São Paulo, sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

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EUA destroem satélite em órbita usando míssil naval

Operação foi criticada pela China, que fez demonstração similar no ano passado

Missão usou sistema criado na Guerra Fria para atingir eventuais mísseis inimigos; para críticos, teste favorece militarização do espaço

DA REPORTAGEM LOCAL

O navio cruzador americano Lake Erie, posicionado a noroeste do Havaí, lançou ontem à 0h26 (horário de Brasília) um míssil SM-3 para destruir o satélite espião desgovernado NROL-21. O governo dos EUA deflagrou a operação alegando que o tanque de combustível hidrazina do satélite poderia contaminar uma área habitada caso caísse na Terra e resistisse ao atrito com a atmosfera.
O Pentágono afirmou ter "alto grau de convicção" de que o tiro acertou o alvo. "Foi algo sem precedentes", afirmou o general James Cartwright, da Marinha. "O grau de dificuldade técnica da missão era significativo. Na hora da interceptação [do satélite pelo míssil] houve comemoração nos centros de operação e no navio."
Segundo o militar, imagens gravadas do impacto do míssil no alvo mostram uma explosão. Há mais de 90% de probabilidade de que o tanque tenha sido destruído. Uma confirmação final, porém, só deve sair hoje. "Da nossa posição, é sempre preciso ter cautela com estimativas, porque não há certeza absoluta", disse Cartwright.
Segundo o Pentágono, o satélite destruído era um modelo experimental a serviço do Escritório Nacional de Reconhecimento, uma agência estatal de inteligência. Foi lançado em dezembro de 2006, mas entrou em pane logo depois.
Ontem à tarde, restos do satélite já estavam entrando na atmosfera, mas nenhum deles grande o suficiente para resistir à reentrada, disseram os EUA.
A operação na madrugada foi a primeira na qual um míssil partiu do mar para atingir um satélite. Nos anos da Guerra Fria, os EUA e a União Soviética já haviam conduzido testes de destruição de satélites com mísseis partindo de terra firme.
Apesar de não ser totalmente inédita, a missão de ontem gerou severas críticas. Em nota pública, a ONG UCS (União dos Cientistas Engajados), que milita contra a corrida armamentista há vários anos, sugeriu que a destruição do satélite foi mais uma exibição de poderio militar do que uma operação motivada pela segurança, uma vez que muitos satélites caem na atmosfera e se desintegram sem oferecer risco.
O Pentágono, porém, negou que a finalidade da destruição do NROL-21 fosse um teste do sistema de mísseis da Marinha. "Estávamos preocupados com a hidrazina", diz Cartwright. Os militares também negam que a intenção da missão tenha sido a de evitar que partes do satélite espião pudessem cair em outro país e ser estudadas por cientistas estrangeiros.
Em janeiro do ano passado, a China havia destruído também um satélite em órbita alta, mas os militares americanos negam que a operação de ontem tenha sido uma espécie de "resposta" aos governo chinês. Segundo a Casa Branca, o caso era diferente, porque a missão americana envolveria uma questão de segurança e foi anunciada com antecedência.
Um jornal estatal chinês acusou os americanos de hipocrisia por terem criticado a operação chinesa no ano passado, mas terem rejeitado um tratado anteriormente proposto pela Rússia para banir armamentos no espaço.
"O potencial custo político de derrubar esse satélite é alto", disse Laura Grego, física da UCS. "Será muito difícil convencer outros países que eles não devam desenvolver sistemas anti-satélites similares."


Com Reuters


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