São Paulo, segunda-feira, 24 de novembro de 2008

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Físico chinês enriquece com painel solar

Empresa de energia que recebeu investimento estatal deixou seu criador com uma das cinco maiores fortunas da China

País é grande emissor de gases do efeito estufa, mas crise do clima já faz governo incentivar a eletricidade limpa, afirma empresário

Fotos Suntech/divulgação
Fachada luminosa do hotel Huihuang Jingya, em Pequim, alimentadas por tecnologia da Suntech

RAUL JUSTE LORES
ENVIADO ESPECIAL A XANGAI

O Estádio Ninho de Passarinho, símbolo-maior da Olimpíada de Pequim, é quase todo alimentado por energia solar.
Revolução tecnológica com ajuda de marketing, é a prova do feito da Suntech, a empresa chinesa que se tornou líder mundial na produção dos painéis fotovoltaicos, que transformam luz solar em eletricidade. O criador da empresa, o físico Shi Zhengrong, 45, diz que a China "deixará para trás" os Estados Unidos na corrida tecnológica por energias renováveis.
Shi, 45, é hoje é um dos cinco homens mais ricos da China. As vendas da Suntech -que completa sete anos agora- chegam a US$ 1,85 bilhão (eram de apenas US$ 14 milhões em 2003).
Mesmo com as perdas da crise nas bolsas de valores, que tiraram um terço do valor da Suntech só nos últimos meses, a empresa é avaliada em US$ 4 bilhões. Shi tem 40% das ações.
"As tragédias ambientais aqui aceleraram a decisão do governo chinês de apostar pesado num PIB verde", disse Shi à Folha em entrevista no seu escritório, no 63º andar de um arranha-céu em Xangai. "Na China, tudo anda mais rápido que nos países ocidentais."
A Suntech se especializou em desenvolver, produzir e vender células fotovoltaicas, módulos e sistemas de energia solar. De terceira maior empresa do mundo na área em 2005, quando abriu capital na Bolsa de Nova York, tornou-se a maior. Seus principais concorrentes são as japonesas Sharp e Kyocera, e a britânica BP.
Shi é um dos personagens destacados do novo livro do jornalista americano Thomas Friedman, "Hot, Flat and Crowded", como um "campeão da nova corrida tecnológica". O bilionário acha que não dá para esperar pela implementação do Protocolo de Kyoto. "É simbólico", diz. "O mais importante é que cada país adote de coração uma agenda progressiva para cortar a emissão de gases, sem esperar os outros."
Apesar da liderança global da Suntech, apenas 10% das vendas da empresa são para o mercado chinês. A energia solar é bem mais cara que a convencional, e seus principais clientes -Alemanha, Espanha e Japão- oferecem fortes subsídios para energia limpa, o que ainda não é o caso na China.
"A energia solar se encontra em um estágio parecido ao da telefonia celular de mais de uma década atrás", quando celular era artigo de luxo, diz Shi. "Em 2000, um megawatt [produzido por energia solar] custava US$ 20. Neste ano, custa US$ 4, e no ano que vem será US$ 3. Em dez anos, será bem mais acessível, quando espero que boa parte de minha produção seja para o mercado doméstico chinês. A escala da China está do nosso lado."
A eficiência dos painéis fotovoltaicos aumentou de 6% na década passada a 16% hoje.
A crise financeira mundial afetou os negócios de Shi não só pelos problemas nas bolsas. Suas vendas na Europa devem cair por conta da recente desvalorização do euro frente ao dólar, e vários projetos financiados por grandes bancos foram simplesmente adiados.
Mas a crise trouxe um benefício para a energia solar: depois de se multiplicar por dez em sete anos, o preço do silício, sua principal matéria prima, começou a cair. "Ficou muito caro por conta do crescimento da China, que consome muito", diz. O silício também é usado em chips eletrônicos.

Simbiose estatal
Shi estudou física e se tornou PhD em engenharia solar na Austrália, onde morou de 1988 a 2000. Mesmo sendo presidente-executivo da Suntech, ele acumula o cargo de chefe de pesquisa. "Minha melhor decisão profissional foi migrar para estudar na Austrália e voltar à China na hora certa", afirma. "Há uma corrida tecnológica, e a China tem que ficar à frente."
A simbiose de Shi com o governo local é típica dos grandes empresários chineses. A prefeitura de Wuxi, cidade a 150 km de Xangai que investe pesado para ser um centro de alta tecnologia, colocou US$ 6 milhões na Suntech, que começou com 20 funcionários, e forneceu mais US$ 5 milhões para pesquisas, além de oferecer o terreno de 12.000 m2, onde hoje fica a moderna sede da empresa.


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