São Paulo, terça-feira, 24 de agosto de 2004

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VLS-1

Relatório vai sugerir reorganização das instituições envolvidas, colocando-as sob tutela da Agência Espacial Brasileira

Câmara quer alterar o programa espacial

SALVADOR NOGUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

O relatório final da comissão externa instituída pela Câmara dos Deputados para investigar as raízes do acidente com o VLS-1 (Veículo Lançador de Satélites), ocorrido em agosto de 2003, em Alcântara (MA), deve sugerir profundas alterações na organização do programa espacial brasileiro.
Em uma das oito recomendações estabelecidas pelo relatório, numa versão preliminar obtida pela Folha, os deputados sugerem que "seja reorganizado institucionalmente o setor aeroespacial, com a subordinação da Agência Espacial Brasileira à Presidência da República [hoje ela é ligada ao MCT, Ministério da Ciência e Tecnologia], subordinando-se diretamente a ela o Inpe [Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais], do MCT, e o IAE [Instituto de Aeronáutica e Espaço], do CTA [Centro Técnico Aeroespacial, órgão da Aeronáutica]".
O documento será discutido hoje pela comissão, a partir de uma versão redigida pelo coordenador dos trabalhos, deputado Corauci Sobrinho (PFL-SP). "Uma coisa ou outra pode ser acrescentada, mas as idéias principais levantadas pela comissão já estão nessa versão", afirma.
Segundo o relatório, três fatores estiveram ligados, como causas remotas, ao incêndio que matou 21 servidores do IAE, enquanto eles preparavam o foguete para sua terceira decolagem.
O primeiro foi o baixo nível de investimentos. Em segundo lugar, a política de pessoal do setor, que não era suficiente para manter pessoal capacitado nos projetos. Em terceiro, a organização institucional se mostrou falha, "já que a AEB, teoricamente responsável pelo programa, não tem comando efetivo sobre as atividades".
Além da reorganização institucional, o aumento de recursos e a criação de planos de carreira para funcionários que trabalham no programa, a comissão da Câmara recomenda que o Comando da Aeronáutica continue investigando as raízes técnicas do acidente.
Também instrui que os governos federal, do Maranhão e de Alcântara tomem providências para sanar os problemas sociais decorrentes da necessidade de realocação de populações locais quando da instalação do Centro de Lançamento de Alcântara.
A idéia da comissão é aprovar a versão final do relatório e fazê-la passar pelo plenário da Câmara antes do final do ano, para encaminhá-lo aos Ministérios da Defesa e da Ciência e Tecnologia e à Presidência da República.
O documento não faz menção à necessidade de mudança de cultura interna nas equipes que preparam o lançamento de foguetes brasileiros. Anteontem, a Folha revelou que um novo teste de veículo de sondagem está marcado para acontecer no mês que vem, sem divulgação e com várias práticas irregulares de engenharia.

Outro lado
O Comando da Aeronáutica, ao ser procurado pela Folha, confirmou que o vôo do foguete de sondagem VSB-30 está marcado para setembro e diz que as revisões preliminar e crítica de projeto, normalmente feitas antes da montagem do veículo, serão feitas com o foguete já montado. A primeira ocorrerá em 25 de agosto, e a segunda, em 8 de setembro.
"Todas as críticas e sugestões decorrentes de ambas as reuniões deverão ser consideradas e discutidas. Caso alguma recomendação resulte em fator impeditivo ao lançamento, o mesmo não será realizado até a implementação das medidas corretivas necessárias", disse o brigadeiro Antonio Guilherme Telles Ribeiro, chefe do Cecomsaer (Centro de Comunicação Social da Aeronáutica).
A Aeronáutica diz desconhecer o conteúdo do relatório da comissão da Câmara, que sugere modificações no programa espacial.


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