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Jejum durante viagem pode curar "jet lag"
Solução surgiu de experimento com roedores que desvendou novo mecanismo de relógio biológico
RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL
Um grupo de cientistas que
publica hoje um estudo sobre
um novo tipo de relógio biológico do organismo -ligado à
hora das refeições- já sugere
uma aplicação prática de sua
descoberta. Ao mudar o horário
de suas refeições, afirmam, um
passageiro de avião pode evitar
os desconfortos da mudança
brusca de zonas horárias, o chamado "jet lag".
A solução sugerida pelo principal autor da pesquisa, porém,
poderá não agradar a muitos: ficar sem comer nada durante
um vôo de onze ou doze horas,
para só comer na chegada.
O principal relógio biológico
do corpo funciona à base de luz,
em um ritmo chamado circadiano ou dia-noite. Seu mecanismo biológico consiste em
um conjunto de células na região do cérebro chamada hipotálamo que recebe e interpreta
sinais sobre o ciclo de luz-escuro por meio da visão.
Um grupo de células nervosas recebe os sinais e transmite
a outro grupo próximo, que organiza as atividades básicas do
organismo, como o ciclo vigília-sono, e a busca de comida.
O estudo, que sai na edição de
hoje da revista "Science", é assinado por Clifford Saper, Patrick Fuller e Jun Lu, da Escola
Médica da Universidade Harvard, de Cambridge (EUA).
O trabalho mostra experimentos com um gene vinculado ao relógio, o BMAL1, que foi
"desligado". Os roedores perderam o ritmo circadiano.
Depois, os cientistas reinseriram o gene faltante em diferentes regiões do cérebro,
usando vírus alterados, e "consertaram" pedaços do relógio.
O objetivo foi testar o papel
da busca de comida na regulagem do relógio, pois, na ausência de comida nos horários tradicionais de refeição, o animal
precisa se adaptar à alimentação em horários em que normalmente estaria dormindo.
"Nós descobrimos que um
único ciclo de falta de comida
seguido por realimentação liga
o relógio", declarou Saper, líder
da pesquisa. Segundo ele, esse
processo "seqüestra todos os
ritmos circadianos em um novo
fuso horário que corresponde à
disponibilidade de comida".
Transferindo o resultado para o avião, ele sugere que ficar
sem comer por até 16 horas é o
melhor remédio para o "jet
lag". Saper diz que o relógio
biológico tradicional só consegue se ajustar um pouco por
dia. O brasileiro que vai ao Japão, por exemplo, pode levar
até uma semana para se ajustar.
Segundo o pesquisador, ao
"ligar" o segundo relógio, relacionado à comida, a adaptação
ao novo fuso é bem mais rápida.
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