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Acordo propõe legalizar a caça às baleias
Comissão sugere legitimar a atividade de baleeiros japoneses em troca de redução no número de animais arpoados
Proposta articulada pelos EUA colocaria o Japão sob a fiscalização de um órgão internacional, mas tem sido criticada por ambientalistas
RAFAEL GARCIA
REINALDO JOSÉ LOPES
DA REPORTAGEM LOCAL
A próxima reunião da Comissão Internacional da Baleia
(CIB) vai discutir um acordo
que pode legitimar a atividade
de países que capturam esses
mamíferos marinhos, após 25
anos de moratória à caça comercial. Articulada pelos EUA
e pela presidência da entidade,
a proposta tem como alvo o Japão, nação que mais mata esses
cetáceos hoje, mas alega fazê-lo
com fim científico. A intenção é
dar uma cota oficial de caça aos
japoneses, os quais, em troca,
aceitariam reduzir o número
de animais mortos e se abririam à fiscalização.
"Como resultado disso, vários milhares de baleias a menos seriam mortos no período
do acordo", disse ontem em comunicado o presidente da CIB,
o chileno Cristián Maquieira,
que defende uma vigência inicial de dez anos para as regras.
A proposta lançada mantém
só oficialmente a moratória,
mas dá à CIB o poder limitar a
cota de caça de todos os países.
A fiscalização seria feita com
amostras de DNA para rastrear
o destino da carne dos animais,
e aborígenes continuariam podendo caçar para subsistência.
O pré-acordo, por enquanto,
foi discutido só a portas fechadas por um grupo de 12 países,
que inclui o Brasil, sem consenso. O debate aberto só vai ocorrer no próximo encontro dos 88
países da CIB, que começa dia
30 de maio em Marrocos.
Apesar de, na prática, permitir uma redução real no número de baleias mortas, a mera sugestão abrir margem legal à caça comercial tem recebido críticas pesadas de ambientalistas. "A proposta de acordo é
muito ruim", diz José Truda
Jr., que participa de um grupo
de ONGs latinoamericanas que
critica Maquieira. "Não é hora
de recompensar o Japão institucionalizando suas capturas."
O governo do Brasil ainda
não tem uma posição sobre a
proposta, e deve assumi-la só
depois da discussão com outros
países da América Latina, que
votam em bloco para ganhar
peso diplomático na CIB.
"Vamos ver o que é possível
ter de entendimento, mas o
Brasil é muito claramente a favor da moratória e contra a caça
no santuário [do oceano Austral]", diz Fábio Pitaluga, representante do país na comissão.
Hoje, o Japão anuncia unilateralmente sua cota anual de
caça "científica", que supera
mil baleias, a maioria delas da
espécie minke do oceano Austral. A carne desses animais,
porém, é vendida sem restrição
em território japonês. Os outros países que praticam caça
industrial são Noruega e Islândia, mas nenhum dos dois assinou a moratória de 1986.
Não está claro, porém, qual
preço os países conservacionistas estão dispostos a pagar para
aceitar endossar a caça japonesa. A agência de notícias Kyodo
noticia que o Japão proporá reduzir sua cota máxima de baleias-minkes do oceano Austral
de 935 a 440. Neste ano, o país
saiu com o objetivo de arpoar
pelo menos 765 animais, mas
só conseguiu atingir 507, por
causa das ações da ONG ambientalista Sea Shepherd.
É difícil saber quantos animais precisariam ser salvos para manter a população num nível seguro. Segundo Alexandre
Zerbini, biólogo do comitê
científico da CIB, o número de
baleias-minkes no oceano Austral foi estimado em 700 mil no
início da década de 1990, mas
caiu para 300 mil nos anos
2000. Não está claro se foi pela
caça. "Qualquer coisa que você
puder fazer para diminuir a
captura é bom", diz Zerbini sobre a tentativa de acordo.
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