São Paulo, sexta-feira, 24 de outubro de 2008

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Sonda vê "terremoto" de alto impacto em estrelas

Cientistas analisam o plasma borbulhante de astros mais quentes do que o Sol

Projeto Corot, que tem participação brasileira, quer conhecer as entranhas dos astros e detectar "centenas" de planetas como a Terra

CNES/David Ducaos
O telescópio Corot, que orbita a Terra a 897 km de altitude

EDUARDO GERAQUE
DA REPORTAGEM LOCAL

Prever o comportamento de uma pessoa sem conhecê-la por dentro é impossível. Portanto, os dados enviados pelo telescópio Corot, que está a uma altura de 897 quilômetros da Terra, estão sendo comemorado pelos físicos e astrônomos. Pela primeira vez, a ciência tem dados das entranhas de estrelas mais quentes e com mais massa do que o Sol, e mostra que elas também sofrem "terremotos" internos.
O termo correto, na verdade é "estelemoto" -a palavra terremoto é aplicável apenas a estruturas sólidas e o interior das estrelas estudadas apresenta apenas plasma. Em estudo na revista "Science", os cientistas descrevem agora esses tremores em três objetos que estão de 100 a 200 anos-luz de distância da Terra, e que foram observados por pelo menos 60 dias.
"Chega a ser absolutamente surpreendente", afirma à Folha o físico José Renan de Medeiros, da UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte). Segundo o pesquisador, um dos brasileiros que participam do Projeto Corot, de origem européia, as oscilações (os estelemotos) medidas nas três estrelas são 1,5 vezes maiores do que as registradas no Sol.
Os cálculos são feitos a partir da variação de luminosidade provocada pela retração e expansão do interior das estrelas e captadas pelo Corot -o telescópio lançado no fim de 2006 tem 27 cm de diâmetro. "Esses dados mostram que nós temos que ir mesmo ao espaço se quisermos avançar na compreensão da emissão solar", diz.
Segundo Medeiros, o estudo, assim como toda a missão Corot, é uma grande oportunidade que existe para desvendar a história evolutiva do Sol, pois conhecer as estrelas por dentro ajuda a revelá-las por fora.

Plasma em borbulhas
A chamada granulação das estrelas -grosso modo, a quantidade de borbulhas que existe no plasma na superfície do corpo celeste- é outra medida pioneira da Corot. "Esse dado é importante porque a granulação reflete o quanto movimentos convectivos no interior da estrela [a subida do plasma mais quente] são importantes. Isso, ao ser casado com a rotação da estrela, indica sua atividade magnética", diz Medeiros.
Com esse primeiro resultado, um dos objetivos do projeto começa a ser cumprido, explica o cientista da UFRN -em Natal há uma central que recebe dados da Corot. O estudo ajuda a entender o interior das estrelas e, por tabela, o do Sol. Este último, os cientistas já conheciam, mas não sabiam se ele era similar ao de outras estrelas.
A segunda parte da missão, diz Medeiros, também é promissora. "Estamos desenvolvendo uma técnica estatística que será uma ferramenta primordial para que se encontre centenas ou, porque não, milhares de planetas [fora do Sistema Solar] do dia para a noite."


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