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ARQUEOLOGIA
Estudo de artefatos com infravermelho permite leitura de material desconhecido em papiros da Antigüidade
Técnica resgata textos perdidos da Grécia
Universidade de Oxford/Egypt Exploration Society
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Fragmentos de manuscritos, de Heródoto (esquerda), o homem que cunhou o termo "história", e do poeta grego Arquíloco, ambos descobertos em Oxyrhynchus
DAVID KEYS
NICHOLAS PYKE
DO "INDEPENDENT"
Por mais de um século, ela causou empolgação e frustração em
igual medida: uma coleção de escritos gregos e romanos tão vasta
que poderia redesenhar o mapa
da civilização clássica. Que bom
seria se fosse legível.
Agora, num avanço descrito como o equivalente clássico de encontrar o cálice sagrado, cientistas
da Universidade de Oxford, no
Reino Unido, empregaram tecnologia de infravermelho para revelar os tesouros dos papiros de
Oxyrhynchus e com isso abrir a
perspectiva de que centenas de
comédias, tragédias e poemas
épicos gregos sejam finalmente
revelados em breve.
Só ao longo das últimas duas semanas, os estudiosos de Oxford
os usaram para fazer uma série de
descobertas estonteantes, incluindo textos de Sófocles, Eurípedes,
Hesíodo e outros gigantes literários do mundo antigo, perdidos
por milênios. Eles até acreditam
que irão encontrar evangelhos
cristãos perdidos, originais escritos na mesma época em que os livros mais antigos do Novo Testamento foram redigidos.
Os papiros originais, descobertos num depósito de lixo no Egito
central, são muitas vezes insignificantes a olho nu -decompostos,
comidos por vermes e fortemente
escurecidos pela passagem do
tempo. Mas cientistas usando
uma nova técnica fotográfica, desenvolvida originalmente para
imagens de satélite, estão trazendo os antigos escritos de volta.
Os acadêmicos acreditam que o
desenvolvimento pode levar a um
aumento de 20% no número de
trabalhos gregos e romanos conhecidos. Alguns estão até prevendo o surgimento de uma "segunda Renascença".
Sorte grande
Christopher Pelling, professor
régio de grego na Universidade de
Oxford, descreveu os novos trabalhos como "textos fundamentais sobre os quais acadêmicos
têm especulado durante séculos".
Richard Janko, um famoso acadêmico britânico, antes no University College de Londres, agora
chefe de departamento na Universidade de Michigan (Estados
Unidos), disse: "Normalmente,
temos a sorte de achar um desses
por década". Uma descoberta em
particular, uma passagem de 30 linhas do poeta Arquíloco, de
quem apenas 500 linhas sobreviveram no total, é descrita como
"valiosa" por Peter Jones, autor e
co-fundador da campanha Amigos dos Clássicos.
Os fragmentos de papiros foram descobertos na cidade greco-egípcia de Oxyrhynchus ("cidade
do peixe de ponta afiada"), no
Egito central, no final do século
19. Contendo 400 mil fragmentos,
guardados em 800 caixas na Biblioteca Sacker, de Oxford, é o
maior tesouro de manuscritos
clássicos no mundo.
Poemas e tragédias
Os textos antes desconhecidos,
lidos pela primeira vez na semana
passada, incluem partes de uma
tragédia há muito perdida -a
"Epígonoi" ("Descendentes"), escrita por Sófocles -dramaturgo
mais famoso por sua tragédia
"Édipo Rei"-, no século 5º a.C;
parte de um romance perdido do
escritor grego Luciano, do século
2 d.C.; material desconhecido de
Eurípedes; poesia mitológica do
poeta grego do século 1º a.C. Partênio; trabalho do poeta Hesíodo,
do século 7 a.C.; um poema épico
de Arquíloco, um sucessor de Homero pertencente ao século 7º
a.C., que descreveu os eventos que
levaram à Guerra de Tróia. Materiais adicionais de Hesíodo, Eurípedes e Sófocles quase com certeza ainda serão descobertos.
Os acadêmicos de Oxford estão
trabalhando lado a lado com especialistas de infravermelho da
Universidade Brigham Young,
em Utah (EUA). Sua operação deve aumentar o número de trabalhos literários parcial ou totalmente recuperados do mundo
grego antigo em um quinto. Poderia facilmente dobrar o corpo
de trabalhos menores -os livros
populares e as comédias de situação daquela época.
A técnica criada pelos pesquisadores para revelar o conteúdo dos
papiros foi desenvolvida a partir
de tecnologias de satélite. Os fragmentos, preservados entre camadas de vidro, são visualizados na
freqüência do infravermelho -a
tinta que é invisível a olho nu, nessas freqüências, é visível e pode
ser fotografada.
Os fragmentos formam parte de
um gigantesco quebra-cabeças
que precisa ser remontado. As
"peças" faltantes podem ser fornecidas por citações de autores
posteriores e por detalhadas análises gramáticas.
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