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BIOTECNOLOGIA
Cientista do RJ usa bactéria para produzir camundongo alterado
Técnica barateia cobaia transgênica
LUISA MASSARANI
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Seres minúsculos estão transformando a tecnologia de obtenção de camundongos geneticamente modificados para uso em
pesquisas de laboratório. Responsáveis pelo trabalho pesado, bactérias reduzem a até 1/12 o tempo
para produzir esses animais, diminuindo em até 50% os custos.
A novidade é resultado do pós-doutoramento de Vinícius Cotta
de Almeida, 36, do Departamento
de Ultra-Estrutura do Instituto
Oswaldo Cruz/Fiocruz, no Rio de
Janeiro. Ele é também pesquisador-visitante do Hospital Geral de
Massachusetts, da Escola Médica
de Harvard, em Boston (EUA).
Almeida busca modelos para o
tratamento da doença de Chron,
uma inflamação severa do trato
gastrointestinal. A técnica pode
também ser aplicada para estudos
de doenças com componente genético comuns entre brasileiros,
como diversos tipos de câncer.
Camundongos transgênicos
têm um ou mais genes incorporados em seu DNA para apresentar
alguma característica de interesse
para a pesquisa.
"Eles não só ajudam a compreender a função de certas proteínas e sua implicação em doenças, como também servem de
modelos para avaliar terapias potenciais", diz Almeida.
Mas alerta: "O alto custo e a demora na obtenção desses animais
mantêm muitos países como o
Brasil longe dessa tecnologia. O
custo total na geração de um camundongo geneticamente modificado chega a US$ 20 mil, sem levar em conta os salários dos pesquisadores envolvidos".
Em geral, a produção de camundongos transgênicos tem
quatro etapas. Primeiro, o gene de
interesse é isolado e mapeado. Na
segunda etapa, é produzido o vetor transgênico (cuja função é levar o gene para dentro da célula a
ser alterada). Depois, o vetor é introduzido em embriões de camundongo.
Na nova técnica, a maior parte
do trabalho da segunda etapa passa a ser feita por bactérias, e não
mais pelo pesquisador.
Almeida busca transferir genes
associados à doença de Chron para forçar o desenvolvimento da
enfermidade no animal. No ano
passado, foram definidos o gene e
as possíveis mutações no mesmo
que poderiam estar no cerne do
desenvolvimento dessa doença.
O cientista tem concentrado esforços na etapa dois (geração do
vetor transgênico). As técnicas
tradicionais requerem uma série
de procedimentos por parte do
pesquisador para essa etapa. Em
vez disso, ele usou os BACs (sigla
em inglês para cromossomos bacterianos artificiais), que são vetores nos quais é possível incorporar grandes quantidades de DNA.
Ele começa introduzindo nos
BACs a sequência genética desejada. "Ao obter um BAC contendo a
informação do gene de interesse,
o que fazemos é estimular a bactéria a trabalhar sozinha na modificação desse gene em BACs que estão dentro dessa mesma bactéria.
Com isto, há maior rapidez, eficiência e, consequentemente, diminuição dos custos. Só na primeira etapa (montagem do vetor)
podemos prever gastos em torno
de 1/5 do valor total", diz.
Pelo método tradicional, as
duas primeiras etapas podem levar de 3 a 6 meses, dependendo da
complexidade da manipulação
genética. Segundo Almeida, os
testes realizados mostram que,
neste caso, o tempo necessário é
de 1 a 4 semanas.
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