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BIOTECNOLOGIA
Pesquisa de decifração do DNA da bactéria Chromobacterium violaceum pode produzir novos antibióticos
Genoma nacional rende primeiras patentes
SALVADOR NOGUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
O Projeto Genoma Brasileiro
chega a uma nova fase -agora
não é só uma questão de sequenciar, mas de patentear. A rede
montada com recursos do governo federal acaba de pedir a proteção intelectual sobre o uso de 11
sequências do DNA da bactéria
Chromobacterium violaceum, o
primeiro organismo a ter seu genoma decifrado pelo grupo.
Os 25 laboratórios financiados
pelo CNPq (Conselho Nacional
de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico), órgão ligado ao Ministério da Ciência e Tecnologia,
concluíram o trabalho de sequenciamento (leitura) dos 4,2 milhões
de "letras genéticas" que compõem o genoma da bactéria no
fim de 2001. O grupo agora está na
fase de conclusão do mesmo processo em um segundo microrganismo, o Mycoplasma synoviae.
Sequências genômicas podem
ser um grande feito tecnológico,
mas não são particularmente interessantes se não vierem acompanhadas de tentativas de usar esse conhecimento na prática. "Não
vale a pena sequenciar só por sequenciar", explica Ana Tereza Ribeiro de Vasconcelos, coordenadora de bioinformática do projeto. Com o patenteamento, os
cientistas vão ao que realmente
interessa -às aplicações.
A bactéria já parecia de cara um
prato cheio para criações biotecnológicas. Várias das proteínas
que ela produz na natureza parecem ter alguma utilidade. Uma
delas, a violaceína, é capaz de atacar o Trypanosoma cruzi, parasita
causador do mal de Chagas (leia
mais sobre a doença no texto
abaixo). Também já havia sido indicada a utilidade do metabolismo da bactéria na produção de
plásticos biodegradáveis e de um
sem-número de antibióticos.
"Para se defender dos ataques
na natureza, a bactéria desenvolveu um sistema de defesa muito
bonito", diz Vasconcelos. O objetivo é capitalizar um pouco sobre
essa "invenções" naturais, modificando-as para atender aos interesses humanos -na forma de
medicamentos e outros produtos.
Após realizar a anotação do genoma, os pesquisadores identificaram 11 sequências de DNA responsáveis pela codificação de genes com potencial uso biotecnológico. A partir disso, eles entraram com um pedido de patente
junto ao Inpi (Instituto Nacional
da Propriedade Industrial), auxiliados pelo CNPq.
"Isso foi há cerca de dez dias",
diz Eury Pereira Luna Filho, da
procuradoria jurídica do CNPq.
"Decidimos pela estratégia de primeiro fazer o pedido de patente
no Brasil e depois, usando os tratados vigentes, estender a proteção para outros países."
O patenteamento, em casos como esse, só se aplica a sequências
genéticas quando acompanhadas
por uma descrição de como serão
usadas. Os pesquisadores já têm
uma idéia do que podem tentar
fazer com alguns dos genes da C.
violaceum, mas, como as patentes ainda não foram concedidas,
Vasconcelos não quis detalhar as
potenciais aplicações.
As sequências obtidas pelos
brasileiros já foram depositadas
no Genbank (o banco de dados
genético de acesso público, nos
EUA), e os cientistas pretendem
publicar os resultados em uma
revista científica internacional de
renome. O estudo já foi redigido e
submetido, mas os cientistas não
revelam para qual publicação.
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