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ASTROBIOLOGIA
Pesquisa analisou 64 crateras em Europa
Paul Schenk/Instituto Lunar e Planetário
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A lua Europa, com destaque para uma das crateras estudadas |
Camada de gelo de 19 quilômetros esconde oceano de lua de Júpiter
SALVADOR NOGUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Um cientista alienígena chegando ao Sistema Solar após uma
longa viagem interestelar se desapontaria ao passar por Júpiter.
Ansioso por coletar as primeiras
amostras de vida daquela região
do espaço, ele vibra quando seus
instrumentos detectam oceanos
em três luas do planeta, Calisto,
Ganimedes e Europa. Mas logo
vem a decepção: eles estão sob dezenas de quilômetros de gelo.
A triste constatação desse alienígena hipotético é a mesma de
Paul Schenk, um geólogo do Instituto Lunar e Planetário, no Texas (EUA). Estudando cerca de
240 crateras nas três luas, ele descobriu que as camadas de gelo
que recobrem os oceanos são
enormes, diluindo as expectativas
de que humanos (ou ETs) possam
prospectar as águas na esperança
de localizar formas de vida.
Desde os primeiros dados fornecidos pela sonda Galileo, dos
EUA, que chegou a Júpiter em
1995, já se imaginava a existência
de um oceano sob a superfície dos
três satélites. A sonda detectou
uma oscilação dos pólos magnéticos das luas, efeito que só se explicaria por uma massa de água salgada envolvendo todo o astro.
Apesar do frio, a água poderia
se manter em estado líquido sob o
gelo pelo atrito gerado a partir do
efeito de marés induzidas por Júpiter -o maior dos planetas do
sistema. No caso de Ganimedes e
Calisto, os cientistas já esperavam
que a crosta de gelo fosse enorme.
Em Europa, havia a esperança de
que ela pudesse ser fina a ponto
de dar acesso ao oceano.
Infelizmente, Schenk acaba de
demonstrar que, até em Europa,
de onde ele analisou 64 crateras, o
oásis é mais embaixo. A conclusão, publicada na revista "Nature", é de que o oceano europano
começa após um bloco de gelo
com 19 a 25 km de espessura. A
estimativa anterior, do ano passado, dizia que esse número seria de
4 km. Em Ganimedes e Calisto, o
valor fica em pelo menos 80 km.
"Nosso valor era apenas uma
estimativa mínima", diz Elizabeth
Turtle, da Universidade do Arizona, autora do estudo que dava o
número anterior. "Conheço o trabalho de Paul e acho que seus resultados são bem sólidos."
Com isso, a perspectiva de submarinos e escavadeiras trabalhando avidamente para coletar
bactérias alienígenas em Europa
vai pelo ralo. "É verdade, eles seriam impraticáveis", diz Schenk.
"Mas não são os únicos meios de
explorar o oceano", alenta.
Segundo o geólogo, uma nave na superfície poderia "ouvir" as ondas sísmica de Europa, confirmando a posição do oceano.
"Uma sonda também poderia analisar a superfície para procurar traços da composição do oceano e de quaisquer criaturas nadando nele", afirma.
O primeiro passo, entretanto,
seria outro. "A Galileo tem 25 anos! A primeira coisa seria enviar uma missão orbital com instrumentos avançados para procurar locais de pouso com química interessante", diz Schenk.
Uma coisa é certa: Europa não deve ser esquecida. Embora o
oceano esteja bem enterrado, a vida pode ter florescido do mesmo
jeito. "Enquanto há água líquida, o potencial é bem alto."
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