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COMPORTAMENTO
Experimento britânico revela que neurotransmissor associado a prazer cresce quando incerteza é maior
Jogo também parece fascinar os macacos
DA REPORTAGEM LOCAL
A excitação da jogatina parece
ter contagiado os macacos do laboratório de Christopher Fiorillo,
da Universidade de Cambridge,
no Reino Unido. A julgar por seu
experimento, publicado na última edição da revista "Science"
(www.sciencemag.org), o vício
das apostas e a paixão irreprimida
pelo risco são muito mais primitivos que a mente humana.
No começo do experimento,
Fiorillo e seus colegas -Philippe
N. Tobler e Wolfram Schultz, ambos da Universidade de Friburgo
(Suíça)- treinaram seus símios
na tradição pavloviana: toda vez
que aparecia um sinal num monitor, os macacos recebiam um
pouco de suco. Não demorou
muito para aprenderem que cada
sinal traria dois segundos depois
uma recompensa.
Analisando a química cerebral
dos animais, os cientistas verificaram um aumento de dopamina,
substância usualmente associada
a sensações de prazer e também à
compulsão para a repetição, para
reproduzir uma experiência.
Reforço controverso
"É provável que a dopamina tenha um impacto emocional forte
que é usualmente percebido como positivo, embora seu papel
nas emoções seja controverso",
diz Fiorillo. "O que se sabe é que
ela é reforçadora."
Depois que os macacos estavam
bem treinados, os pesquisadores
introduziram incerteza no experimento: às vezes davam a gota dois
segundos após o sinal e às vezes,
não. A frequência com que davam
ou não a recompensa foi uma das
variáveis dos testes.
Três cenários de incerteza foram criados: num deles, o macaco
recebia o suco uma em quatro vezes (25%); noutro, três em quatro
vezes (75%); num terceiro, uma
em duas vezes (50%). A surpresa é
que os níveis de dopamina no macaco subiam mais nos dois segundos que sucediam o sinal visual
no terceiro cenário, quando o
grau de incerteza era maior.
No primeiro cenário, o macaco
parecia desconfiar que provavelmente não iria receber o suco. No
segundo, que provavelmente iria
receber. No terceiro, em que a
probabilidade era meio a meio,
ele não tinha como esperar nada
de definido. Em resumo, os níveis
de dopamina indicaram um alto
grau de excitação no macaco com
a noção de que poderia ou não ser
recompensado.
Esses resultados sugerem que o
"instinto" do jogador é um traço
comum a vários animais e não depende de alto nível humano de
abstração. Talvez os aficionados
por roletas e jogos de azar estejam
simplesmente agindo por uma espécie de condicionamento bioquímico. Mais difícil de entender
é a origem de um sistema aparentemente tão contraproducente.
Fiorillo aposta que há uma razão:
o mecanismo da atenção.
"Não sabemos, mas uma possibilidade é que algum nível de
aposta seja benéfico em ambientes naturais. Quando um animal
corre um risco, ele pode ganhar
ou perder, mas de todo modo
provavelmente aprenderá algo
que será útil no futuro. Isso porque recompensas naturais tendem a ser previsíveis a partir de
estímulos do ambiente ou de
ações do animal. Logo, a incerteza
tende a diminuir conforme o animal aprende sobre seu ambiente."
Nos homens, o comportamento
natural é reapropriado em contexto cultural e se autonomiza,
tornando-se uma característica
indesejável. "Num cassino, as
probabilidades são fixas, e não há
nada útil a ser aprendido, que
possa ajudar alguém a predizer
perdas ou ganhos. O cérebro não
foi projetado para lidar com as
chances fixas do cassino."
"Instinto" sob controle
Eliminar a índole apostadora
dos homens parece difícil. Uma
opção seria desenvolver algo que
pudesse manter o "instinto" sob
controle, evitando que apostadores percam tudo tentando quebrar a banca, algo descartado por
definição. Talvez o conhecimento
de que a dopamina tem algo a ver
com esse processo possa ajudar.
"Drogas diretamente direcionadas ao sistema dopaminérgico foram muito úteis no tratamento do
mal de Parkinson e da esquizofrenia, mas até agora tiveram pouca
utilidade para tratar o vício das
drogas [todas essas são condições
que envolvem alteração nos níveis
de dopamina, em maior ou menor escala]", diz Fiorillo.
De toda forma, desenvolver
drogas anticompulsão por apostas seria uma tarefa para outro
pesquisador. "Meu trabalho está
realmente bem distante desse aspecto da pesquisa", afirma.
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