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Dinossauro usava veneno como cobra, indica fóssil chinês
Coberto de penas e com tamanho de peru, ele usaria dentes sulcados e glândula especializada para tontear suas presas
Método é semelhante ao de
certas serpentes e lagartos
modernos; especialista em
répteis venenosos, contudo,
faz ressalva a conclusões
RICARDO BONALUME NETO
REINALDO JOSÉ LOPES
DA REPORTAGEM LOCAL
O nome científico do bicho é
Sinornithosaurus, mas talvez
fosse mais apropriado chamá-lo de serpente emplumada.
Trata-se de um dinossauro do
tamanho de um peru, coberto
de penas e, segundo uma nova
pesquisa, capaz de dar mordidas envenenadas em suas presas, como fazem as cobras hoje.
A hipótese, que é quase como
imaginar uma ave venenosa (já
que o Sinornithosaurus é um
parente muito próximo das
aves modernas), está sendo
proposta pelo grupo de David
Burnham, da Universidade do
Kansas em Lawrence (EUA),
na edição desta semana da revista científica "PNAS".
Burnham e companhia notaram, em primeiro lugar, que a
espécie possui uma série de ranhuras, ou sulcos, nos dentes
de cima. Descreveram também
uma cavidade no crânio, ideal
para armazenar uma glândula
produtora de peçonha, que eles
batizaram de "fossa subfenestral" (veja quadro acima, à dir.).
A ideia é que, em vez de injetar diretamente o veneno na
corrente sanguínea da vítima, o
dinossauro emplumado apenas
fazia as toxinas escorrerem pela parte de fora dos dentes
quando mordia suas vítimas. O
líquido era canalizado pelos
sulcos e acabava parando na
corrente sanguínea das presas.
É um sistema que lembra o utilizado por certas serpentes
atuais, como as cobras-d'água e
as cobras-verdes. Alguns lagartos também usam essa tática.
"A razão para a peçonha não
é simples. Ela pode ser usada
para caçar, para subjugar a presa, mas também pode ser uma
forma de facilitar a digestão.
Veja o caso das iguanas, por
exemplo. Elas não usam a sua
peçonha, mas ainda assim têm
glândulas para produzi-la", disse Burnham à Folha.
Velho conhecido
O Sinornithosaurus, que tem
cerca de 130 milhões de anos,
foi descrito em 1999 por Xing
Xu, do Instituto de Paleontologia de Vertebrados e Paleoantropologia de Pequim, em 1999.
Xu, porém, não o identificou
como peçonhento. Burnham e
mais três colegas dos EUA e da
China analisaram o fóssil original, bem como outros espécimes, e concluíram que a forma
dos dentes e a fossa subfenestral indicaria o uso de veneno.
"Ainda não discutimos o artigo com Xu, mas outros cientistas chineses concordam conosco", diz Burnham. O grupo especula que a mordida do dinossauro não tinha potência para
matar a presa de cara, mas deixava o bicho ferido em estado
de choque, o que facilitava o
golpe de misericórdia. Isso teria sido especialmente útil para
caçar pequenas aves (já então
presentes), propõem eles.
A pedido da Folha, o biólogo
Leonardo de Oliveira, especialista na anatomia produtora de
veneno das serpentes, avaliou o
estudo na "PNAS". "Ultimamente virou moda identificar
veneno em vários bichos. A hipótese deles é interessante,
mas me parece algo frágil", diz
Oliveira, que trabalha no Museu de Zoologia da USP e é doutorando da Unesp de Rio Claro.
Um detalhe importante, explica ele, é a própria presença
de sulcos ou "canaletas" supostamente condutores de veneno
nos dentes do Sinornithosaurus. "A questão é que aparecem
sulcos em vários dentes do animal. Mas, nas serpentes modernas com as quais ele é comparado, em geral esses sulcos
estão restritos a um ou dois
dentes que ajudam a conduzir o
veneno, embora isso varie bastante", afirma Oliveira.
Para ele, a própria presença
da fossa subfenestral não é suficiente para comprovar a existência de uma glândula produtora de veneno. "É muito difícil
ter certeza disso trabalhando
com um animal extinto", diz.
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