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ANTROPOLOGIA
Fóssil de 1,9 milhão de anos sugere que ancestrais Homo rudolfensis e Homo habilis eram da mesma espécie
Família pré-humana perde um membro
Robert Blumenschine/Divulgação
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Pedaço de maxilar superior de Homo habilis achado na Tanzânia |
REINALDO JOSÉ LOPES
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Um novo fóssil de 1,9 milhão de
anos pode tornar a genealogia da
humanidade um pouco menos
complicada e controversa. Encontrado na Tanzânia, ele sugere
que a espécie Homo rudolfensis é,
na verdade, idêntica ao Homo habilis -e deve, portanto, virar um
galho serrado da árvore genealógica dos hominídeos.
É um destino um tanto melancólico para a espécie, que já chegou a ser considerada ancestral
direta do homem moderno. Ao
mesmo tempo, porém, o fim do
H. rudolfensis pode pôr ordem na
bagunça criada pelos cientistas na
família humana de 2 milhões de
anos atrás -ninguém se entende
sobre como classificar cada fóssil
já faz algumas décadas.
"Claro que essa é a nossa interpretação, e tenho certeza de que
ela vai gerar muita controvérsia",
disse à Folha o antropólogo norte-americano Robert Blumenschine, 45, da Universidade Rutgers, em Nova Jersey. "Mas o nosso achado traça um elo morfológico entre o H. rudolfensis e o H.
habilis", sugerindo que um fosse
apenas um alter ego do outro.
Sítio famoso
A tese da equipe internacional
de Blumenschine, publicada na
última edição da revista "Science"
(www.sciencemag.org), foi criada com base em escavações na já
legendária garganta Olduvai, onde uma infinidade de hominídeos
foi achada - entre eles o próprio
H. habilis, no início dos anos 60.
Além das toscas ferramentas de
pedra que emprestam seu nome
(olduvaiense) do lugar e formam
a mais antiga tradição cultural da
humanidade, a equipe achou ossos de grandes mamíferos dos
quais os hominídeos se alimentavam. A vedete, contudo, é a parte
inferior de um rosto, incluindo o
maxilar superior com quase todos
os dentes, que eles consideram ter
pertencido a um Homo habilis.
"Encontrar coisas tão completas -sei que parece estranho dizer isso, mas para a época em
questão ele está bastante completo- é uma oportunidade rara",
diz Blumenschine. "O registro
fóssil é tão fragmentado que uma
dentição superior completa pode
fazer uma grande diferença."
"Fragmentado" é até eufemismo. Embora o H. rudolfensis tivesse sido proposto como nova
espécie em 1986, ninguém ainda
tinha achado os dentes da criatura
-o exemplar que deu nome à espécie, achado no Quênia, perdeu
todos os seus. Os pesquisadores
da Rutgers conseguiram isso agora -e notaram uma ou duas coisas reveladoras no maxilar dele.
"Sempre se imaginou que o H.
rudolfensis tivesse dentes grandes
porque as aberturas onde os dentes se encaixavam são grandes",
diz Blumenschine.
"Contudo, o nosso espécime
têm essas mesmas raízes grandes
para os dentes, mas elas terminam numa dentição que é relativamente pequena, o que é totalmente inesperado", afirma o antropólogo norte-americano.
Outra ligação clara entre o novo
fóssil, o H. rudolfensis e o H. habilis é o trecho entre o maxilar e a
abertura nasal, bastante plano nos
três hominídeos. E, segundo a
equipe, a própria presença do fóssil em Olduvai, território clássico
do H. habilis, é mais uma evidência a uni-los. Para Blumenschine,
as similaridades são tantas que
não faz mais sentido separá-los.
Mais uma espécie
No entanto, quem pensa que o
número de espécies da família humana deve encolher pode esquecer, diz Blumenschine. Para ele,
muitos dos fósseis atribuídos antigamente ao Homo habilis são,
na verdade, primitivos demais e
devem ser reclassificados, dentro
ou fora do gênero -isso ainda
precisaria ser decidido.
Apesar da aparente volta de
mais complexidade, a decisão pode ser um avanço, se virar consenso. É que vários dos supostos H.
habilis têm cérebros pequenos
demais para se encaixarem confortavelmente na espécie. Separar
os de cérebro ampliado de seus
colegas menos espertos colocaria
alguma ordem nesse caos.
"Essa é uma área em que cada
novo espécime causa grande impacto, porque temos tão poucos
deles", diz Blumenschine. "Uma
coisa é certa: a situação das espécies hominídeas era bem mais
complexa do que é hoje."
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