São Paulo, sexta-feira, 23 de janeiro de 2004

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MEDICINA

Resultados em camundongos são promissores e podem levar a futuros tratamentos para derrame e dano na coluna

Nanomatriz ajuda a regenerar neurônios

SALVADOR NOGUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

O cérebro é bom em muitas coisas, mas, esoterismos à parte, não tem o dom da autocura. Felizmente, até isso a ciência pensa que pode resolver. Um grupo nos Estados Unidos concebeu uma saída de engenheiro civil para contornar o problema, com "mini-andaimes" capazes de servir de apoio estrutural para que o tecido neural possa ser reconstruído.
Espera-se que no futuro a estratégia possa ser usada para tratar derrames e outros problemas neurológicos, como danos à medula espinhal. Por ora, só começou a beneficiar camundongos.
Os primeiros resultados, divulgados hoje eletronicamente pela revista norte-americana "Science" (www.sciencexpress.org), relatam sucesso com experimentos in vitro com células de camundongo. Mas, enquanto as publicações científicas ainda estão vindo com a farinha, os pesquisadores já estão voltando com o bolo.
"Neste momento, enquanto falamos, o laboratório do professor Stupp está realizando experimentos com animais", revela Gabriel Silva. Canadense com ancestrais uruguaios que hoje trabalha na Universidade da Califórnia em San Diego, Silva é o primeiro autor do estudo, coordenado por Samuel Stupp, da Universidade Northwestern, em Chicago.

Sucessos iniciais
"Os primeiros resultados são promissores", ele prossegue. "São ainda bem preliminares, não publicamos nada ainda, mas são promissores." O trabalho está sendo feito com camundongos, nos quais é injetada a substância desenvolvida pelos cientistas.
Trata-se de um conjunto de peptídeos (pedaços de proteínas, as peças básicas do metabolismo e da constituição dos seres vivos) que se organiza sozinho, formando uma matriz. Nesse gel são afixadas células precursoras (linhagens indiferenciadas, capazes de se transformarem em neurônios).
O contato com o andaime de peptídeos não só oferece suporte estrutural para que as células se distribuam adequadamente, em três dimensões, mas também as estimula a se diferenciar no tipo certo de célula nervosa.
A incapacidade do cérebro de se regenerar é justamente o que torna intratáveis muitas das doenças do sistema nervoso. Segundo Silva, quando há um dano, as células gliais (tipo celular mais comum do cérebro, com dez delas para cada neurônio) tentam isolar a região danificada, o que acaba inibindo a formação de neurônios. A matriz desenvolvida pelo grupo contorna a deficiência estimulando a diferenciação das células precursoras em neurônios, mas não em células gliais.

Força de conjunto
"Já há pesquisadores trabalhando com formas de dar apoio estrutural, de estimular a diferenciação das células precursoras, mas o grande destaque do nosso conjunto é combinar os três fatores -apoio estrutural, estímulo a diferenciação e auto-organização- numa coisa só", diz Silva.
O pesquisador adverte que aplicações médicas não são para já. "É difícil de prever, mas vai levar um tempo até que passemos do estágio de pesquisa com animais."


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