São Paulo, sexta-feira, 22 de outubro de 2004

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ESPAÇO

Acordo prevê a construção de mais uma sonda de sensoriamento remoto da série Cbers, réplica das duas primeiras

Brasil fará quinto satélite com a China

SALVADOR NOGUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

A bem-sucedida série de satélites de observação da Terra feita em cooperação pelo Brasil e pela China acaba de ganhar uma adição: é o Cbers-2B, uma réplica exata do Cbers-2, que já está no espaço há um ano.
Cbers é a sigla em inglês para Satélite Sino-Brasileiro de Recursos Terrestres. No projeto original, seriam construídos em princípio dois, com a possibilidade de ampliar o acordo para um total de quatro. Os dois primeiros, também tecnicamente idênticos entre si, já foram construídos, a um custo de US$ 300 milhões (30% dos quais pagos pelo Brasil), e lançados em 1999 e 2003.
Ambos foram colocados em órbitas heliossíncronas (ou seja, em que eles passam por sobre a mesma região da Terra no mesmo horário, todos os dias), com cerca de 780 km de altitude.
Segundo a AEB (Agência Espacial Brasileira), as imagens e dados gerados pelos satélites são úteis em vários campos, como monitoramento de queimadas, planejamento urbano, controle de safras, identificação de níveis de poluição dos rios e mares e localização de áreas com devastação florestal.
O sucesso obtido com o projeto motivou os dois países a expandirem o acordo para a criação dos Cbers-3 e 4, com versões mais atualizadas dos equipamentos, de novo a um custo total de US$ 300 milhões. Especula-se até que o quarto modelo possa ser lançado a partir do Centro de Lançamento de Alcântara, no Maranhão.
Além disso, Brasil e China estudam a possibilidade de comercializar as imagens obtidas com o Cbers-2 para outros países. Esse foi um dos temas de reunião de que participaram Sérgio Gaudenzi, presidente da AEB, e Sun Layan, administrador da Academia de Tecnologia Espacial Chinesa.
Segundo a AEB, em um mês será assinado no Brasil um protocolo com instruções para o início da comercialização das imagens a usuários estrangeiros. Hoje, somente pesquisadores brasileiros e chineses têm acesso a elas (o catálogo de imagens pode ser acessado gratuitamente no site do projeto, www.cbers.inpe.br).
O problema é que a vida útil do Cbers-2 se esgotará em 2005, e o lançamento do Cbers-3 só está marcado para 2008. Para preencher a lacuna, foi desenvolvida a proposta do Cbers-2B. É uma cópia do Cbers-2, montada inclusive com algumas peças que foram fabricadas em dose dupla para o segundo satélite da série.
Saindo da esfera das discussões, o Cbers-2B acaba de ganhar o sinal verde para ser construído, em protocolo assinado por Gaudenzi e Layan durante visita do presidente da AEB à China.

Disputa de verbas
Embora pareça preencher uma necessidade, a proposta não tem recepção unânime entre cientistas e engenheiros no Brasil.
"Eu acho que programa Cbers tem seu aspecto de pesquisa e desenvolvimento, o de relações externas e o de geração de produtos e serviços", afirma o engenheiro Otavio Durão, do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), órgão do MCT (Ministério da Ciência e Tecnologia) responsável pela execução da porção brasileira do projeto. "O Cbers-2B parece visar só os dois últimos, ou seja, continuar a cooperação com a China e evitar a descontinuidade da geração de imagens."
Por isso, segundo Durão, sua execução não deveria depender necessariamente de recursos saídos do Ministério da Ciência e Tecnologia, que poderiam ser empregados em projetos com maior grau de inovação. "Esses recursos poderiam ir não só para os satélites científicos, mas também para o desenvolvimento de lançadores mais qualificados, com propulsão líquida, experimentos brasileiros para a ISS [Estação Espacial Internacional], novos projetos e pesquisas visando satélites geoestacionários."
Atualmente, o projeto do Cbers é o principal ramo de investimento na área de satélites dentro do programa espacial brasileiro. Mas há três satélites científicos, também desenvolvidos pelo Inpe, que consomem recursos para a continuidade de seu desenvolvimento.
São eles o Equars (Satélite de Pesquisa Atmosférica Equatorial, na sigla em inglês), o Mirax (Monitor e Imageador de Raios X, a ser usado para estudos astrofísicos) e o MCE (Monitor de Clima Espacial), satélite que trabalharia numa constelação composta por dois outros artefatos espaciais, um russo e um ucraniano.


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