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BIOLOGIA
Molécula criada em laboratório manteve capacidade de reação mesmo quando codificada em apenas duas "letras"
RNA binário pode ter sido origem da vida
SALVADOR NOGUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
A dupla não ousa afirmar que
foi assim que aconteceu, mas
John Reader e Gerald Joyce, do
The Scripps Research Institute,
em La Jolla, Califórnia (EUA),
acabam de demonstrar que a vida
pode ter surgido a partir de moléculas de RNA codificadas como
os programas de computador
-em simples linguagem binária.
A idéia de que o RNA (ácido ribonucléico), o "primo pobre" do
DNA (ácido desoxirribonucléico), foi o responsável pelo surgimento dos primeiros seres vivos
já circula há várias décadas. É a
chamada hipótese do "mundo de
RNA", que aposta tudo na versatilidade dessas moléculas.
Ao contrário do famoso e sofisticado DNA, com sua fita dupla
em forma de escada torcida, o
RNA é composto por uma única
sequência de "letras". E essa simplicidade se traduz em atitude.
Diferentemente do pomposo
DNA, que se contenta com a função de ser o guardião da informação genética dos organismos, o
RNA é muito mais ativo no metabolismo celular. Além de transmitir informações provenientes do
DNA, ele até atua em reações químicas, uma função normalmente
delegada a proteínas -as substâncias criadas a partir das receitas contidas no material genético.
Daí a aposta no "mundo de
RNA". Mas ainda havia um problema com essa hipótese. A citosina, uma das "letras" do RNA (e do
DNA), é instável e pode até ter faltado no caldo primordial em que
a vida primeiro floresceu. Há quase 40 anos, Francis Crick (um dos
decifradores da estrutura da molécula de DNA, junto com James
Watson) propôs que as moléculas
primordiais de RNA não teriam
quatro bases, mas duas.
Faltava provar que uma molécula assim servia. Foi o que fizeram Reader e Joyce. Eles partiram
de uma molécula de RNA conhecida, capaz de agir na catalisação
(aceleração) de uma reação química. Foram alterando-a até que
tivesse só duas bases.
"Apesar de ter apenas duas bases, ela continha informação suficiente para causar a catálise", diz
Reader. O estudo da dupla saiu
publicado na revista "Nature".
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