São Paulo, quinta-feira, 21 de novembro de 2002

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BIOTECNOLOGIA

Cientista do RJ usa bactéria para produzir camundongo alterado

Técnica barateia cobaia transgênica

LUISA MASSARANI
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Seres minúsculos estão transformando a tecnologia de obtenção de camundongos geneticamente modificados para uso em pesquisas de laboratório. Responsáveis pelo trabalho pesado, bactérias reduzem a até 1/12 o tempo para produzir esses animais, diminuindo em até 50% os custos.
A novidade é resultado do pós-doutoramento de Vinícius Cotta de Almeida, 36, do Departamento de Ultra-Estrutura do Instituto Oswaldo Cruz/Fiocruz, no Rio de Janeiro. Ele é também pesquisador-visitante do Hospital Geral de Massachusetts, da Escola Médica de Harvard, em Boston (EUA).
Almeida busca modelos para o tratamento da doença de Chron, uma inflamação severa do trato gastrointestinal. A técnica pode também ser aplicada para estudos de doenças com componente genético comuns entre brasileiros, como diversos tipos de câncer.
Camundongos transgênicos têm um ou mais genes incorporados em seu DNA para apresentar alguma característica de interesse para a pesquisa.
"Eles não só ajudam a compreender a função de certas proteínas e sua implicação em doenças, como também servem de modelos para avaliar terapias potenciais", diz Almeida.
Mas alerta: "O alto custo e a demora na obtenção desses animais mantêm muitos países como o Brasil longe dessa tecnologia. O custo total na geração de um camundongo geneticamente modificado chega a US$ 20 mil, sem levar em conta os salários dos pesquisadores envolvidos".
Em geral, a produção de camundongos transgênicos tem quatro etapas. Primeiro, o gene de interesse é isolado e mapeado. Na segunda etapa, é produzido o vetor transgênico (cuja função é levar o gene para dentro da célula a ser alterada). Depois, o vetor é introduzido em embriões de camundongo.
Na nova técnica, a maior parte do trabalho da segunda etapa passa a ser feita por bactérias, e não mais pelo pesquisador.
Almeida busca transferir genes associados à doença de Chron para forçar o desenvolvimento da enfermidade no animal. No ano passado, foram definidos o gene e as possíveis mutações no mesmo que poderiam estar no cerne do desenvolvimento dessa doença.
O cientista tem concentrado esforços na etapa dois (geração do vetor transgênico). As técnicas tradicionais requerem uma série de procedimentos por parte do pesquisador para essa etapa. Em vez disso, ele usou os BACs (sigla em inglês para cromossomos bacterianos artificiais), que são vetores nos quais é possível incorporar grandes quantidades de DNA.
Ele começa introduzindo nos BACs a sequência genética desejada. "Ao obter um BAC contendo a informação do gene de interesse, o que fazemos é estimular a bactéria a trabalhar sozinha na modificação desse gene em BACs que estão dentro dessa mesma bactéria. Com isto, há maior rapidez, eficiência e, consequentemente, diminuição dos custos. Só na primeira etapa (montagem do vetor) podemos prever gastos em torno de 1/5 do valor total", diz.
Pelo método tradicional, as duas primeiras etapas podem levar de 3 a 6 meses, dependendo da complexidade da manipulação genética. Segundo Almeida, os testes realizados mostram que, neste caso, o tempo necessário é de 1 a 4 semanas.


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