São Paulo, sábado, 24 de fevereiro de 2007

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Grupo inaugura instituto em Natal, de olho no Piauí

Instituto internacional de neurociências já tem resultado de primeiras pesquisas

Presidente do BC, Henrique Meirelles, comparou ontem a criação do centro científico à da Embraer em cerimônia no Rio Grande do Norte

EDUARDO GERAQUE
ENVIADO ESPECIAL A NATAL

Depois de três anos do lançamento oficial da idéia, o IINN (Instituto Internacional de Neurociência de Natal) é uma realidade. O centro foi inaugurado ontem, na capital do Rio Grande do Norte, pelo trio de cientistas brasileiros que o conceberam enquanto faziam carreira nos EUA.
As obras do instituto, cujos cinco prédios se dividem entre Natal e o município vizinho de Macaíba, só devem ficar prontas em 40 dias. Mas os pesquisadores já vislumbram uma segunda instituição do tipo, em um dos Estados mais carentes do Brasil: o Piauí.
"Estes anos de trabalho não foram fáceis. Tivemos de criar todo um mecanismo novo, que não existia no Brasil", disse à Folha o neurocientista Miguel Nicolelis, da Universidade Duke, principal cérebro por trás do novo centro do cérebro.
Ele se refere ao fato de que instituições de pesquisa nos moldes do IINN, que funcionam com dinheiro público e de instituições filantrópicas -modelo comum na ciência americana-, não existiam por estas bandas até ontem.
"Mas com certeza o segundo centro de pesquisas, que será no sul do Piauí, onde o Estado mais precisa, sairá mais rápido", continuou. Ele não deu detalhes sobre a nova idéia.
Apesar de a construção do complexo de ensino e pesquisa ter levado um tempo maior do que o previsto, as pesquisas feitas na cidade de Natal, sob orientação do brasiliense Sidarta Ribeiro -pupilo de Nicolelis que trocou a Carolina do Norte pelo Rio Grande do Norte para dirigir o IINN-, já estão começando a aparecer.
No congresso científico que será realizado até amanhã na capital potiguar serão apresentados sete trabalhos já feitos totalmente na estrutura do novo centro de pesquisa.
"Estão envolvidos nessas pesquisas alunos de graduação, de mestrado e de doutorado", afirmou Ribeiro -já levemente queimado de sol.
Para começar a funcionar, o centro já conta com R$ 25 milhões. "Foram R$ 13 milhões do poder público e o restante da iniciativa privada. Nesse caso, recebemos contribuições do Brasil e do exterior", afirmou Nicolelis, paulistano (e palmeirense doente) radicado nos EUA há uma década e meia.

Novo nome
O IINN, que desde ontem foi renomeado, e passou a se chamar IINN Edmond e Lily Safra, recebeu a maior contribuição filantrópica exatamente da Fundação Safra. "É um privilégio imenso para mim colaborar com esse laboratório que será um dos líderes da pesquisa em neurociência no mundo", disse Safra, também presente a cerimônia em Natal.
Nessa empreitada de levar a ciência para o nordeste do Brasil -além das pesquisas de ponta, também vão funcionar na região projetos sociais e educacionais voltados para comunidades carentes- Nicolelis se alinhou a figuras de peso do governo federal.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva não compareceu pessoalmente, mas mandou uma carta. "Este é um projeto que colabora com a repatriação de cérebros brasileiros", dizia um dos trechos do documento, lido, de forma emocionada, pelo próprio Nicolelis. O cientista disse várias vezes logo após a eleição de 2002 que a vitória de Lula havia sido fundamental para que se levasse adiante a idéia do centro.

Embraer do cérebro
Já Henrique Meirelles, presidente do Conselho do IINN, esteve pessoalmente na capital potiguar. Segundo o presidente do BC, dentro desta "longa viagem" iniciada em 2004, a fase da implementação, um dos pontos-chaves do projeto, foi superada com sucesso. "Estou surpreso, positivamente, com o que já foi executado", disse.
Para Meirelles, a implantação de um centro de neurociência em Natal, no futuro, poderá ser comparada com a criação da Embrapa e da Embraer.
"Este é um passo importante tanto para a ciência como para a economia."

Santos Dumont
O ideal de Nicolelis existe há pelo menos quatro anos. Radicado na Carolina do Norte, o pesquisador sempre disse que tinha um sonho de poder voltar a trabalhar mais no Brasil. Para isso ele contou com jovens pesquisadores, que também estavam e ainda estão ligados à centros de pesquisa americanos. São eles Sidarta Ribeiro e Cláudio Melo. O trio criou a Fundação Santos Dumont, para arrecadar apoio -e verbas- para a criação do centro.
No lançamento da pedra fundamental do IINN, em fevereiro de 2004, Nicolelis trouxe também vários cientistas estrangeiros, e inclusive alguns ganhadores do Nobel para Natal. A idéia, na época, foi considerada meio utópica por alguns pesquisadores do Brasil.
No encerramento da cerimônia de inauguração do IINN, todos deixaram a parte emocional de seus cérebros controlar todo o corpo. Pesquisadores, membros do governo e estudantes se divertiram ao som da Orquestra Talento Petrobras, que foi do forró ao Pink Floyd.


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