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Brasil inflou dado de CO2, sugere estudo
Banco Mundial estima que em 2030 país emitirá 1,697 bilhão de toneladas; projeção do governo fala em 2,7 bilhões em 2020
Número foi usado no cálculo
da meta voluntária que país
levará a conferência do clima e implica em esforço
menor de corte de emissões
MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Estudo do Banco Mundial a
que a Folha teve acesso estima
em US$ 21 bilhões - cerca de
R$ 38 bilhões- por ano o custo
para o Brasil reduzir em 21% as
emissões de gases-estufa até
2030. O valor é pouco menor
(17%) que todo o investimento
público previsto com dinheiro
dos impostos para 2010 no Orçamento da União.
Embora a economista-chefe
de Desenvolvimento Sustentável do banco, Marianne Fay, tenha classificado ontem de "ambicioso" o compromisso de redução das emissões de carbono
apresentado pelo governo brasileiro há duas semanas, há divergências entre os cenários
apresentados pela instituição e
pela equipe do presidente Luiz
Inácio Lula da Silva.
Enquanto o governo prevê
que o país esteja lançando na
atmosfera 2,7 bilhões de toneladas de gás carbônico em 2020
se nada for feito, o banco projeta a emissão total nesse mesmo
cenário em apenas 1,697 bilhão
de toneladas em 2030.
Com os investimentos na
economia de baixo carbono, o
Banco Mundial indica que as
emissões poderiam ser reduzidas de 1,259 bilhão de toneladas de gás carbônico, segundo
estimativa feita para 2030, para 810 milhões em 2030.
"Provavelmente, eles consideraram um cenário diferente.
Partimos de um cenário futuro
mais pessimista, caso a economia crescesse sem considerar
nenhum esforço para a redução das emissões", disse Suzana Kahn, secretária de Mudanças Climáticas do Ministério
do Meio Ambiente. Ela participou da definição da meta de redução entre 36,1% e 38,9% das
emissões brasileiras em relação à projeção feita para 2020.
O governo não dispõe de cálculo oficial atualizado das
emissões de gás carbônico.
"O governo inflou as estimativas de emissão para os setores de transporte e energia",
criticou Roberto Smeraldi, diretor da ONG Amigos da Terra
Amazônia Brasileira.
Feito com o apoio de representantes de vários ministérios
e centros de pesquisa do país, o
estudo do Banco Mundial considera cenários diferentes daqueles apresentados pelo governo. A divergência significa
que o esforço acenado pelo governo para reduzir as emissões
pode ser menor do que o previsto na meta "voluntária".
Embora sem comentar diretamente o relatório a que a Folha teve acesso -e que o Banco
Mundial só deverá divulgar em
dezembro ou janeiro-, Marianne Fay insistiu em que o
corte de emissões no Brasil não
significará redução no ritmo de
crescimento da economia.
Ao
contrário: o documento estima
que os investimentos no baixo
carbono poderão representar
um aumento de 0,5% por ano
no PIB, além de um crescimento extra anual de 1,13% na geração de empregos.
Em linhas gerais, a receita
contida no estudo diverge pouco das propostas em discussão
até aqui no governo, a começar
pelo impacto atribuído à redução do desmatamento, o aumento da produtividade do
agronegócio e o plantio de árvores para a produção de carvão para a siderúrgicas.
Algumas das maiores divergências estão na área de energia, influenciada pela ministra
Dilma Rousseff (Casa Civil).
Enquanto o governo considerou a expansão das hidrelétricas na Amazônia como ações de
mitigação, o Banco Mundial
considerou-as parte do cenário
tendencial. O banco também
enfatiza ações de eficiência
energética, especialmente na
indústria. "São as únicas que se
pagam", diz Smeraldi.
O documento defende ainda
a recuperação das áreas de reserva legal, uma obrigação dos
produtores rurais cujo descumprimento o presidente Lula concordou em deixar sem
punição até 2011. O texto também critica a abertura de novas
rodovias na Amazônia, num
ataque indireto à pavimentação da rodovia BR-319.
Colaborou CLAUDIO ANGELO, editor de Ciência
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