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TECNOLOGIA
"Pilha" abastecida com hidrogênio funciona 110 horas a 250C e chega mais perto de uso geral em automóveis
Célula de combustível dá salto de eficiência
SALVADOR NOGUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
No presente, elas alimentam
com eletricidade as naves espaciais. Amanhã, poderão fornecer
energia limpa para automóveis,
que consomem gasolina com voracidade. São as células de combustível, uma tecnologia que aparece em alta num estudo divulgado hoje -alta performance e alta
temperatura, mais precisamente.
O avanço vem de um grupo de
cientistas liderado por Sossina
Haile, do Caltech, o prestigioso
Instituto de Tecnologia da Califórnia. Eles acabaram de desenvolver uma célula de combustível
(mais conhecida pelo nome em
inglês, "fuel cell") que opera acima da temperatura de ebulição da
água e oferece o melhor desempenho em equipamentos desse tipo,
com a vantagem adicional de ter o
design mais compacto.
O segredo é que o sistema não
depende de partes hidratadas para funcionar. Assim, a água presente nele pode se converter em
vapor à vontade, sem interromper a operação do aparelho.
O estudo do Caltech foi divulgado eletronicamente pela revista
norte-americana "Science"
(www.sciencexpress.org).
A célula a combustível é basicamente uma bateria elétrica. O sistema, normalmente abastecido
por hidrogênio e oxigênio, usa a
reação de conversão dessas substâncias em água para produzir
eletricidade.
Seu uso foi selecionado para as
missões espaciais por fornecer
um subproduto valioso no sustento da tripulação. Mas o rendimento ainda é muito baixo para
grandes aplicações na Terra.
As tecnologias atuais exigem células grandes demais para instalação em automóveis de pequeno
porte -apenas ônibus até agora
se tornaram potenciais alvos comerciais. Além disso, manipular
o combustível principal desses
sistemas, o volátil hidrogênio, é
tarefa bastante delicada.
Esforço ambiental
Entretanto, as vantagens começam a falar mais alto, sobretudo a
possibilidade de ter como subproduto água, que elimina os problemas ambientais ligados à queima de derivados do petróleo. Os
cientistas lutam agora para viabilizar sistemas mais eficientes.
Entra em cena o Caltech. Sua célula a combustível se baseia em
eletrólitos de "ácido sólido" (fórmula química CsH2PO4), que operam a até 250C. Com a alta temperatura, é possível reduzir o grau
de pureza exigido do combustível, e o sistema todo fica menor,
com melhor desempenho.
"Interrompemos o experimento porque precisávamos da estação de teste para outras coisas.
Mas não houve nenhuma degradação da célula a combustível durante as 110 horas em que operou.
Não há dados suficientes para definir a vida útil do sistema. Seria
possível defender que o dispositivo funcionaria indefinidamente",
afirma Haile.
Ainda há muito trabalho a ser
feito, antes que a tecnologia da
nova célula a combustível atinja o
estágio comercial. Mas a equipe
do Caltech não vê obstáculos intransponíveis pela frente e já está
caminhando nessa direção.
"Estamos particularmente interessados em parcerias com uma
companhia automotiva para incorporar nossas células de combustível num veículo de demonstração, e então, no final, em veículos comerciais", diz Haile. "As negociações estão caminhando."
Considerando a volatilidade do
hidrogênio puro, talvez a melhor
solução seja usar outro combustível. Para isso, Haile sugere o metanol, que também funciona com
as células desenvolvidas.
"O metanol pode ser visto como
um meio de armazenamento de
hidrogênio. O hidrogênio pode
reagir com gás carbônico para a
obtenção do metanol, de forma
que o CO2 gerado pelo uso do metanol na célula de combustível é
reciclado e não há aumento real
do CO2 que vai para a atmosfera."
O raciocínio é o mesmo do uso
do álcool como combustível
-sua queima emite gás carbônico na atmosfera, mas o carbono
volta a ser fixado, na forma de
biomassa nas plantações de cana,
que restauram o equilíbrio inicial.
"Mesmo com o hidrogênio como combustível, nossas células de
combustível oferecem vantagens", complementa Haile.
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