São Paulo, terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

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Lobby do clima leva ministros à Antártida

Comitiva integrada pelo brasileiro Carlos Minc visita estação norueguesa para ver como degelo antártico afetaria o globo

Grupo tem representantes de mais de 10 países, como China e EUA; objetivo é tentar salvar conferência de Copenhague, em dezembro


Charles Hanley/Associated Press
Ken Pedersen, líder de expedição norueguesa que cruzou a Antártida, dá "aula' de ciência polar aos ministros na estação Troll

DA REDAÇÃO

Um grupo de ministros do Ambiente, entre os quais o brasileiro Carlos Minc, e negociadores internacionais de clima chegou ontem à Antártida após ouvir do economista britânico Nicholas Stern que a falha em lidar com a questão climática agora provocará uma "longa guerra mundial".
Stern falou aos ministros no sábado na Cidade do Cabo, ponto de partida para a viagem de 9 horas até a estação norueguesa Troll. Segundo ele, nas mãos do grupo de negociadores estava o potencial de evitar migrações causadas por desastres climáticos, que poderiam causar conflitos em massa.
"De algum jeito nós temos de explicar às pessoas o quão preocupante isso é", afirmou Stern, ex-economista-chefe do Reino Unido e autor do relatório que leva o seu nome, divulgado em 2006, sobre os custos da mudança climática.
A viagem foi organizada pelo ministro do Ambiente da Noruega, Eric Solheim, com o objetivo de mostrar aos seus colegas a dimensão do continente austral e como o seu eventual degelo poderia afetar o nível do mar de forma dramática.
Ela faz parte de um esforço diplomático explícito para tentar salvar do colapso a cúpula do clima de Copenhague, marcada para dezembro. O encontro precisa produzir um acordo internacional de combate aos gases de efeito estufa que amplie e substitua o Protocolo de Kyoto -cuja primeira fase de compromisso expira em 2012.
Se Copenhague falhar em produzir um acordo sólido que ponha o mundo no caminho de uma redução de pelo menos 50% das emissões até 2050, alertam os cientistas, o aquecimento global pode sair do controle. Se o acordo for adiado, o mundo pode ficar a partir de 2012 com um "buraco" legal na proteção do clima.
A comitiva tem representantes de mais de uma dezena de nações, incluindo Argélia, Suécia, Congo, Finlândia, Reino Unido e Rússia. Os dois principais poluidores do planeta -e potenciais obstáculos a um acordo nem Copenhague- , China e EUA, também estão representados, pelo negociador de clima Xie Zenhua e o subsecretário de Estado Dan Reifsnyder, respectivamente.
Na Antártida, Minc e seus colegas se encontraram com cientista noruegueses e americanos que acabam de voltar de uma expedição de 2.300 km do polo Sul até a estação Troll. Também aprenderão sobre as grandes incertezas que ainda existem na pesquisa climática no continente austral: o quanto a Antártida está esquentando? Qual é a quantidade de gelo que está efetivamente derretendo e aumentando o nível do mar? E o quanto isso pode contribuir para a elevação dos oceanos nas próximas décadas?
A contribuição do manto de gelo antártico (que concentra 90% do gelo do planeta) para a elevação do nível do mar no globo não pôde ser calculada pelos modelos climáticos do IPCC, o painel de climatologistas das Nações Unidas.
A dinâmica do gelo é muito complexa e, embora algumas regiões estejam perdendo gelo aceleradamente, como a península Antártica, no manto de gelo da Antártida Oriental (onde fica a estação norueguesa) os sinais são misturados. "Nós não sabemos o que está acontecendo lá", disse David Carlson, coordenador científico do Ano Polar Internacional, o maior esforço de pesquisa já feito para entender os polos e o clima, que se encerra neste mês.
Um derretimento descontrolado na Antártida Ocidental -a região do continente que mais aqueceu nas últimas décadas-, no entanto, bastaria para elevar o nível do mar em vários metros. "Poderia ser o ponto de virada mais perigoso deste século", disse James Hansen, climatologista da Nasa.
No mês que vem, Hansen e outros pesquisadores realizarão sua própria cúpula de emergência em Copenhague para discutir maneiras de forçar os governos a agir.


Com agências internacionais


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