São Paulo, quarta-feira, 22 de setembro de 2010

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Maioria dos testes clínicos é irrelevante, diz estudo

São publicados 75 resultados por dia no mundo, a maioria sem qualidade

Com uma média de 80 participantes em cada trabalho, eles envolvem pelo menos 2 milhões de pessoas por ano

GIULIANA MIRANDA
DE SÃO PAULO

Pesquisadores da área médica estão exagerando na quantidade de testes publicados. Boa parte da produção é de baixa qualidade, já foi publicada em algum outro lugar ou, simplesmente, não tem relevância.
A afirmação é de cientistas da Europa e da Austrália, que fizeram um levantamento sobre os testes clínicos no mundo e constataram: com o atual volume de produção, é impossível catalogar e selecionar o que é relevante.
Por dia, são publicados 75 testes clínicos, além de 11 revisões sistemáticas -uma espécie de apanhado com os resultados mais relevantes de uma determinada questão, contendo análises aprofundadas de especialistas.
Com uma média de 80 participantes por trabalho, esses estudos envolveriam, ao todo, cerca de 2 milhões de pessoas por ano, o equivalente à população de Curitiba (PR).
E esses números podem estar subestimados. Devido ao grande volume e à falta de um sistema de indexação, não é possível saber se todos os testes publicados foram contados, ou mesmo aparecem na lista mais de uma vez.

SEM REVISÃO
Desde 1962, a FDA (agência que regula a venda de medicamentos e alimentos nos EUA) exige documentos que provem a eficácia das substâncias que autoriza.
O modelo foi rapidamente seguido por outros países e, desde então, a quantidade de pesquisas publicadas aumentou exponencialmente.
Os pesquisadores afirmam que isso incentivou a produção de pesquisas sérias, mas também impulsionou o surgimento de periódicos que não seguem critérios científicos, cujas publicações "cresceram ainda mais".
A enxurrada de material de baixa qualidade acabaria dificultando a identificação e popularização das pesquisas realmente relevantes. Isso faz com que existam vários testes repetidos, além de desperdiçar tempo, recursos e, claro, pessoal qualificado para analisar os resultados.
Para resolver a questão, os cientistas propõem reduzir drasticamente a quantidade de testes clínicos e de material publicado.
De acordo com os cientistas, seria bem mais eficiente investir em análises e revisões sistemáticas que possam atestar a qualidade e a relevância das pesquisas que já foram feitas.
"Nós precisamos desenvolver métodos inovadores para reduzir o trabalho de atualizar [os bancos de dados] e fornecer aquilo de que médicos e pacientes precisam: garantia de que a conclusão apresentada não está ultrapassada", diz o texto.
A pesquisa, publicada na revista "PLoS Medicine", foi chefiado por Hilda Bastian, professora da Universidade de Colônia (Alemanha).


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