São Paulo, quinta-feira, 23 de maio de 2002

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ASTROBIOLOGIA

Pesquisa analisou 64 crateras em Europa

Paul Schenk/Instituto Lunar e Planetário
A lua Europa, com destaque para uma das crateras estudadas


Camada de gelo de 19 quilômetros esconde oceano de lua de Júpiter

SALVADOR NOGUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Um cientista alienígena chegando ao Sistema Solar após uma longa viagem interestelar se desapontaria ao passar por Júpiter. Ansioso por coletar as primeiras amostras de vida daquela região do espaço, ele vibra quando seus instrumentos detectam oceanos em três luas do planeta, Calisto, Ganimedes e Europa. Mas logo vem a decepção: eles estão sob dezenas de quilômetros de gelo.
A triste constatação desse alienígena hipotético é a mesma de Paul Schenk, um geólogo do Instituto Lunar e Planetário, no Texas (EUA). Estudando cerca de 240 crateras nas três luas, ele descobriu que as camadas de gelo que recobrem os oceanos são enormes, diluindo as expectativas de que humanos (ou ETs) possam prospectar as águas na esperança de localizar formas de vida.
Desde os primeiros dados fornecidos pela sonda Galileo, dos EUA, que chegou a Júpiter em 1995, já se imaginava a existência de um oceano sob a superfície dos três satélites. A sonda detectou uma oscilação dos pólos magnéticos das luas, efeito que só se explicaria por uma massa de água salgada envolvendo todo o astro.
Apesar do frio, a água poderia se manter em estado líquido sob o gelo pelo atrito gerado a partir do efeito de marés induzidas por Júpiter -o maior dos planetas do sistema. No caso de Ganimedes e Calisto, os cientistas já esperavam que a crosta de gelo fosse enorme. Em Europa, havia a esperança de que ela pudesse ser fina a ponto de dar acesso ao oceano.
Infelizmente, Schenk acaba de demonstrar que, até em Europa, de onde ele analisou 64 crateras, o oásis é mais embaixo. A conclusão, publicada na revista "Nature", é de que o oceano europano começa após um bloco de gelo com 19 a 25 km de espessura. A estimativa anterior, do ano passado, dizia que esse número seria de 4 km. Em Ganimedes e Calisto, o valor fica em pelo menos 80 km.
"Nosso valor era apenas uma estimativa mínima", diz Elizabeth Turtle, da Universidade do Arizona, autora do estudo que dava o número anterior. "Conheço o trabalho de Paul e acho que seus resultados são bem sólidos."
Com isso, a perspectiva de submarinos e escavadeiras trabalhando avidamente para coletar bactérias alienígenas em Europa vai pelo ralo. "É verdade, eles seriam impraticáveis", diz Schenk. "Mas não são os únicos meios de explorar o oceano", alenta.
Segundo o geólogo, uma nave na superfície poderia "ouvir" as ondas sísmica de Europa, confirmando a posição do oceano. "Uma sonda também poderia analisar a superfície para procurar traços da composição do oceano e de quaisquer criaturas nadando nele", afirma.
O primeiro passo, entretanto, seria outro. "A Galileo tem 25 anos! A primeira coisa seria enviar uma missão orbital com instrumentos avançados para procurar locais de pouso com química interessante", diz Schenk.
Uma coisa é certa: Europa não deve ser esquecida. Embora o oceano esteja bem enterrado, a vida pode ter florescido do mesmo jeito. "Enquanto há água líquida, o potencial é bem alto."



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