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Cores e memórias
A sinestesia, habilidade
de misturar
os canais dos sentidos, pode ser boa para
a cognição,
diz cientista
DAVID ROBSON
DA "NEW SCIENTIST"
Todos nós temos a capacidade de passar
por experiências de
sinestesia ou essa habilidade do cérebro de
misturar os sentidos é concedida, no nascimento, a uns poucos? Resutados recentes indicam que a resposta pode ser
uma mistura das duas coisas.
A sinestesia parece estar por
trás da memória dos chamados
savants, pessoas de memória
prodigiosa e de grande habilidade com números. A esperança é que uma compreensão melhor das origens desse fenômeno ajude a explicar essas características e, talvez, até mesmo
esclarecer se nós todos temos a
estranha capacidade de "ouvir
cores" e "cheirar sons".
Acredita-se que a sinestesia
surja quando conexões extras
no cérebro cruzam as regiões
responsáveis por diferentes
sentidos. Para descobrir se os
genes têm um papel importante no surgimento e na manutenção dessas conexões, uma
equipe liderada por Julian Asher, da Universidade de Oxford, coletou amostras genéticas de 196 indivíduos de 43 famílias, sendo que 121 delis já tinham exibido sinestesia audiovisual. Nesses casos, eles conseguiam "enxergar" música. O estudo saiu no "American Journal of Human Genetics".
"Quando eu escuto um violino, eu vejo algo parecido com
um bom vinho vermelho", diz
Asher, que também é sinestésico. "Um violoncelo já lembra
mais o mel", completa.
A partir da análise, sua equipe achou quatro regiões cromossômicas cujas variações genéticas pareciam estar relacionadas à sinestesia. Como uma
das regiões já era associada ao
autismo, pode existir um mecanismo genético comum por
trás desse transtorno psiquiátrico e da sinestesia, diz Asher.
Azul da cor do dois
Então, se os genes predispõem algumas pessoas a desenvolver a sinestesia, isso significa que não seria possível induzir a experiência em qualquer
pessoa?
Para investigar essa questão,
a equipe de Rui Cohen Kadosh,
do Imperial College de Londres, hipnotizou quatro voluntários. Por meio de sugestão
verbal, os pesquisadores tentaram induzir os participantes do
teste a enxergar algarismos como se existissem cores relacionadas a cada um deles -associação batizada como "sinestesia de cor e grafema".
No experimento, os voluntários tiveram então que olhar
para uma série de imagens com
fundo de cores diversas, nas
quais um dígito impresso em
preto aparecia no centro. Em
aproximadamente 80% dos casos, assim como as pessoas sinestésicas, os voluntários hipnotizados não conseguiam ver
os dígitos se a cor no fundo do
slide correspondesse à cor que
eles haviam associado com um
número. Era como se os psicólos tivessem escrito com uma
caneta azul sobre papel azul.
No experimento -descrito
em estudo na revista "Psychological Science"- outras pessoas que não tinham sido hipnotizadas também foram instruídas a relacionar uma cor
com cada número, mas não cometiam a confusão numérica.
"Isso mostra que, mesmo
sem uma hiperconectividade
no cérebro, você ainda pode ter
sinestesias", diz Cohen Kadosh. O cientista afirma que a
hipnose pode reativar conexões que tinham sido suprimidas pelo cérebro.
Habilidade adquirida
Julia Simner, da Universidade de Edimburgo (Escócia),
tem mais evidências de que a sinestesia não é resultado de conexões neurais fixadas antes do
nascimento. Ela estudou 615
crianças com idades entre seis e
sete anos, sendo que oito delas
revelaram ser sinestetas de cor
e grafema. Em um ano, as
crianças gradualmente associaram mais letras com cores,
mostrando que a habilidade delas na verdade se desenvolveu
com o tempo, afirma a cientista
em artigo na revista "Brain".
Deveríamos todos então tentar desenvolver a sinestesia para adquirir as habilidades dos
savants? "A sinestesia está fortemente ligada à capacidades
de memória aprimorada, então
seria definitivamente uma boa
idéia pesquisar", diz Simner.
Já Asher é mais cauteloso,
enfatizando que a sinestesia
frequentemente distrai quem,
por exemplo, está tentando ler
ou prestar atenção numa palestra. Ele espera poder desenvolver um teste genético que consiga diagnosticar crianças e
alertar os professores das suas
dificuldades potenciais.
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