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Buraco negro não existe, diz trio de físicos dos EUA
Pesquisadores propõem solução para enigma elaborado por Stephen Hawking
Estudo é debatido há um
ano e passou pelo crivo de
publicação rigorosa; autor
diz que pode testar idéia em
acelerador de partículas
RAFAEL GARCIA
DA REPORTAGEM LOCAL
Um trio de físicos está propondo uma solução inusitada
para um enigma que desafia a
ciência há mais de 30 anos.
Tanto a elaboração do problema quanto a solução oferecida
são bastante complexos, mas o
resultado final de tudo pode ser
resumido de maneira simples:
buracos negros não existem.
A alegação, afirmam seus autores, é a resposta para um
enigma proposto pelo britânico
Stephen Hawking, mais conhecido como autor do livro "Uma
Breve História do Tempo", portador de uma doença neurológica que o deixou paralisado.
A inexistência dos buracos
negros foi proposta por grupo
de físicos da Universidade Case, de Cleveland (EUA), em um
estudo que já está circulando
há alguns meses entre a comunidade de físicos teóricos. Só
agora, porém, o trabalho foi
aceito para publicação em uma
revista com um crivo rigoroso,
a "Physical Review D".
Com 15 páginas cheias de
equações e diagramas, Dejan
Stojkovic, Lawrence Krauss e
Tanmay Vachaspati detalham a
sua proposta de solução para o
que os físicos conhecem como
o "paradoxo da informação". O
problema está ligado à natureza dos buracos negros, objetos
cósmicos tão maciços que sua
gravidade captura tudo o que
está em volta e não deixam escapar nada -nem mesmo a luz.
Segundo a concepção clássica, buracos negros são produzidos quando uma estrela maciça
demais implode. Toda sua massa fica concentrada em um
ponto de dimensão zero, chamado de "singularidade". Nada
que se aproxime além de uma
certa fronteira, chamada de
"horizonte de eventos", escapa
à fome do mostro.
Morte impossível
O problema é que esse conceito entra em conflito com a física quântica, conforme o paradoxo proposto por Hawking em
1974. Segundo ele, um buraco
negro não é um monstro imortal que só faz crescer. Se esses
objetos cósmicos ficarem muito tempo sem nada para engolir, eles acabam perdendo massa na forma de radiação e finalmente morrem. O problema é
que essa morte aniquilaria toda
a informação contida na matéria engolida pelo buraco negro.
Isso vai contra leis básicas da física quântica, segundo a qual a
informação pode ser transformada, mas nunca aniquilada.
Ao propor que buracos negros não existem, o grupo de
Krauss oferece uma solução
para o enigma. "Se estivermos
corretos, nenhuma informação
será perdida ao atravessar o horizonte de eventos de um buraco negro, porque esse horizonte jamais se formaria", disse
Krauss à Folha. "Nós tivemos
um bocado de discussão com
muitos colegas, e muitos deles
estão céticos, mas até agora
ninguém conseguiu oferecer
uma razão definitiva pela qual
isso não esteja correto."
Apesar aceito pela "Phisical
Review", porém, o novo estudo
ainda deve passar pelo crivo da
comunidade científica para
deixar de ser tido como proposta intelectualmente isolada.
Segundo o físico Daniel Vanzella, professor da USP de São
Carlos, não é a primeira vez
que alguém postula a inexistência de buracos negros. Mas,
na maioria das vezes em que isso ocorreu num passado recente, físicos não demoraram a encontrar erros em contas ou
problemas de interpretação
nos estudos. "Na minha opinião, esse trabalho merece uma
análise mais cautelosa", afirma.
"Certamente a comunidade vai
olhar com carinho e cuidado
esse paper [estudo]."
O físico Marcelo Gleiser,
professor do Dartmouth College (EUA) e colunista da Folha,
classificou o novo trabalho como "interessante" e "elegante",
mas "inconclusivo". "Talvez seja um passo na direção certa,
mas falta muito para se concluir se de fato não existe paradoxo de informação", afirmou.
"Como todas as novas idéias
em ciência, ainda é cedo para
concluirmos algo de concreto."
Buraco mais embaixo
Como afinal de contas o grupo de Krauss (também conhecido com autor de livros de
ciência para leigos, como "A física de Jornada nas Estrelas")
conseguiu "destruir" os buracos negros? E que são, afinal, os
objetos escuros e maciços que
os astrônomos acreditam ser
buracos negros?
"Estamos propondo que objetos colapsados que parecem
ser buracos negros nascentes,
na verdade, não vão se contrair
além de seus próprios horizontes de eventos, e portanto não
se tornarão buracos negros verdadeiros", diz Krauss. Segundo
ele, a matéria concentrada no
local evaporaria toda na forma
de radiação, assim como Hawking previu, só que antes de o
buraco negro se formar. O que
existiria, então, é uma espécie
de "quase-buraco negro".
"Mas nossos resultados são
mesmo sugestivos, não conclusivos", afirma o físico americano. "Mandamos o artigo para o
Stephen [Hawking], mas ele
ainda não respondeu."
Segundo Gleiser, um dos problemas de extrair muitas interpretações do novo artigo é que
os autores usam um modelo
matemático "muito idealizado"
para descrever o colapso de um
estrela, um fenômeno extremamente complexo. "Uma estrela é maciça, e eles pegam um
sistema muito mais simples
que isso, que é como se fosse
uma casca esférica colapsando", diz Vanzella.
Além da simplificação,
Krauss interpretou seus cálculos da perspectiva de um observador externo, para solucionar
um problema ligado à teoria da
relatividade. "Um observador
longe de um objeto em colapso
o veria "congelar" à medida que
começasse a se aproximar do limite de se tornar um buraco
negro", explica. "O relógio de
um observador externo anda
num ritmo diferente daquele
de alguém que está caindo lá."
Segundo os autores, a conclusão poderá ser testada no
LHC, o mega-acelerador de
partículas a ser inaugurado em
2008. Essa maquina será capaz
de produzir minúsculos buracos negros (ou o que quer que
sejam). O tipo de radiação que
emitirem revelará o que são.
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