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MEDICINA
Resultados em camundongos são promissores e podem levar a futuros tratamentos para derrame e dano na coluna
Nanomatriz ajuda a regenerar neurônios
SALVADOR NOGUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
O cérebro é bom em muitas coisas, mas, esoterismos à parte, não
tem o dom da autocura. Felizmente, até isso a ciência pensa
que pode resolver. Um grupo nos
Estados Unidos concebeu uma
saída de engenheiro civil para
contornar o problema, com "mini-andaimes" capazes de servir de
apoio estrutural para que o tecido
neural possa ser reconstruído.
Espera-se que no futuro a estratégia possa ser usada para tratar
derrames e outros problemas
neurológicos, como danos à medula espinhal. Por ora, só começou a beneficiar camundongos.
Os primeiros resultados, divulgados hoje eletronicamente pela
revista norte-americana "Science" (www.sciencexpress.org), relatam sucesso com experimentos
in vitro com células de camundongo. Mas, enquanto as publicações científicas ainda estão vindo
com a farinha, os pesquisadores já
estão voltando com o bolo.
"Neste momento, enquanto falamos, o laboratório do professor
Stupp está realizando experimentos com animais", revela Gabriel
Silva. Canadense com ancestrais
uruguaios que hoje trabalha na
Universidade da Califórnia em
San Diego, Silva é o primeiro autor do estudo, coordenado por
Samuel Stupp, da Universidade
Northwestern, em Chicago.
Sucessos iniciais
"Os primeiros resultados são
promissores", ele prossegue. "São
ainda bem preliminares, não publicamos nada ainda, mas são
promissores." O trabalho está
sendo feito com camundongos,
nos quais é injetada a substância
desenvolvida pelos cientistas.
Trata-se de um conjunto de
peptídeos (pedaços de proteínas,
as peças básicas do metabolismo e
da constituição dos seres vivos)
que se organiza sozinho, formando uma matriz. Nesse gel são afixadas células precursoras (linhagens indiferenciadas, capazes de
se transformarem em neurônios).
O contato com o andaime de
peptídeos não só oferece suporte
estrutural para que as células se
distribuam adequadamente, em
três dimensões, mas também as
estimula a se diferenciar no tipo
certo de célula nervosa.
A incapacidade do cérebro de se
regenerar é justamente o que torna intratáveis muitas das doenças
do sistema nervoso. Segundo Silva, quando há um dano, as células
gliais (tipo celular mais comum
do cérebro, com dez delas para
cada neurônio) tentam isolar a região danificada, o que acaba inibindo a formação de neurônios. A
matriz desenvolvida pelo grupo
contorna a deficiência estimulando a diferenciação das células precursoras em neurônios, mas não
em células gliais.
Força de conjunto
"Já há pesquisadores trabalhando com formas de dar apoio estrutural, de estimular a diferenciação das células precursoras,
mas o grande destaque do nosso
conjunto é combinar os três fatores -apoio estrutural, estímulo a
diferenciação e auto-organização- numa coisa só", diz Silva.
O pesquisador adverte que aplicações médicas não são para já. "É
difícil de prever, mas vai levar um
tempo até que passemos do estágio de pesquisa com animais."
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