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Palha de trigo pode ser usada em peças de carro
Cientista brasileiro substitui materiais não-renováveis por resíduo da agricultura
Pesquisa mostra que a palha de trigo reduz o peso do veículo e custo de produção; estudo foi realizado na Universidade de Waterloo
AFRA BALAZINA
ENVIADA ESPECIAL AO CANADÁ
A palha do trigo pode, em
breve, passar a fazer parte de
peças de veículos e substituir
materiais não-renováveis obtidos por meio da mineração.
Pesquisas do brasileiro Leonardo Simon, professor da área
de engenharia química na Universidade de Waterloo, no Canadá, mostram que a palha é
uma alternativa viável ao uso
de carbonato de cálcio, talco e
mica. Para ser utilizada nos carros, ela é transformada num pó
e, depois, é misturada com polipropileno (plástico). E pode
formar peças tanto para a parte
interna quanto para a externa
dos automóveis.
"A palha hoje não tem valor
para agricultura, só se usa a
parte de cima da planta e o restante é resíduo. Então, porque a
gente vai gastar energia para
minerar se pode colher a palha
de trigo?", indaga Simon. O
pesquisador acredita que os
produtos feitos com o material
podem se tornar competitivos
em cerca de três anos.
Segundo ele, a palha de trigo
reduz o peso da peça e funciona
também para dar volume. Alguns dados da pesquisa são sigilosos, entretanto ele dá pistas
dos benefícios observados.
"Em alguns processos, consegue-se reduções significativas no peso da peça. E, quando
o veículo fica mais leve, economiza combustível", afirma.
Ele está otimista também
com uma diminuição dos custos, e sugere que a economia
deve ser de mais de 10%. Se fosse de menos de 10%, diz Simon,
as pessoas se perguntariam se
valeria a pena fazer a troca.
Desafios
Para entrar no mercado é
preciso atender a uma série de
especificações das montadoras.
A maioria delas já foi avaliada e
passou no teste.
Mas ainda há desafios, como
o fornecimento da palha para
atender a esse mercado. "É preciso recolher o trigo que foi deixado na plantação, fazer o fardo, levar para uma indústria,
transformar em pó." Caso ocorra um atraso na entrega, o prejuízo para a montadora é alto
-e será cobrado do fornecedor.
O brasileiro tem realizado
pesquisa semelhante com a palha da soja. Porém, está em estágio menos avançado.
Os estudos fazem parte do
projeto BioCar, que integra
quatro universidades canadenses. O projeto é financiado pelas universidades, pela Província de Ontário e por empresas
-entre elas a Ford, que contribuiu com 2 milhões de dólares
canadenses para o programa.
A jornalista viajou a convite do Ministério das
Relações Exteriores do Canadá
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