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MEDICINA
Novo resultado de estudo realizado no Rio de Janeiro com células de medula óssea tira quatro pacientes da fila
Célula-tronco evita transplante cardíaco
LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO
A injeção de células-tronco no
coração de cinco pacientes cardíacos que aguardavam transplante no Rio de Janeiro fez com
que quatro deles dispensassem a
operação. A terapia é o novo resultado de uma pesquisa desenvolvida no hospital Pró-Cardíaco,
no Rio, que abre perspectivas para o tratamento de pessoas com
doenças cardiovasculares.
As células-tronco (capazes de se
transformar em vários tipos de tecido) extraídas da medula óssea e
implantadas no coração dos pacientes regeneraram tecido do
miocárdio (músculo cardíaco) e
criaram novos vasos sangüíneos.
A possibilidade de recuperação
sem a necessidade de transplante
-um processo longo e complexo- é um sinal de esperança
emitido pela pesquisa, a primeira
nesses moldes feita no mundo.
"A realidade ainda é o transplante cardíaco. Mas acreditamos
que, em dois ou três anos, seja factível trabalhar em larga escala",
disse ontem, durante o anúncio
dos resultados, o médico Hans
Fernando Dohmann, diretor
científico do Pró-Cardíaco e coordenador da pesquisa, realizada
em parceria com Universidade
Federal do Rio de Janeiro e o Texas Heart Institute, nos EUA.
O Ministério da Saúde pretende
reunir várias instituições para discutir a ampliação do trabalho. Esse anúncio pode ser feito já no
Congresso Brasileiro de Cardiologia, que começa domingo no Rio.
O estudo foi feito com 21 pacientes. Sete ficaram no chamado
grupo de controle: foram tratados
por métodos convencionais, sem
receber células-tronco, o que permitiu aos médicos constatarem
que sua recuperação ficou aquém
da dos outros pacientes.
Dos 14 que receberam injeções,
dois morreram no primeiro ano
do tratamento. A família de um
deles, morto em razão de um derrame cerebral, autorizou a necropsia. Com ela, os médicos puderam visualizar os efeitos das células-tronco após 11 meses.
Constataram que a área doente
diminuiu bastante graças ao surgimento de novos vasos sangüíneos. Os médicos também viram
a criação de vasos e a transformação das células-tronco em células
do músculo cardíaco.
Outros exames, como testes ergométricos, mostraram o aumento do consumo de oxigênio por
parte dos pacientes. Eles foram
determinantes para retirar quatro
pacientes da fila do transplante.
"Eu não conseguia nem subir
escadas. Hoje caminho 4 km em
dias alternados e trabalho dez horas por dia", conta Nélson Rodrigues dos Santos Águia, 71, o primeiro brasileiro a receber células-tronco no coração. Seu caso já havia sido apresentado em 2002 pela
equipe do hospital e da UFRJ.
As células foram retiradas da
medula óssea dos próprios pacientes, evitando rejeição. Células-tronco também podem ser
obtidas de embriões -prática já
autorizada em alguns países e em
discussão no Congresso.
"Existe um grande potencial no
uso das células embrionárias, mas
é preciso lembrar que são células
de outro indivíduo, logo pode haver rejeição", ressalva o biólogo
Radovan Borujevic, da UFRJ, outro coordenador da pesquisa.
A mesma equipe começou há
quatro meses uma segunda pesquisa: está injetando células-tronco em pacientes recém-infartados, procedimento que já é aplicado com sucesso na Alemanha. Os
resultados devem ser anunciados
no início de 2005.
O Pró-Cardíaco tem uma fila de
interessados em se submeter às
injeções. Os médicos esperam
que o governo autorize a pesquisa
em outros hospitais, ampliando
as alternativas.
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