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+ ciência
Livro usa a história da antimatéria para passear pela história da pesquisa
subatômica no século 20 e pela rivalidade entre os Estados Unidos e a Europa
A corrida pelas partículas
O livro "Antimatter - The Ultimate Mirror" (Antimatéria - O
Espelho Definitivo), de Gordon
Fraser, usa como pretexto a
criação das primeiras amostras de anti-hidrogênio -a versão mais simples de
átomos de antimatéria- em 1996 para
contar a história da física de partículas.
Não que isso seja ruim. Muito ao contrário, o recurso é bem inteligente. Não é
pecado, em divulgação científica, utilizar
um chamariz popular como a antimatéria, um conceito com tantas aparições na
literatura de ficção científica, para despertar a atenção do público para os eventos que puseram ao alcance do homem o
conhecimento das forças que dominam
o mundo subatômico.
Sendo editor de uma publicação pertencente ao Cern, o maior laboratório
europeu de partículas, o autor revela um
apreço maior pela experiência do que
pelas especulações teóricas. Assim, a cronologia da história moderna do mundo
quântico começa, para ele, com Galileu.
Embora átomos e o célebre cientista italiano do século 17 não tenham vínculo algum, sua obra marca a maior revolução
metodológica da história da ciência: a valorização dos experimentos controlados.
Claro que não há omissão dos grandes
teóricos da área. Na verdade, grande destaque vai para Paul Dirac, o físico que cogitou pela primeira vez a existência de
uma antipartícula do elétron (com a
mesma massa, mas com carga positiva),
que ganhou o nome de pósitron. Max
Planck, com seu conceito dos pacotes de
energia -os quanta-, tampouco foi esquecido.
Mas, para Fraser, a
grande aventura do estudo da antimatéria está na
caçada às partículas e nos
engenhosos experimentos projetados para ela.
Esse enfoque é especialmente importante por
destacar nomes menos
lembrados na literatura de divulgação
científica, como Carl Anderson e Wolfgang Pauli, só para citar dois exemplos.
Não que estes sejam completos desconhecidos -quem passou pelo 2º grau
seguramente já ouviu falar de Rutherford-, mas há um contraste muito
grande entre esses nomes e os de Albert
Einstein e Isaac Newton, por exemplo.
O livro não poderia ter sido escrito em
momento mais adequado. Acompanhando a corrida para a detecção de partículas, o autor transporta o leitor para as
origens da concorrência entre o Cern,
europeu, e o Fermilab, norte-americano,
pela hegemonia no campo experimental
da física de partículas, que remonta ao
fim da Segunda Guerra Mundial. Essa
concorrência se fez sentir
com grande força nos últimos meses.
Em julho, o Fermilab
anunciou a primeira detecção do tau-neutrino
-a última versão de neutrino que faltava ser encontrada pelos cientistas.
A próxima meta seria
procurar pelo bóson de Higgs, uma partícula à qual cabe a responsabilidade de
explicar toda a massa do Universo.
O Fermilab já está preparando um
equipamento poderoso que poderá detectar pela primeira vez de forma conclusiva o bóson de Higgs. Enquanto isso, o
Cern tenta correr com os cadarços amarrados um no outro.
O laboratório está para ser fechado para que um equipamento mais potente seja instalado. O novo acelerador, de nome
LHC (Grande Colisor de Hádrons), só
deve entrar em operação em 2005. Mas
os europeus temem que seja muito tempo para evitar a primazia do Fermilab.
No início do mês, o Cern anunciou a
obtenção de potenciais evidências da detecção do bóson de Higgs em dados obtidos com o LEP, o atual estilhaçador de
partículas. O anúncio prematuro rendeu
mais um mês para os pesquisadores
-diante das evidências, os europeus decidiram manter o LEP por mais um mês,
antes de fechar a instalação.
A disputa entre europeus e americanos
é boa. Quem vai vencer, nem o bom livro
de Fraser sabe ainda dizer.
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