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Urso gigante habitava Argentina, revela fóssil
Animal tinha 1,5 tonelada e chegava a mais de três metros de altura em pé
Mamífero foi o maior carnívoro da Era do Gelo, há 700 mil anos; espécime é o dobro dos grandes ursos de hoje
REINALDO JOSÉ LOPES
ENVIADO AO RIO
Há 700 mil anos, um urso
que pode ter passado de 1,5
tonelada atacava os herbívoros de La Plata, na Argentina,
com a mesma voracidade
que os humanos gaúchos hoje dedicam ao churrasco.
Trata-se, de longe, do
maior urso que já viveu, e do
maior carnívoro do planeta
durante o Pleistoceno (a Era
do Gelo), afirma um dos responsáveis por descrever o
fóssil, Leopoldo Soibelzon,
do Museu de La Plata.
"É outra ordem de magnitude [perto dos demais ursos]", diz Soibelzon. Há registros de ursos-polares com
até uma tonelada no começo
do século 20. Hoje, eles e os
ursos-pardos, os dois maiores bichos do tipo, não passam de 700 kg.
Ele apresentou os dados
no 7º Simpósio Brasileiro de
Paleontologia de Vertebrados, organizado pela Unirio
(Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro). Os
fósseis -dois "braços", ambos com ossos articulados-
amargaram décadas de gaveta antes de ser analisados.
HOSPITAL
"Foram achados durante a
construção de um hospital
em La Plata, 40 anos atrás.
Quando você os vê pela primeira vez, fica achando que
são de um mastodonte, de
tão grandes", diz Soibelzon.
"Sempre quis trazer a público, mas a vida vai levando,
o momento nunca chega."
A oportunidade veio quando o argentino e uma aluna
iniciaram um estudo da massa (o popular peso) dos ossos
fósseis. Visitando museus, e
com ajuda de um colega
americano, Blaine Schubert,
da Universidade Estadual do
Leste do Tennessee, Soibelzon se deu conta de que nenhum outro urso chegava
perto do monstrão.
Trata-se, aliás, de um gigante entre gigantes: sua espécie, Arctotherium angustidens, já era conhecida pelo
tamanho, mas nunca se imaginou que um indivíduo pudesse ficar tão grande.
A explicação para o porte
desmesurado do bicho provavelmente tem a ver com o
fato de que os ursos são invasores recentes na América do
Sul, vindos do norte depois
que a América Central se formou e uniu os dois subcontinentes americanos.
"Logo aparece em cena
um urso gigantesco num
continente, naquela época,
quase vazio de carnívoros",
explica Soibelzon. "Tinham
um mundo, um supermercado de carne para comer."
Quando outros carnívoros, como os felinos, foram se
estabelecendo na América
do Sul, os ursos evoluíram
para se tornar menores e
mais herbívoros. A única espécie ainda viva na região é o
urso-andino (Tremarctos ornatus), com apenas 150 kg.
Um estudo sobre o exemplar gigante do Arctotherium
angustidens sairá na revista
"Journal of Paleontology".
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