São Paulo, quarta-feira, 25 de fevereiro de 2004

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AMBIENTE

Estudo compara valor do consumo de carne, ovos e casco com nove experiências de uso sustentável, como turismo

Tartaruga viva vale quase três vezes mais

MARCELO LEITE
ENVIADO ESPECIAL A SAN JOSÉ (COSTA RICA)

O apaixonado universo dos amigos das tartarugas descobriu que o dinheiro tem um papel conservador (no bom sentido). Um dos trabalhos mais comentados no 24º Simpósio da Sociedade Internacional de Tartarugas Marinhas, que se realiza até sexta-feira na Costa Rica, adicionou valores frios ao mantra de que as tartarugas valem mais vivas do que mortas: US$ 1,63 milhão por ano, em renda gerada por atividades como o turismo, contra US$ 605 mil do consumo de carne, ovos ou casco. A boa notícia para o Brasil é que seu Projeto Tamar aparece como um modelo para outros países.
"O Tamar é um caso tão especial que o consideramos inteiramente à parte", disse Carlos Drews, pesquisador colombiano que trabalha no WWF (Fundo Mundial para a Natureza) da Costa Rica e é um dos autores do trabalho. Ele analisou a geração de renda em atividades ligadas às tartarugas marinhas nos nove casos encontrados em que os registros de contabilidade eram confiáveis, o Tamar entre eles.
A palestra foi sugestivamente intitulada "Money Talks" (o dinheiro fala). Com efeito, os dados preliminares da pesquisa (que será publicada em maio próximo) dão um argumento de peso à massa de gente corada e tatuada que acorreu a San José, na hora de convencer governos locais e nacionais de que as tartarugas devem ser mantidas vivas para benefício das comunidades dos locais em que os animais desovam -e não porque algum forasteiro bem-intencionado se apaixonou por esses répteis.
Apresentação após apresentação na capital da Costa Rica, a mensagem se repetia: a conservação dessas espécies carismáticas não tem futuro se não se tornar atraente para quem vive no local e se acostumou a comer ovos de tartaruga. Mais que gerar faturamento com turismo, vários palestrantes insistiram em que é preciso criar formas de fazer esse dinheiro voltar para a comunidade. Se o dinheiro fala, pode-se dizer que a renda fala mais alto.
Aí entra o exemplo do Tamar, projeto de conservação criado em 1980 pelo Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) com apoio da Petrobras. "O Tamar tem grande liderança internacional na geração de alternativas econômicas para comunidades costeiras", afirma Neca Marcovaldi, 45 ("25 anos de praia e 21 de Bahia"), oceanógrafa gaúcha que preside a Fundação Pró-Tamar.
Segundo Marcovaldi, o modelo Tamar de centros de visitantes iniciado na praia do Forte (BA) e espalhado para áreas de desova em oito Estados emprega hoje cerca de 1.200 pessoas, 85% delas da região. Aí estão incluídas também fábricas de camisetas em comunidades de acesso difícil e com menos afluxo de turistas, como Regência, Espírito Santo, e Pirambu, Sergipe.


O jornalista Marcelo Leite viajou à Costa Rica a convite da Conservation International


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