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+ Marcelo Leite
Desmatamento em alta
Permanece limitada a capacidade do governo de inibir a ação de grileiros, madeireiros
e seus sócios
Em agosto, duas colunas neste espaço ofereceram informações
contraditórias sobre desmatamento na Amazônia brasileira. A primeira, no dia 5 daquele mês, previa
aumento no corte de florestas com a
subida dos preços de commodities como soja e carne bovina. A segunda,
duas semanas depois, apontava erro
no primeiro texto, diante de dados de
satélite que indicavam queda no desmate pelo terceiro ano consecutivo.
Ambas as colunas estavam certas, e
também erradas. O desflorestamento
de fato vinha caindo, pelo menos até
junho ou julho. Mas começou a subir
de novo, forte, em agosto. Apesar disso, ainda está distante da cifra escandalosa de 2003/ 2004, a segunda
maior área devastada de todos os tempos (27.429 km2).
Eis o dado do Sistema Deter, acompanhamento em "tempo real" (poucas
semanas de defasagem entre coleta de
imagens por satélites e processamento dos dados) operado pelo Instituto
Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) para o Ministério do Meio Ambiente (MMA) orientar a fiscalização:
de junho a setembro, foram derrubados 4.570 km km2 de mata amazônica,
contra 4.250 km2 no mesmo período
do ano anterior.
Isso dá um aumento de 8%, como
noticiou a Folha na quinta-feira. O
MMA ainda se contorcia para dizer
que não estava ocorrendo um aumento substantivo, só uma desaceleração
da queda. O ano de 2007 terminaria
ainda com uma redução na taxa de
desmatamento, argumentava.
A série histórica de estatísticas oficiais iniciada em 1988 leva em conta o
período de agosto a julho. Como até
três meses atrás a taxa vinha caindo,
tendo registrado -33% de variação em
junho e oscilação de 4% em julho (no
confronto com os mesmos meses de
2006), o ano-desmate 2006/2007 terminará, sim, com redução.
Marina Silva terá, portanto, mais
um relatório positivo sobre desmatamento anual para apresentar. Mas já
não será um retrato fiel da situação
quando se iniciar a reunião das Nações Unidas sobre mudança climática
de Bali, Indonésia, em dezembro. Ali o
Brasil e outros países emergentes serão pressionados a adotar metas de
redução de emissões de gases do efeito estufa, como já fizeram vários países desenvolvidos no quadro do Protocolo de Kyoto.
Três quartos das emissões brasileiras vêm do desmatamento. Em agosto
deste ano, ele aumentou 53% sobre
agosto de 2006 (passou de 474 km
km2 a 723 km km2). Em setembro,
mais 107% (de 687 km km2 a 1.424 km
km2).
Como de hábito, a aceleração é mais
acentuada nos Estados que compõem
o chamado Arco do Desmatamento.
Rondônia, aquela Unidade da Federação em que Lula vai erguer os monumentos hidrelétrico-desenvolvimentistas de Santo Antônio e Jirau, no rio
Madeira, teve aumento de 602%. Em
Mato Grosso, terra de Blairo Maggi e
portanto de soja, foram 84%. No Pará
de tantas unidades de conservação
criadas na gestão Marina Silva, 59% (e
maior área total, 655 km km2).
É bom repetir: 4.570 km km2 de desmate nos melhores meses (mais secos) para derrubar e queimar floresta
não chega a ser um desastre (ainda
que a área represente três vezes a do
município de São Paulo).
A aceleração inegável, no entanto,
vem sugerir que permanece limitada a
capacidade do governo federal de inibir a ação predatória de grileiros, madeireiros e seus sócios no avanço da
frente agropecuária, sobretudo quando capitalizados pelo aumento nos
preços de commodities.
MARCELO LEITE é autor de "Promessas do Genoma" (Editora da Unesp, 2007) e de "Clones Demais" e "O Resgate
das Cobaias", da série de ficção infanto-juvenil Ciência em
Dia (Editora Ática, 2007). Blog: Ciência em Dia (www.cienciaemdia.zip.net). E-mail: cienciaemdia@uol.com.br
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