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São Paulo, sábado, 25 de janeiro de 2003

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PALEONTOLOGIA

Paranaense negocia em site brasileiro ovos de dinossauro contrabandeados da China; PF investigará o caso

Advogado vende fóssil ilegal pela internet

Reprodução
Ovo fóssil anunciado em site


CRISTINA AMORIM
DA FOLHA ONLINE

O advogado paranaense João Luís Teixeira, 24, acha que tem em mãos um "negócio da China". Mas o negócio é ilegal: ele está vendendo pela internet ovos fossilizados de hadrossauro -dinossauro com bico de pato que viveu há 70 milhões de anos- retirados de uma jazida chinesa.
Segundo Teixeira, os ovos foram comprados de um revendedor chinês chamado Michael Zheng, que, por sua vez, adquiriu o material da Província de Henan, berço de várias descobertas paleontológicas recentes.
Os fósseis são enviados pelo correio, cuidadosamente embalados e com recibo do pagamento. Por ser um comércio ilegal, vêm sem atestado de autenticidade ou documentos oficiais de liberação, emitidos pelo governo chinês.
A Embaixada da China no Brasil diz que o comércio e a exportação de fósseis são proibidos naquele país. "É patrimônio histórico", explica a secretária cultural da embaixada, Li Ji. "Mas trata-se de um mercado muito intenso."
A Polícia Federal deve investigar o caso, afirmou a delegada Regiane Martinelli, da Coordenação de Meio Ambiente da PF. Teixeira pode ser detido sob acusação de estelionato (caso os ovos sejam falsos), contrabando ou por ferir a Lei 9.605, sobre crimes ambientais, se o fóssil for brasileiro. Com a apreensão do material, o país de origem é contatado em uma ação conjunta com a Interpol.
Teixeira disse que já vendeu quatro ovos, com preços entre R$ 990 e R$ 1.100. Como a procura aumentou após ser entrevistado por um programa de televisão, ele já anuncia um quinto ovo.
Além dos ovos, Teixeira diz ter vendido outras relíquias paleontológicas, como um pêlo de mamute, um mosquito em âmbar, obtido na Rússia, e um camarão fossilizado do Líbano.
O negócio começou quando um amigo pediu que ele comprasse um pêlo de mamute. "Ele me deu o contato de um americano, que tinha o tal pêlo. Aí eu comecei a pesquisar na internet outros tipos de fóssil", diz Teixeira. "Como a compra e a comercialização de fósseis brasileiros são proibidas, estou colaborando com o nosso patrimônio." Em seu anúncio no site MercadoLivre.com, ele avisa em letras garrafais que vender fósseis brasileiros é crime.
A autenticação do material é feita pelo também paranaense Douglas Mesquita, 23, que trabalha no Museu Georges Cuvier, na cidade de Cascavel (PR).
Mesquita diz ter datado os ovos por decaimento de urânio -átomos de urânio presentes na rocha se transformam em chumbo a uma taxa conhecida, o que permite estabelecer a idade- e descoberto que eles têm entre 84 milhões e 72 milhões de anos.
"Pela comparação com fragmentos descobertos no mundo inteiro, podemos dizer a qual dinossauro pertencia o ovo", diz Mesquita, que não é cientista.

Fraude
Em 1999, outro fóssil contrabandeado da China, o Archaeoraptor, foi apresentado como o "elo perdido" entre aves e répteis. O animal se revelou uma fraude: não passava de um mosaico de pedaços de ave e quatro dinossauros diferentes, montado por traficantes para alcançar um preço maior no mercado.
Apesar de os ovos não serem autenticados por uma instituição idônea, o interesse é grande. Em quatro dias, o anúncio foi visitado por 372 pessoas.
O MercadoLivre.com afirma não ter responsabilidade sobre o produto. "No contrato, o vendedor é o responsável pelo que vende", diz o diretor da empresa, Stelleo Tolda, 35. O contrato possui uma relação de produtos considerados proibidos, como drogas e órgãos humanos. Mas não cita achados pré-históricos. "Nós não somos especialistas em determinados assuntos", diz Tolda.


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