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ESPAÇO
Acordo prevê a construção de mais uma sonda de sensoriamento remoto da série Cbers, réplica das duas primeiras
Brasil fará quinto satélite com a China
SALVADOR NOGUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
A bem-sucedida série de satélites de observação da Terra feita
em cooperação pelo Brasil e pela
China acaba de ganhar uma adição: é o Cbers-2B, uma réplica
exata do Cbers-2, que já está no
espaço há um ano.
Cbers é a sigla em inglês para
Satélite Sino-Brasileiro de Recursos Terrestres. No projeto original, seriam construídos em princípio dois, com a possibilidade de
ampliar o acordo para um total de
quatro. Os dois primeiros, também tecnicamente idênticos entre
si, já foram construídos, a um custo de US$ 300 milhões (30% dos
quais pagos pelo Brasil), e lançados em 1999 e 2003.
Ambos foram colocados em órbitas heliossíncronas (ou seja, em
que eles passam por sobre a mesma região da Terra no mesmo horário, todos os dias), com cerca de
780 km de altitude.
Segundo a AEB (Agência Espacial Brasileira), as imagens e dados gerados pelos satélites são
úteis em vários campos, como
monitoramento de queimadas,
planejamento urbano, controle
de safras, identificação de níveis
de poluição dos rios e mares e localização de áreas com devastação florestal.
O sucesso obtido com o projeto
motivou os dois países a expandirem o acordo para a criação dos
Cbers-3 e 4, com versões mais
atualizadas dos equipamentos, de
novo a um custo total de US$ 300
milhões. Especula-se até que o
quarto modelo possa ser lançado
a partir do Centro de Lançamento
de Alcântara, no Maranhão.
Além disso, Brasil e China estudam a possibilidade de comercializar as imagens obtidas com o
Cbers-2 para outros países. Esse
foi um dos temas de reunião de
que participaram Sérgio Gaudenzi, presidente da AEB, e Sun Layan, administrador da Academia
de Tecnologia Espacial Chinesa.
Segundo a AEB, em um mês será assinado no Brasil um protocolo com instruções para o início da
comercialização das imagens a
usuários estrangeiros. Hoje, somente pesquisadores brasileiros e
chineses têm acesso a elas (o catálogo de imagens pode ser acessado gratuitamente no site do projeto, www.cbers.inpe.br).
O problema é que a vida útil do
Cbers-2 se esgotará em 2005, e o
lançamento do Cbers-3 só está
marcado para 2008. Para preencher a lacuna, foi desenvolvida a
proposta do Cbers-2B. É uma cópia do Cbers-2, montada inclusive com algumas peças que foram
fabricadas em dose dupla para o
segundo satélite da série.
Saindo da esfera das discussões,
o Cbers-2B acaba de ganhar o sinal verde para ser construído, em
protocolo assinado por Gaudenzi
e Layan durante visita do presidente da AEB à China.
Disputa de verbas
Embora pareça preencher uma
necessidade, a proposta não tem
recepção unânime entre cientistas
e engenheiros no Brasil.
"Eu acho que programa Cbers
tem seu aspecto de pesquisa e desenvolvimento, o de relações externas e o de geração de produtos
e serviços", afirma o engenheiro
Otavio Durão, do Inpe (Instituto
Nacional de Pesquisas Espaciais),
órgão do MCT (Ministério da
Ciência e Tecnologia) responsável
pela execução da porção brasileira do projeto. "O Cbers-2B parece
visar só os dois últimos, ou seja,
continuar a cooperação com a
China e evitar a descontinuidade
da geração de imagens."
Por isso, segundo Durão, sua
execução não deveria depender
necessariamente de recursos saídos do Ministério da Ciência e
Tecnologia, que poderiam ser
empregados em projetos com
maior grau de inovação. "Esses
recursos poderiam ir não só para
os satélites científicos, mas também para o desenvolvimento de
lançadores mais qualificados,
com propulsão líquida, experimentos brasileiros para a ISS [Estação Espacial Internacional], novos projetos e pesquisas visando
satélites geoestacionários."
Atualmente, o projeto do Cbers
é o principal ramo de investimento na área de satélites dentro do
programa espacial brasileiro. Mas
há três satélites científicos, também desenvolvidos pelo Inpe, que
consomem recursos para a continuidade de seu desenvolvimento.
São eles o Equars (Satélite de
Pesquisa Atmosférica Equatorial,
na sigla em inglês), o Mirax (Monitor e Imageador de Raios X, a
ser usado para estudos astrofísicos) e o MCE (Monitor de Clima
Espacial), satélite que trabalharia
numa constelação composta por
dois outros artefatos espaciais,
um russo e um ucraniano.
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