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CIÊNCIA
Estudo com ratos sugere localização precisa de região do cérebro que guia o armazenamento de informações
Pesquisa desvenda a perda de memória
MARCELO FERRONI
da Reportagem Local
Cientistas dos EUA anunciaram
que estão a um passo de desvendar
o processo de armazenamento de
informações pelo cérebro e também a forma como ele falha, isto é,
como se dá a perda de memória.
O estudo, realizado em ratos,
procurou entender como funciona
e onde se localiza a produção da
memória de longo prazo, ou seja,
dos dados que permanecem por
mais tempo no cérebro.
O entendimento do processo pode fazer com que sejam solucionados problemas como a amnésia.
"Nós procuramos entender os
fatores essenciais que se perdem
quando há uma lesão no cérebro e
como esse conhecimento poderia
ajudar a desenvolver novos métodos terapêuticos", disse Cristina
Alberini, da Universidade Brown,
em Rhode Island, EUA, em entrevista por e-mail à Folha.
O estudo, conduzido por Alberini, será publicado em abril na revista "Nature Neuroscience". Ela e
sua equipe estudaram ratos normais e ratos com lesões na região
do fórnix, que liga o hipocampo
-região relacionada à memória- a outras partes do cérebro.
Os ratos foram treinados para escolher entre um compartimento
escuro e um claro. Quando entravam no local escuro, recebiam
choque elétrico nas patas.
Dessa forma, os ratos normais
adquiriram uma memória e passaram a escolher apenas o compartimento claro. Os ratos com lesão no
fórnix, no entanto, logo se esqueciam dos choques e voltavam a entrar na área escura.
Em seguida, os pesquisadores
procuraram examinar as mudanças bioquímicas que ocorriam no
hipocampo durante o processo.
Em ratos normais, houve um aumento na modificação química de
uma proteína chamada Creb. O
processo, chamado fosforilação,
não ocorria nos ratos com lesões
no fórnix.
Os resultados, segundo os pesquisadores, indicam que a fosforilação no hipocampo pode ser um
passo importante para a transformação da memória de curto prazo
para uma de longo prazo.
"A novidade do estudo pode estar na identificação do local exato
em que ocorre esse processo", disse Ademir Baptista Silva, professor
de neurofisiologia da Unifesp
(Universidade Federal de São Paulo).
Segundo Silva, estudos anteriores já haviam indicado a importância da Creb na formação da memória. Os resultados, no entanto, partiram do estudo de um animal invertebrado marinho, o Aplysia californica, com o sistema nervoso
muito mais simples que o de ratos.
Quando o Creb é modificado, ele
ativa duas outras proteínas. Uma
delas armazena dados da memória
e a outra promove o aumento de
ligações entre as células nervosas,
o que aumenta a capacidade de armazenamento do cérebro.
A ativação do Creb ocorre no hipocampo, mas a formação das
proteínas que armazenam dados
sobre um fato ocorre em diversas
partes do cérebro.
"Quando a memória grava o
conceito de mesa, por exemplo, o
formato da mesa, sua cor e seu
material são armazenados em partes diferentes do cérebro", afirmou Silva.
"Ao nos lembrarmos de uma
mesa, diferentes regiões do cérebro são acionadas para trazer sua
imagem à lembrança."
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