São Paulo, sexta-feira, 23 de maio de 2008

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Jejum durante viagem pode curar "jet lag"

Solução surgiu de experimento com roedores que desvendou novo mecanismo de relógio biológico

RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL

Um grupo de cientistas que publica hoje um estudo sobre um novo tipo de relógio biológico do organismo -ligado à hora das refeições- já sugere uma aplicação prática de sua descoberta. Ao mudar o horário de suas refeições, afirmam, um passageiro de avião pode evitar os desconfortos da mudança brusca de zonas horárias, o chamado "jet lag".
A solução sugerida pelo principal autor da pesquisa, porém, poderá não agradar a muitos: ficar sem comer nada durante um vôo de onze ou doze horas, para só comer na chegada.
O principal relógio biológico do corpo funciona à base de luz, em um ritmo chamado circadiano ou dia-noite. Seu mecanismo biológico consiste em um conjunto de células na região do cérebro chamada hipotálamo que recebe e interpreta sinais sobre o ciclo de luz-escuro por meio da visão.
Um grupo de células nervosas recebe os sinais e transmite a outro grupo próximo, que organiza as atividades básicas do organismo, como o ciclo vigília-sono, e a busca de comida.
O estudo, que sai na edição de hoje da revista "Science", é assinado por Clifford Saper, Patrick Fuller e Jun Lu, da Escola Médica da Universidade Harvard, de Cambridge (EUA).
O trabalho mostra experimentos com um gene vinculado ao relógio, o BMAL1, que foi "desligado". Os roedores perderam o ritmo circadiano.
Depois, os cientistas reinseriram o gene faltante em diferentes regiões do cérebro, usando vírus alterados, e "consertaram" pedaços do relógio.
O objetivo foi testar o papel da busca de comida na regulagem do relógio, pois, na ausência de comida nos horários tradicionais de refeição, o animal precisa se adaptar à alimentação em horários em que normalmente estaria dormindo.
"Nós descobrimos que um único ciclo de falta de comida seguido por realimentação liga o relógio", declarou Saper, líder da pesquisa. Segundo ele, esse processo "seqüestra todos os ritmos circadianos em um novo fuso horário que corresponde à disponibilidade de comida".
Transferindo o resultado para o avião, ele sugere que ficar sem comer por até 16 horas é o melhor remédio para o "jet lag". Saper diz que o relógio biológico tradicional só consegue se ajustar um pouco por dia. O brasileiro que vai ao Japão, por exemplo, pode levar até uma semana para se ajustar.
Segundo o pesquisador, ao "ligar" o segundo relógio, relacionado à comida, a adaptação ao novo fuso é bem mais rápida.


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