São Paulo, sexta-feira, 22 de outubro de 2010

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Criador de 1º vírus sintético vê risco de uso para bioterrorismo

Cientista diz que terroristas podem montar ataques biológicos

DENISE MENCHEN
DO RIO

Responsável pelo desenvolvimento do primeiro vírus sintético, em 2002, o alemão radicado nos EUA Eckard Wimmer vê com otimismo e apreensão a biologia sintética, que em maio resultou na primeira bactéria criada em laboratório.
Para ele, as pesquisas irão levar a importantes avanços na área da saúde, da terapia genética e da bioenergia, mas não há garantias de que a técnica não seja usada por grupos mal intencionados.
"Ainda é uma tarefa difícil sintetizar um vírus como o da varíola, mas alguns grandes laboratórios já são capazes de fazê-lo. Um governo hostil com dinheiro suficiente poderia fazer o mesmo", disse o pesquisador da Universidade Stony Brook após palestra na Fiocruz, no Rio, ontem.
Wimmer também considera factível que grupos terroristas possam encomendar fragmentos de DNA para, com base nos sequenciamentos genéticos disponíveis na internet, montar vírus para ataques biológicos.
Ele ressaltou, porém, que os principais laboratórios com capacidade de sintetizar DNA submetem os pedidos a uma análise criteriosa.
Apesar dos riscos, o pesquisador é otimista. Oito anos após criar em laboratório o vírus da poliomielite, ele trabalha na recodificação do genoma desse organismo para a criação de variantes atenuadas do vírus, que darão mais segurança à produção de vacinas contra a doença.
Para ele, essa recombinação do genoma é o campo da biologia sintética que deve trazer mais avanços para a área da saúde.
"A Organização Mundial da Saúde não quer que a vacina seja feita de um vírus que está erradicado. Eles querem novas cepas, atenuadas, mas com as mesmas propriedades para gerar as vacinas", explica.
Isso evita que, no caso de um vazamento no local da produção, saiam pelo esgoto vírus perigosos.
Na avaliação do pesquisador, porém, a técnica não permite criar um vírus ou uma bactéria totalmente novos. "O que Craig Venter fez ao criar uma bactéria sintética é extremamente difícil e abre um caminho para modificá-las, mas não vai criar novas formas de vida", disse.
Para Wimmer, o pesquisador apenas implantou o genoma criado em laboratório em uma célula já existente, que teve seu genoma totalmente retirado.
"Isso só funcionou porque havia milhares de proteínas indispensáveis para o processo. E sintetizar essas proteínas é incrivelmente complicado", conclui.


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