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outro lado
Teste substitutivo nem sempre é viável
Para pesquisador da Unicamp, existem mais seres humanos do que animais sofrendo com os produtos cosméticos
EDUARDO GERAQUE
ENVIADO ESPECIAL A CAMPINAS
Apesar de achar importante
que a discussão sobre o uso de
animais em testes de cosméticos seja feita também no Brasil,
um dos coordenadores do
CPQBA (Centro Pluridisciplinar de Pesquisas Químicas,
Biológicas e Agrícolas) da Unicamp, João Ernesto de Carvalho, se diz cético quanto à viabilidade de vários desses testes.
"Um dos grandes problemas
é o valor prognóstico deles. Como você faz, por exemplo, a
transposição dos resultados para o olho humano, que é complexo?" -pergunta Carvalho.
Para o pesquisador, é pouco
provável que apenas os testes
"in vitro" possam dar uma segurança de 100%.
Segundo ele, principalmente
a comunidade brasileira, precisa decidir o que ela quer. "Isso
precisa ser validado por vários
laboratórios", afirma. E a Anvisa (Agência de Vigilância Sanitária) tem que decidir o que será exigido. "Vai continuar com
animal ou não?"
Por causa de uma preocupação "maior hoje com os animais
do que com os humanos", o
pesquisador da Unicamp -que
afirma ser totalmente a favor
da substituição, desde que ela
seja confiável- é direto: "Posso
garantir que hoje tem muito
mais gente no consultório oftalmológico com reação aos
cosméticos, do que animais
com problemas por que passaram por algum tipo de teste
com esses produtos."
Segundo Carvalho, a sociedade hoje está vivendo uma espécie de inversão de valores. "Isso
é inquietante. A exigência dos
testes começou exatamente
durante a Segunda Guerra
Mundial, quando o mundo viu
o que ocorreu nos campos de
concentração [onde os nazistas
faziam experiências com humanos que freqüentemente resultavam em morte]".
Marketing
Para o pesquisador da Unicamp, as empresas de cosméticos acabam usando a não-utilização de animais como uma forma de marketing. "Agora, e a
questão da eficácia? Isso é outro problema ético. Produtos
são vendidos como aqueles que
acabam com as estrias, a celulite. Você às vezes apregoa algumas propriedades que acabam
não se concretizando."
Assim como ocorre com os
medicamentos, Carvalho acredita que os cosméticos também
deveriam sofrer uma avaliação
constante, mesmo depois de terem ido para o mercado.
"Muitas pessoas desenvolvem a chamada conjuntivite
química. Pode ser por causa de
um cosmético, de um xampu,
muito provavelmente."
O famoso teste ocular- onde
o produto é pingado sobre o
olho do coelho-, que causa
"muito espanto" nas pessoas, é
desmitifcado por Carvalho.
"O nosso coelho, por exemplo, vive mais que um boi." Isso,
explica o pesquisador, porque o
animal é comprado de um produtor, o que significa que esse
animal iria para o abate e agora
não vão mais.
"É muito raro sacrificarmos
um animal. Ele é reutilizado e
depois devolvido." Isso é outro
problema dos testes "in vitro",
diz Carvalho. "No laboratório,
quando ocorre alguma irritação ocular, nós colocamos o
coelho em quarentena. Então, é
possível acompanhar também
a recuperação dele."
Olho de boi
Caso o assunto seja realmente o lado ético do uso de animais em testes de laboratório
para cosméticos -e não apenas
o mercadológico-, Carvalho
costuma ser claro.
"Concordo que você venha
discutir o assunto comigo. Mas
tem de ser coerente. Um dos
testes alternativos, por exemplo, é feito sobre córnea de boi.
Quer dizer que isso pode? Não é
o uso de animal? Mesmo que
ele já tenha sido morto, é o olho
de um boi que foi usado."
Mesmo quando se trata de
coelhos, Carvalho afirma que
muita coisa evoluiu. E hoje todo uso de animal é cercado de
medidas éticas. "No caso da
aplicação ocular, antes é feito
uma análise do pH [acidez] do
produto. Se ele for muito irritante, a aplicação nem ocorre.
Antes, era feito tudo direto".
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