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Atlântico terá o dobro de furacões fortes, diz estudo
Agência americana estima que aquecimento global reduz o número de ciclones fracos, mas aumenta o dos mais fortes
Segundo cientista, trabalho com projeções para fim do século 21 indica que zona de maior risco migra para o norte, em direção aos EUA
GIULIANA MIRANDA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
O número total de tempestades tropicais no Atlântico Norte deve diminuir, mas a quantidade de furacões de categorias
mais devastadora vai dobrar
até o fim do século, indica uma
projeção. O estudo, realizado
por cientistas da Noaa (Agência
Nacional Atmosférica e Oceânica dos EUA), estima o efeito
do aquecimento global sobre os
eventos extremos na região.
O tipo de furacão a que os climatólogos se referem no trabalho são os de categorias 4 e 5,
cujos ventos estão acima de 210
km/h. São os eventos devastadores que ocasionalmente castigam as Bahamas, a costa sul
dos EUA, o Golfo do México e a
ilha de Hispaniola, onde ficam
Haiti e República Dominicana.
A conclusão, apresentada hoje na revista "Science", contraria boa parte dos estudos anteriores, que sugerem redução
em todas as ocorrências de furacões. Os autores da pesquisa
atribuem a diferença à precisão
de suas simulações em computador. Segundo eles, os modelos anteriores "não foram capazes de identificar furacões de
categoria três [entre 177 km/h e
208 km/h ] em diante".
O trabalho tem previsões importantes do ponto de vista de
defesa civil, pois 80 milhões de
pessoas habitam a região estudada. Além da potencial destruição por vendaval, esses locais podem sofrer com inundações provocadas pelos furacões. Nas tempestades de categoria 5, a mais forte, o nível do
mar eleva-se até cinco metros
nas áreas costeiras.
Entre 1900 e 2005, apenas
6% dos furacões registrados
nos EUA atingiram categorias 4
ou 5. Ainda assim, provocaram
48% de todo o prejuízo das
tempestades no país.
Para projetar alterações a serem provocadas pela mudança
climática, o estudo, liderado
pelo climatólogo Morris Bender, da Noaa, baseou-se em um
cenário médio de aumento de
temperaturas usado pelo IPCC
(painel do clima da ONU). A
partir desses números, simulou
diversos cenários futuros para
o clima da região. Na maioria
dos modelos criados em computador, os ventos se tornaram
mais destrutivos à medida que
o Atlântico se esquentava.
Vento cruzado
O estudo de Bender parece
desatar agora um nó científico
que já dura alguns anos. Estudos anteriores estimavam que
o número total de furacões na
região diminuiria, já que a mudança climática estimula a
ocorrência de ventos cruzados
em grandes altitudes -fator
que dificulta a formação de furacões. Esse benefício, porém, é
suplantado pela temperatura
da águas do mar, que vem crescendo, e é aquilo que fornece
energia aos furacões.
Para Carlos Nobre, pesquisador do Inpe (Instituto Nacional
de Pesquisas Espaciais), os resultados do trabalho de Bender
parecem consistentes. Segundo ele, outras pesquisas já vinham documentado a alteração das condições que permitem a formação dos ciclones
tropicais. Segundo ele, a previsão mais interessante da Noaa
agora é o deslocamento da área
de maior incidência de furacões no Atlântico Norte.
"O estudo sugere que a zona
mais ativa de furacões vai se
deslocar mais para o norte",
avalia Nobre, alertando para
um aumento do risco nos EUA.
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