São Paulo, quinta-feira, 22 de maio de 2008

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Grupo flagra "último suspiro" de estrela

Em lance de sorte, telescópio de raios X da Nasa fotografou uma supernova, o instante da morte estelar, desde seu início

Dados foram coletados por diversos instrumentos e podem ajudar a detectar outros eventos como esse com maior antecedência

DA REUTERS

Um grupo de astrônomos divulgou ontem as imagens de uma supernova -explosão estelar- documentada desde seu início. Em um golpe de sorte, cientistas que trabalham com o satélite Swift, da Nasa, detectaram uma grande fonte emissora de raios X em 9 de janeiro deste ano, e diversos telescópios poderosos foram apontados para o local a fim de registrar o processo de explosão.
Como as supernovas são eventos relativamente raros, os cientistas não tinham até hoje feito nenhuma detecção precoce de uma delas. Só se conseguia apontar os telescópios para elas quando o processo de explosão já está avançado.
"Durante anos nós sonhamos em observar uma estrela bem no momento de sua explosão", afirma Alicia Soderberg, astrônoma da Universidade de Princeton (EUA), que lidera o grupo autor da descoberta. "Nós estávamos no lugar certo, na hora certa, com o telescópio certo, em 9 de janeiro e testemunhamos a história."
Grosso modo, uma supernova é a morte de uma estrela bem maior do que o Sol. Quando a fusão nuclear que alimenta seu brilho cessa por falta de combustível, o astro colapsa em sua própria gravidade -"cai sobre si mesmo". Toda a matéria em contração então quica no centro da estrela e é lançada para fora, numa violenta expansão. O que resta de matéria, perto do núcleo, forma uma esfera densa e fria, chamada estrela de nêutrons, ou então origina um buraco negro.
A supernova encontrada pela equipe de Soderberg está na galáxia NGC 2770, a 88 milhões de anos-luz da Terra. Como a luz demora para chegar dessa distância até aqui, a observação recente significa na verdade que a estrela explodiu 88 milhões de anos atrás.

Mutirão astronômico
"Usando os telescópios mais poderosos da Terra e do espaço para observar luz visível, ondas de rádio e raios X, nós conseguimos observar a evolução da explosão desde o começo", diz Edo Berger, da Instituição Carnegie de Washington, colaborador de Soderberg. "Isso confirmou que aquela grande explosão de raios X marcou o nascimento da supernova."
O comportamento da supernova, batizada com a sigla 2008D, está descrito na edição de hoje da revista científica britânica "Nature". O trabalho teve a participação de 38 cientistas de diversas partes do mundo. Entre os instrumentos usados para observar o evento estão o Telescópio Espacial Hubble, o Observatório Chandra de Raios X e o telescópio Keck 1.
O "mutirão" reuniu dados que ajudarão a detectar outras supernovas com antecedência. "Instrumentos astronômicos planejados para o futuro poderiam então nos permitir finalmente desvendar o mistério sobre como essas explosões ocorrem", diz Soderberg.

Retrato em raios X
Supernovas são normalmente detectadas visualmente dias ou semanas depois de terem efetivamente iniciado, quando já estão mais brilhantes. Os cientistas, porém, observaram que o início do evento tem forte emissão de partículas conhecidas como neutrinos e produz uma onda de choque que superaquece o gás nas camadas exteriores da estrela. Esse gás emite raios X, então, o que pode ser a primeira pista para o cataclismo que vem depois.
"Essa observação é, de longe, o melhor exemplo de o que acontece quando uma estrela morre e dá origem a uma estrela de nêutrons", afirma Kim Page, da Universidade de Leicester (Inglaterra), que liderou a análise de raios X.


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