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Periscópio
Asfixia e extinção da vida
José Reis
especial para a Folha
Ao longo da história geológica têm-se
registrado episódios de extinção
maciça de espécies vivas. A mais conhecida e estudada é a que ocorreu no limite
entre os períodos Cretáceo e Terciário,
quando desapareceu um quarto das espécies, inclusive muitos dos dinossauros.
A extinção do Cretáceo-Terciário tem
inspirado muitas tentativas de explicação. A mais recente e provável é a de Luís
e Walter Alvarez, que formularam a hipótese do impacto de gigantesco meteorito há 65 milhões de anos e a justificaram pelo encontro de irídio, abundante
naquelas estruturas, na linha que separa
os dois períodos.
Embora seja a mais conhecida das extinções, essa não foi todavia a maior.
Muito mais intensa foi a ocorrida na passagem do Permiano para o Triássico, há
150 milhões de anos, a qual varreu da
Terra 96% de todas as espécies. Há uns
150 anos essa extinção foi escolhida como limite entre aqueles dois períodos.
Os debates sobre a extinção do Cretáceo-Terciário continuam, mas agora os
palentologistas dão mais atenção ao fenômeno que aconteceu na linha Permiano-Triássico. Tudo indica que se tratou
mesmo de alteração que perturbou subitamente (em termos ecológicos) uma
biosfera que se mostrava estável.
O mundo era então muito diferente de
hoje. Quase todos os continentes estavam unidos num supercontinente, a
Pangéia, que se estendia de um pólo a
outro. No lado oposto ficava o oceano
Pantalasso, que ocupava 220 em torno
do globo, 90 a mais do que os cobertos
pelo atual oceano Pacífico. Na sua parte
oriental, a Pangéia formava enorme concavidade preenchida pelo mar de Tétis,
quente e tropical. O desaparecimento
das espécies ocorreu durante os últimos
10 milhões de anos do Permiano.
Outra característica do fim do Permiano foi o recuo dos oceanos em relação às
massas continentais, de maneira que todo o oceano se transformou em mar raso, onde a vida marinha se concentrou,
deixando abundância de fósseis. Ao
mesmo tempo em que os mares recuaram, a área terrestre aumentou, mas os
fósseis aí encontrados são relativamente
escassos. Havia, entretanto, abundante
fauna, que vivia em nichos ecológicos semelhantes aos atuais.
Têm surgido várias tentativas de explicação para tão grave desastre, mas, em
geral, elas não têm resistido às críticas,
porque só se aplicam à vida marinha, e
não à terrestre. Recentemente, Paul Wignall apresentou a explicação que parece
ser a melhor. Baseia-se na distribuição
dos isótopos 12 e 13 do carbono e na
exaustão do oxigênio da atmosfera.
Os átomos do carbono existem em
duas formas estáveis, ou isótopos, de pesos 12 e 13. O carbono orgânico (seres vivos e seus resíduos) contém mais C leve.
Quando proliferam na Terra, as plantas e
os animais retêm mais isótopo 12, de maneira que o registro das proporções dos
dois elementos indica como se desenvolveu a vida na história geológica. Cientistas verificaram que, na fronteira Permiano-Triássico, ocorreram fortes alterações e a proporção do carbono 12 aumentou rapidamente. A única explicação plausível dessa mudança é a oxidação de grande proporção de carvão e xisto, devolvendo carbono 12 à superfície
terrestre e à atmosfera.
Com a baixa do nível dos oceanos,
grandes áreas de terra, outrora suboceânicas, vieram à tona e passaram a sofrer
oxidação, aumentando o teor de bióxido
de carbono, em detrimento do oxigênio.
O teor deste teria baixado a níveis incompatíveis com a vida, que teria sido
suprimida por asfixia. Fenômeno semelhante teria acontecido com a vida marinha porque a água, que teria subido novamente, e de maneira muito rápida, era
anóxica, isto é, sem oxigênio suficiente.
Resta ainda explicar a baixa do nível dos
oceanos seguida por uma rápida elevação, do Permiano para o Triássico.
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