% das florestas em qualquer propriedade rural da Amazônia, enquanto em São Paulo a área determinada como reserva legal é 20%.
É preciso tomar os dados com um grão de sal. Afinal, em área absoluta de floresta, a bacia do Xingu está resguardada, já que cerca de 60% dela está protegida na forma de parque ou terra indígena.
"Mas é preciso controlar o desmatamento fora para que ele não chegue até as unidades de conservação", diz Lima. Ele lembra um estudo recente de Leandro Ferreira, do Museu Goeldi, que mostra que quase 40% das áreas de conservação da Amazônia sofrem desmate.
Para fazer sua análise, Lima usou a série de dados de desmatamento de 2000 a 2005. O foco principal do estudo foi saber o que acontece fora de áreas protegidas, onde a saúde da floresta depende do cumprimento da lei pelo setor produtivo.
"Ele não faz análises estatísticas mas, se elas fossem aplicadas, aposto que o resultado seria o mesmo", disse à Folha Leandro Ferreira.
A bacia do alto Xingu no Pará foi um dos lugares para onde o desmatamento "vazou", subindo 53% em 2005 mesmo tendo caído na Amazônia em geral.
As causas são a sobretudo pressão da soja (que entrou em crise, levando o desmatamento no alto Xingu em Mato Grosso cair 27% em 2005) e da grilagem de terras, no Pará.


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