São Paulo, segunda-feira, 23 de julho de 2007

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Médico francês descobre homem com cérebro "oco"

Caso incomum de hidrocefalia não impediu paciente de levar uma vida normal

Acúmulo de fluido deixou massa cerebral espremida na lateral do crânio; mesmo com QI baixo, homem se casou e arranjou emprego

"The Lancet"
Tomografia mostra vão cheio de fluido no cérebro do paciente


DA REDAÇÃO

Um homem com massa cerebral extremamente pequena conseguiu levar uma vida normal até os 44 anos apesar de sua anomalia, causada pelo acúmulo de fluido no crânio. O caso foi revelado por um grupo de neurologistas franceses em um estudo publicado anteontem pela revista "The Lancet" (www.thelancet.com).
Imagens obtidas por ressonância magnética revelaram que o paciente -o homem fora ao hospital porque sentia fraqueza na perna esquerda- tinha uma parte secundária de seu cérebro exageradamente inflada, deixando pouco espaço para o restante do órgão.
"Ele era casado, pai de duas crianças e trabalhava como funcionário público", escreveu o grupo liderado por Lionel Feuillet, da Universidade do Mediterrâneo, de Marselha. Mesmo tendo levado uma vida normal, o paciente tinha inteligência abaixo da média, obtendo 75 pontos num teste de QI.
"Mesmo com uma pequena desvantagem intelectual, isso não evitou seu desenvolvimento nem o impediu de construir redes sociais", disse Feuillet. O nível médio de QI é de cerca de 100 pontos, e um QI baixo considerado normal é de 85, mas a escala ainda é controversa.
O que causou a anomalia no funcionário público foi o acúmulo de líquido em três ventrículos -estruturas produtoras do fluido cerebrospinal que amortece o contato do cérebro com o crânio. Partes importantes do cérebro, como o córtex, ficaram confinadas na periferia da cavidade craniana, com os ventrículos ocupando o centro (veja foto acima). "O cérebro em si -a massa cinzenta e a massa branca- ficou completamente espremido contra as laterais do crânio", diz Feuillet.
Os neurologistas decidiram examinar o cérebro do paciente com ressonância magnética (para fazer uma tomografia computadorizada) após ele relatar seu histórico médico. O homem tinha passado duas vezes por um procedimento de drenagem de fluido cerebral com uma sonda. O procedimento havia sido feito quando ele ainda era bebê -por causa de uma hidrocefalia inata de motivo desconhecido-, e aos 14 anos de idade -também por causa de reclamações sobre fraqueza na perna.
Após passar pelo procedimento mais duas vezes no Hospital de La Timone, em Marselha, o homem melhorou da dificuldade para andar e teve alta.
"Acho incrível como o cérebro consegue lidar com algo considerado incompatível com a vida", comentou Max Muenke, neurologista do Instituto de Pesquisa do Genoma Humano dos EUA, sobre o relato dos franceses. "Se algo acontece muito devagar ao longo de certo tempo, talvez levando décadas, diferentes partes do cérebro assumem funções que normalmente seriam tarefa das partes postas de lado."


Com Reuters e France Presse

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