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Sequestro oceânico de CO2 falha em teste
Experimento em grande escala no Altântico Sul contraria proposta de "adubar" oceanos com ferro para mitigar efeito estufa
Ideia era estimular
produção de algas para
capturar o carbono, mas
esses organismos acabaram
devorados por predadores
CLAUDIO ANGELO
EDITOR DE CIÊNCIA
A natureza acaba de pregar
uma peça em cientistas que testavam uma nova técnica contra
o aquecimento global. Um experimento em larga escala realizado no Atlântico Sul para
testar essa técnica, a fertilização dos oceanos com ferro,
mostrou-se um fracasso.
Os resultados do teste, divulgados ontem por pesquisadores da Alemanha e da Índia,
lançam um balde de água fria
na chamada geoengenharia,
nome dado às soluções tecnológicas mirabolantes para amenizar a mudança climática.
De todos os esquemas de
geoengenharia já propostos
(coisas que incluem até mandar guarda-sóis gigantes para o
espaço, por exemplo), a fertilização dos oceanos é o que tem o
maior potencial.
A ideia é relativamente simples: despejar quantidades maciças de ferro na superfície de
oceanos em altas latitudes, onde há muitos nutrientes na
água, mas pouca clorofila.
Carbono trancado
O ferro funcionaria como
"adubo", estimulando o crescimento de algas unicelulares.
Essas algas passariam, então, a
fazer fotossíntese, retirando
gás carbônico da água e produzindo oxigênio. Ao morrerem e
se depositarem no fundo do
mar, elas ajudariam a manter
esse carbono "trancafiado".
Com menos CO2 dissolvido, o
oceano poderia absorver o excesso de carbono lançado na atmosfera pelos humanos.
A proposta teórica da fertilização com ferro de grandes
áreas dos oceanos foi feita pela
primeira vez em 1990 pelo
cientista americano John Martin, mas foi testada em campo
apenas dez vezes. Em todos esses testes o ferro lançado na
água de fato estimulava a multiplicação de algas e a fotossíntese, mas o efetivo "enterro" do
carbono e quanto CO2 poderia
ser absorvido por ano não puderam ser medidos.
Entra em cena o Lohafex, um
experimento conduzido por
dois meses no tempestuoso
Atlântico Sul por um grupo do
Instituto Alfred Wegener, da
Alemanha, e do Instituto Nacional de Oceanografia de Goa.
A região foi escolhida por ter
maior potencial de sequestro
de carbono do que as áreas do
oceano Austral onde outros experimentos semelhantes foram realizados, e por ter tipos
diferentes de alga.
A bordo do navio quebra-gelo alemão Polarstern, o grupo
de pesquisadores despejou 6
toneladas de ferro no mar ao
longo de 300 quilômetros quadrados. Como era esperado, a
"adubação" realmente estimulou o crescimento de algas (ou
fitoplâncton), que dobraram
sua biomassa em um período
de duas semanas.
E foi aí que o tiro literalmente começou a sair pela culatra.
O excesso de fitoplâncton logo
chamou atenção de copépodes,
microcrustáceos que se alimentam de algas. Com comida
de sobra, os copépodes se multiplicaram, o que por sua vez
atraiu anfípodes (grupo de
crustáceos maiores).
Algas erradas
Depois de 39 dias, segundo
um comunicado à imprensa do
Instituto Alfred Wegener, as
concentrações de clorofila na
área adubada entraram em declínio e tudo o que sobrou foi
"um cardume de anfípodes
bem-nutridos". O sequestro de
carbono obtido com o experimento foi "desprezível".
Segundo o oceanógrafo Victor Smetacek, um dos líderes da
pesquisa, estimativas anteriores sugeriam que até 1 bilhão de
toneladas de carbono poderiam ser sequestradas pela fertilização. "Nossos resultados
mostram que essa cifra é otimista demais", afirmou Smetacek à Folha.
O problema, diz, foi que as algas "erradas" se multiplicaram
-e não as chamadas diatomáceas, que têm uma carapaça
calcária que as protege contra
predadores. Naquela região, o
mar é pobre em silício, elemento que as diatomáceas usam para fazer sua carapaça. Portanto,
a multiplicação das algas "certas" foi baixa. "Não houve tempo para produzir biomassa em
excesso que afundasse depois",
disse o pesquisador.
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