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Haila, 6, não entende noção de propriedade
Marcelo Justo/Folha Imagem
![](../images/d2404201001.jpg) |
Haila Baldin Fernandes Inácio, 6, portadora da síndrome de Williams que vive em Valinhos |
DO ENVIADO A VALINHOS
Pobre da gata Cristal. Quando Haila, 6 anos, corre atrás dela, abraça a felina com tanta
força que chega a deixá-la sem
fôlego. Lembra a Felícia, personagem de desenho animado
que queria "apertar e amar para
toda a vida" os animais que apareciam na sua frente.
Não é só com a gata que Haila
simpatiza, porém. Quando a
mãe, Ana Carolina Baldin, a leva ao shopping ou ao supermercado, não há uma pessoa
que não receba um "oi, tudo
bem?" da menina. Ela gosta especialmente de idosos. Nada de
racismo: ela fica entusiasmada
quando vê negros -talvez por
achá-los diferentes de si mesma e da família. "Ela ama senhores negros de cabelo branco, quer puxar, abraçar, sentar
no colo", diz a mãe.
É típico da síndrome de Williams não sentir receio de estranhos. Por mais querida que
possa ser uma criança que não
tem grandes restrições à socialização -é cativante quando a
menina segura as visitas querendo evitar que elas deixem a
casa-, isso faz com que a mãe
acabe tendo um trabalho danado para cuidar dela.
Não é difícil de entender.
Mesmo que um rottweiler esteja latindo bravo, a garota quer ir
abraçar e beijar o bicho. Diferentemente de crianças que se
escondem atrás dos pais quando cercadas de estranhos, não é
preciso muito para que Haila
desapareça no meio da multidão quando a mãe se distrai. "É
difícil, por exemplo, num lugar
como uma loja de departamentos, cheio de CDs, DVDs, brinquedos, chocolates, um monte
de coisas que chamam a atenção da Haila. Qualquer desatenção é perigosa", afirma ela.
Mapa na cabeça
Por isso, Baldin acabou, diz,
tornando-se especialista em
mapear ambientes. "Ao entrar
em uma loja, já reparo onde estão as saídas. Caso a Haila suma, consigo ter certeza de que
ela não vai sair de lá", diz.
Haila adora passear de carro
e já foi pega entrando em automóveis parados na rua, mesmo
de desconhecidos. Não se sabe
quem levou o susto maior: a
mãe, quando percebeu que ela
tinha sumido, ou o sujeito que,
ao dar partida no veículo, percebeu estar acompanhado de
uma criança empolgada.
A menina frequenta a Apae
de Valinhos (SP), onde mora, e
uma escola, onde convive com
crianças sem necessidades especiais. Haila é bastante querida, e Baldin sempre escuta das
mães dos colegas que os seus filhos só falam nela. Não para de
mencionar o nome de um amigo da Apae que tem síndrome
de Down. O único porém é que
ela não entende bem a noção de
propriedade, e alguns colegas
não gostam muito quando ela
mexe nos seus brinquedos.
Se, por um lado, é bom que
ela não seja uma menina possessiva, por outro, diz a mãe, é
importante que ela aprenda a
não beber o refrigerante dos
outros, por exemplo. Coca-Cola, aliás, é uma das paixões da
menina, além de música.
Começou com a turma do
"Cocoricó", aquela da TV Cultura, nos primeiros anos de vida. Em seguida, vieram os
"Backyardigans", do Discovery
Kids. Agora, a moda é um DVD
da Xuxa ("Xuxa Festa") que faz
os "baixinhos" mais antigos se
sentirem velhos: "Ilariê" foi remixada, recebendo uma modernosa guitarra. Haila adora.
A paixão por música também
é uma constante entre crianças
com Williams. O ânimo de Haila para cantar e dançar o tempo
todo parece não ter fim -assim
como a sua sensibilidade.
Haila chora fácil quando
quando escuta uma música
triste, afirma a mãe da menina.
Por ser muito musical, fica bastante incomodada com sons irritantes. Ao longo dos anos, porém, a menina parece estar se
adaptando a eles, diz a mãe. Ela
não apresentou, até hoje, grandes problemas físicos relacionados à síndrome.
(RM)
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