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AMBIENTE
Estudo compara valor do consumo de carne, ovos e casco com nove experiências de uso sustentável, como turismo
Tartaruga viva vale quase três vezes mais
MARCELO LEITE
ENVIADO ESPECIAL A SAN JOSÉ (COSTA RICA)
O apaixonado universo dos
amigos das tartarugas descobriu
que o dinheiro tem um papel conservador (no bom sentido). Um
dos trabalhos mais comentados
no 24º Simpósio da Sociedade Internacional de Tartarugas Marinhas, que se realiza até sexta-feira
na Costa Rica, adicionou valores
frios ao mantra de que as tartarugas valem mais vivas do que mortas: US$ 1,63 milhão por ano, em
renda gerada por atividades como
o turismo, contra US$ 605 mil do
consumo de carne, ovos ou casco.
A boa notícia para o Brasil é que
seu Projeto Tamar aparece como
um modelo para outros países.
"O Tamar é um caso tão especial que o consideramos inteiramente à parte", disse Carlos
Drews, pesquisador colombiano
que trabalha no WWF (Fundo
Mundial para a Natureza) da Costa Rica e é um dos autores do trabalho. Ele analisou a geração de
renda em atividades ligadas às
tartarugas marinhas nos nove casos encontrados em que os registros de contabilidade eram confiáveis, o Tamar entre eles.
A palestra foi sugestivamente
intitulada "Money Talks" (o dinheiro fala). Com efeito, os dados
preliminares da pesquisa (que será publicada em maio próximo)
dão um argumento de peso à
massa de gente corada e tatuada
que acorreu a San José, na hora de
convencer governos locais e nacionais de que as tartarugas devem ser mantidas vivas para benefício das comunidades dos locais em que os animais desovam
-e não porque algum forasteiro
bem-intencionado se apaixonou
por esses répteis.
Apresentação após apresentação na capital da Costa Rica, a
mensagem se repetia: a conservação dessas espécies carismáticas
não tem futuro se não se tornar
atraente para quem vive no local e
se acostumou a comer ovos de
tartaruga. Mais que gerar faturamento com turismo, vários palestrantes insistiram em que é preciso criar formas de fazer esse dinheiro voltar para a comunidade.
Se o dinheiro fala, pode-se dizer
que a renda fala mais alto.
Aí entra o exemplo do Tamar,
projeto de conservação criado em
1980 pelo Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) com
apoio da Petrobras. "O Tamar
tem grande liderança internacional na geração de alternativas econômicas para comunidades costeiras", afirma Neca Marcovaldi,
45 ("25 anos de praia e 21 de Bahia"), oceanógrafa gaúcha que
preside a Fundação Pró-Tamar.
Segundo Marcovaldi, o modelo
Tamar de centros de visitantes
iniciado na praia do Forte (BA) e
espalhado para áreas de desova
em oito Estados emprega hoje
cerca de 1.200 pessoas, 85% delas
da região. Aí estão incluídas também fábricas de camisetas em comunidades de acesso difícil e com
menos afluxo de turistas, como
Regência, Espírito Santo, e Pirambu, Sergipe.
O jornalista Marcelo Leite viajou à Costa Rica a convite da Conservation International
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