São Paulo, terça-feira, 25 de junho de 2002

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RIO +10

Chefes de Estado de Brasil, Suécia e África do Sul pretendem estimular o envolvimento de todos os países no debate ambiental

Líderes querem manter espírito da Eco-92

Associated Press
Manifestantes protestam no Rio contra a retirada norte-americana do pacto climático de Kyoto


CLAUDIO ANGELO
LEILA SUWWAN
ENVIADOS ESPECIAIS AO RIO

ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO

O presidente Fernando Henrique Cardoso, o primeiro-ministro sueco, Göran Persson, e o presidente da África do Sul, Thabo Mbeki, reconheceram ontem a responsabilidade dos três países de manter o "espírito do Rio" e fazer avançar a Rio +10, conferência da ONU sobre o desenvolvimento sustentável que ocorre em agosto em Johannesburgo, África do Sul.
FHC, que tem sido pressionado pelos ambientalistas a assumir o papel de liderança regional latino-americana na questão ambiental, disse, durante audiência pública que reuniu os três chefes de Estado, que é necessário trazer para o debate "todos os países, inclusive alguns que são um tanto reacionários" -uma alusão aos EUA.
A audiência serviu como a movimentação política que faltava para dar alguma perspectiva de sucesso à cúpula de Johannesburgo, ameaçada de naufragar em desmobilização e retrocessos armados pelos países ricos, que não querem adotar compromissos rígidos contra a degradação ambiental e a pobreza, como a destinação -acordada durante a Eco-92- de 0,7% de seu PIB para ajuda ao desenvolvimento.
"Até agora, todas as negociações ambientais estavam sendo feitas por diplomatas. É preciso que os chefes de Estado assumam essa responsabilidade", disse à Folha o ambientalista Rubens Born, do Instituto Vitae Civilis.
Segundo Göran Persson, o sucesso da conferência de Johannesburgo não significaria somente que o desenvolvimento sustentável -cuja implementação foi definida na Eco-92 pela Agenda 21- é algo realizável. "Existe a necessidade de mostrar que o sistema das Nações Unidas funciona", declarou o líder sueco.
Falando em nome dos africanos, que padecem com -entre outras coisas- níveis altos de degradação dos solos e escassez de água, Mbeki disse que "Johannesburgo não pode desapontar todos os povos para quem a questão [ambiental] é de vida ou morte".
A plenária, realizada como parte do seminário Rio +10 Brasil, que acaba hoje, teve o reforço de última hora do vice-primeiro-ministro britânico, John Prescott.
A presença de Prescott é considerada importante, pois os britânicos são os principais aliados dos EUA, considerados o principal inimigo dos acordos ambientais.
Prescott roubou a cena e foi aplaudido várias vezes. Primeiro, por lembrar a eliminação da Inglaterra pelo Brasil na Copa do Mundo e desejar vitória ao país. Depois, por chamar os chefes de Estado à responsabilidade.
Em entrevista coletiva no início da tarde, FHC cobrou "medidas efetivas" para combater a pobreza, dar aos países pobres acesso aos mercados, permitir transferência de tecnologia e proteger o ambiente. "A globalização, do jeito que vai, vai mal. É preciso criar mecanismos para contrabalançar a sensação dos povos de que a globalização só serve para os ricos."
O ministro do Meio Ambiente, José Carlos Carvalho, afirmou que o Brasil defenderá que sejam estabelecidas metas de diminuição da pobreza no mundo. "Assim como estamos apresentando uma proposta de chegar em 2010 com 10% das fontes de energia do planeta renováveis, achamos que é preciso estabelecer também metas específicas para propostas de alívio da pobreza", afirmou.



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