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MT tem última "queimada científica"
Pesquisadores puseram fogo em áreas controladas na floresta para estudar regeneração e impactos na mata
Projeto que começou em 2004 incendiou trechos de transição entre vegetação do cerrado
e bioma amazônico
Edson Cintra/Divulgação
![](../images/d2308201001.jpg) |
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Os pesquisadores Jennifer Balch e Paulo Brando acompanham incêndio controlado em mata de transição
SABINE RIGHETTI
ENVIADA A QUERÊNCIA(MT)
"Sinto pena, mas tem de
fazer isso pela ciência, né?",
filosofa Osvaldo Portela, funcionário do Ipam (Instituto
de Pesquisa Ambiental da
Amazônia), ao observar algumas árvores em chamas.
O incêndio que esse amazônida nativo acompanha
não é acidental. Foi provocado por uma equipe multidisciplinar de 30 cientistas.
Eles estudam os efeitos
das queimadas numa floresta de transição no nordeste
do Mato Grosso, formada por
árvores maiores que as do
cerrado, mas não tão grandes quanto as da mata amazônica "padrão".
O fragmento florestal de
150 hectares onde acontece o
experimento foi dividido em
três partes iguais. Uma fatia
permanece intocada, um terço foi queimado anualmente
desde 2004 e o outro sofreu
queimadas controladas a cada três anos (num total de
três queimas).
Na semana passada, o grupo, acompanhado pela reportagem, realizou a última
queima controlada do projeto. Agora, os cientistas vão
acompanhar, até 2013, como
as áreas queimadas no projeto se regeneram.
PIROTECNIA CIENTÍFICA
Há um bom motivo para
estudar o quanto a floresta é
inflamável. "Mesmo que o
desmatamento da Amazônia
pare nos próximos anos, o fogo ainda será um grande inimigo da floresta", justifica o
engenheiro florestal Paulo
Brando, do Ipam, um dos
coordenadores do trabalho.
O fogo pode ter causas naturais (como raios) ou pode
ser provocado pelo homem.
Especialmente em Mato
Grosso, é comum que florestas próximas de pastos sejam
atingidas por queimadas
promovidas por fazendeiros
para "renovar" o solo.
"Sabemos que um incêndio emite 20 toneladas de
CO2 na atmosfera por hectare. Mas ninguém sabe como
uma floresta queimada se recompõe", explica a ecóloga
americana Jennifer Balch,
que divide a coordenação do
estudo com Brando.
Ela é associada ao Ipam e
pertence à instituição americana WHRC (Centro de Pesquisa Woods Hole, em inglês), parceira no trabalho.
MAIS CALOR, MAIS FOGO
Os pesquisadores já observaram que o microclima da
floresta é alterado desde o
primeiro incêndio. Há uma
reconfiguração do solo da
floresta (que fica mais arenoso) e do dossel - o "teto" da
mata, formado por galhos e
folhas das copas das árvores
(que fica mais espaçado).
Com dossel mais aberto e
maior entrada de luz, a floresta aumenta de temperatura e perde umidade -o que a
deixa mais suscetível a novos
incêndios. Além disso, fica
mais fácil a invasão de capim
dos pastos vizinhos.
Algumas das 120 espécies
de plantas notificadas na região do estudo já desapareceram com as queimadas. Resta saber por que algumas
morrem e outras sobrevivem.
"A ideia agora é criar modelos de mortalidade das árvores e desenvolver técnicas
de recomposição das florestas queimadas", explica
Brando, do Ipam.
Os pesquisadores viram
também que uma seca ocorrida em 2007 dobrou a mortalidade das árvores submetidas à queima naquele ano,
em comparação com os anos
anteriores.
"Isso é importante porque
essa região é muito suscetível a futuras mudanças climáticas, que poderão incluir
períodos de secas", explica
Brando. Ou seja, a soma de
seca e incêndios pode resultar numa equação desastrosa
para a floresta.
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