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Genoma do gado visa carne melhor
Cientistas soletram os 22 mil genes do boi, com intenção de aprimorar pecuária de leite e de corte
"Aplicação é imediata", diz brasileiro que participou do estudo; DNA não vai ajudar com transgenia, e sim com cruzamentos planejados
"Science"
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O animal usado no estudo foi Dominette, uma vaca da raça inglesa Hereford, mas os resultados servem para todos os bois ou vacas domesticados
EDUARDO GERAQUE
DA REPORTAGEM LOCAL
EDUARDO SCOLESE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A distância entre a picanha
do churrasco dominical e os laboratórios de genética está menor. Cientistas publicam hoje o
genoma do gado bovino.
O estudo sai acompanhado
de outro trabalho, que pode ser
chamado de "mapa do churrasco" -que compara a diferença
genômica de 19 raças comerciais- e poderá resultar, por
exemplo, em bois com carne
mais saborosa. Ou, então, em
vacas com uma produção de
leite ainda maior. Os dois estudos saem como destaque de capa na revista "Science".
"Esses dados são para aplicação imediata", disse à Folha o
veterinário José Fernando
Garcia. O pesquisador da
Unesp (Universidade Estadual
Paulista) de Araçatuba é um
dos coordenadores do consórcio internacional que soletrou
os genes do gado bovino. Projeto que poderá produzir, provavelmente, animais que emitem
menos gás metano, um dos vilões do aquecimento global.
Nos dois projetos -o do genoma começou há seis anos-,
houve a participação de mais
de 300 pesquisadores e dezenas de grupos de pesquisa, espalhados por 25 países. No Brasil, além da Unesp, assinam os
estudos cientistas da Embrapa
(Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) e da USP
(Universidade de São Paulo).
O estudo trouxe resultados
científicos importantes. Mostrou que genoma do gado tem
22 mil genes -80% deles também estão no homem- e que
os ruminantes estão mais próximos dos humanos do que dos
roedores. Mas o melhor, explica Garcia, é o uso que será feito
dessa grande "lista telefônica"
que acaba de ficar pronta. É a
primeira vez que se faz um genoma de um animal que serve
de alimento para o homem.
O mapeamento das variações
genéticas das 19 raças de gado
bovino utilizou 50 mil pontos
de variação no DNA. "É um
verdadeiro pente fino que analisa todos esses pontos do DNA
e compara com marcadores
que já estão estudados e identificados", diz o pesquisador.
Na prática, a ligação entre laboratório e o campo segue um
caminho próprio. Em um rebanho de vacas holandesas, por
exemplo, o produtor sabe quais
animais ficam menos doentes.
Nesse caso, com a ferramenta genômica disponível agora,
afirma Garcia, será possível saber o nome e o endereço do gene responsável por essa maior
imunidade. Com esses dados, o
trabalho de melhoramento genético por cruzamento -que é
feito há décadas e já alterou inclusive a evolução da espécie-
ficará mais fácil, diz Garcia.
A mesma rotina poderá ser
feita para a produção de leite,
para a maciez e o sabor da carne ou contra carrapatos. Apesar de ter demorado para ficar
pronto, o gado bovino já tem
agora, em paralelo à soletração
de seus genes, um mapa de variabilidade genética razoavelmente acabado, o que ainda
não existe para os humanos.
Valor agregado
Como o Brasil tem o maior
rebanho do mundo, mas não o
maior faturamento do setor,
resta saber agora como será
possível aproveitar o conhecimento sobre o genoma bovino.
Alguns cientistas comentam,
por exemplo, a dificuldade de
acesso aos animais. "Você não
faz avaliação, não faz melhoramento, não faz genética, não faz
genoma se você não tem material para trabalhar", diz Alexandre Caetano, da Embrapa.
O cientista afirma ainda que
a aplicação do conhecimento
genético, no caso do boi, deve
ocorrer mais no planejamento
de cruzamentos do que na criação de animais transgênicos.
"O que temos agora é uma nova
ferramenta para implementar
e adicionar ao que já vinha sendo feito", diz. "É uma ferramenta que nunca existiu antes,
que nos permite fazer esse processo de avaliação e aprimoramento de uma maneira mais
rápida e mais eficiente."
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