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São Paulo, sexta-feira, 21 de novembro de 2003

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BIOLOGIA

Bólido teria caído na Terra há 251 milhões de anos e provocado extinção que abriu espaço para os grandes répteis

Asteróide assassino deu vida a dinossauros

RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL

Provas de que um asteróide também foi responsável por uma extinção em massa anterior àquela que acabou com os dinossauros foram achadas por uma equipe de pesquisadores na Antártida.
Os microscópicos fragmentos de meteorito provariam que a extinção em massa ocorrida 251 milhões de anos atrás também foi causada por um impacto de um corpo vindo do espaço. "Meteoritos" são os corpos celestes que sobrevivem ao calor da entrada na atmosfera e chegam à superfície.
Na revista científica americana "Science" (www.sciencemag.org), em sua edição de hoje, a equipe de cinco pesquisadores liderada por Asish Basu, da Universidade de Rochester, Nova York, anuncia o achado de microfragmentos do bólido assassino.
Essa extinção ocorreu no "limite P/T", que marca o fim do período geológico Permiano e o início do período Triássico.
Foi a maior extinção e a que abriu caminho para a dominância dos dinossauros, que duraria por toda a então iniciada Era Mesozóica e seus períodos Triássico, Jurássico e Cretáceo, de 251 milhões a 65 milhões de anos atrás (o tempo geológico é dividido em eras, e as eras, em períodos).
As provas são pequenas -a maior não chega a ter meio milímetro. São 40 pedaços de meteorito com diâmetros entre 50 e 400 micrômetros (um micrômetro é um milésimo de milímetro).
Os fragmentos foram achados em uma cadeia de montanhas que corta a Antártida, no pico Graphite, perto da geleira Beardmore. A formação em que ocorreu a descoberta foi associada ao limite P/T com base em fósseis de plantas extintas do gênero Glossopteris e em grãos de quartzo mostrando choque, principalmente.
As análises tanto da sua composição química como da sua textura indicam que esses fragmentos vieram do espaço. Duas outras evidências foram apresentadas para reforçar a tese de que a Antártida contém as provas do crime cósmico do limite P/T.
São gases de origem extraterrestre aprisionados dentro de "buckyballs" -microestruturas de carbono que lembram uma bola de futebol. E pequenos grãos de ferro encontrados junto aos fragmentos que são parecidos com outros achados em outras rochas claramente definidas como sendo do limite P/T em outro ponto do planeta, Meishan, no sul da China. Os cientistas especulam que o ferro teria se condensado a partir do vapor formado pelo impacto do asteróide.
A sobrevivência dessas provas por um quarto de bilhão de anos tem despertado dúvidas entre pesquisadores, como alguns ouvidos pela "Science".
"Mencionamos várias possibilidades no artigo sobre como os fragmentos de meteorito sobreviveram. O artigo é sobre a descoberta desses grãos, não sobre o porquê de terem sobrevivido", disse Basu à Folha. "Ninguém questionou a idade da camada de sedimentos."
Sabendo o risco de contaminação das pequenas amostras, dois cientistas fizeram a coleta dos meteoritos em pontos distintos, além de obter uma amostra de uma camada mais profunda para comparação. Os resultados não indicaram problemas.

As cinco extinções
A vida na Terra passou por cinco momentos difíceis ao longo de sua história de bilhões de anos. Foram cinco extinções em massa das formas de vida existentes, abrindo caminho para outras que as sucederam.
Foi graças ao fim dos dinossauros, 65 milhões de anos atrás, que os mamíferos puderam se tornar os animais dominantes em terra. Essa que é a mais famosa das extinções ocorreu no "limite K/T", marcando o fim do período Cretáceo e o início do Terciário. Mas até agora só havia provas consistentes para esse "crime".
O impacto de um asteróide pode equivaler à detonação de milhares de bombas nucleares. O resultado seria espalhar tanta poeira que a luz do Sol seria bloqueada. A escuridão mataria plantas e diminuiria a temperatura. Os efeitos climáticos do impacto estariam na raiz das extinções.
As provas de impactos espaciais são difíceis de encontrar, especialmente quando o evento é muito antigo. No caso do limite K/T, a prova mais importante é a presença em maior quantidade de um elemento raro, o irídio. O impacto também pode ser inferido pelo efeito que o choque teve em determinados minerais.
A hipótese da extinção por asteróide surgiu em um artigo publicado na "Science" em 1980. O artigo, de autoria de Walter Alvarez, Frank Asaro, Helen Michel e Luis Alvarez, tratava da concentração de irídio no limite K/T.
Desde então as provas foram se acumulando, inclusive a localização da cratera do asteróide matador dos dinos na península de Yucatán, no México. Mas só em 1998 uma equipe anunciou ter encontrado um pedacinho de 2,5 milímetros do asteróide de talvez 10 km de diâmetro que teria caído há 65 milhões de anos.


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