São Paulo, sexta-feira, 25 de agosto de 2000 |
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ZOOLOGIA Cetáceos imitam "assinaturas" sonoras dos outros para se comunicar; estudo dá pistas sobre linguagem humana Golfinhos chamam os colegas pelo nome
CLAUDIO ANGELO DA REPORTAGEM LOCAL Os golfinhos são os maiores tagarelas dos oceanos. Donos de um cérebro especialmente adaptado para a linguagem, eles são capazes de generalizar regras, entender sintaxe e até aprender sistemas de comunicação artificiais. Só isso já bastaria para deixar qualquer chimpanzé -o Einstein do reino animal- pulando de inveja. Mas os cetáceos risonhos vão mais longe: aprendem a se comunicar só ouvindo os outros. Fora os seres humanos e algumas aves, os golfinhos são os únicos animais que têm esse dom. Por isso, estudar sua comunicação pode ajudar a compreender a linguagem humana. Na edição de hoje da revista "Science" (www.sciencemag.org), o biólogo Vincent Janik, da Universidade de St. Andrews, Escócia, desvenda o que os golfinhos tanto fofocam no meio do mar. Gravando o blablablá de golfinhos em liberdade por meio de microfones especiais, ele descobriu que os animais têm o curioso hábito de imitar os colegas quando querem dizer-lhes algo. Cada golfinho emite um som único. É uma espécie de assobio agudo, que funciona como "assinatura" sonora. Janik descobriu que eles conseguem imitar os assobios dos outros como forma de interação vocal. É mais ou menos como se um golfinho que se chamasse Flipper saísse por aí gritando "Flipper!" e fosse saudado por outro, que respondesse: "Flipper!". Pode não ser lá a maneira mais criativa de começar um diálogo, mas funciona. Especialmente se você considerar que a visão, embaixo d'água, não serve para muita coisa. Para realizar o estudo, Janik gravou 1.719 assobios de golfinhos num canal escocês. O pesquisador usou uma técnica desenvolvida por ele mesmo, a de espalhar hidrofones (microfones submarinos) por vários pontos do canal e localizar o golfinho que assobia calculando o tempo que o som demora para atingi-lo. Janik utilizou o mesmo sistema em uma pesquisa anterior para mostrar que alguns tipos de som emitidos por esses cetáceos servem para atordoar os peixes que lhes servem de almoço -e chamar os colegas para o banquete. Para saber quais sons eram iguais (o que significaria uma interação), ele usou cinco voluntários humanos, que julgaram o grau de semelhança dos assobios. O biólogo ainda não sabe direito para que serve a imitação. "Pode ser tanto um sinal de agressão quanto de acolhimento", afirma. Outra hipótese é que os chamados signifiquem a formação de alianças entre animais. Seja como for, a descoberta de Janik pode ajudar a entender a evolução da linguagem humana. "É difícil estudar a evolução do aprendizado vocal em humanos porque nenhum outro mamífero tem essa capacidade", diz o biólogo Peter Tyack, da Woods Hole Oceanographic Institution (EUA), em comentário ao artigo de Janik na "Science". Agora há mais uma espécie na lista. Próximo Texto: Animais fazem alianças para roubar fêmeas Índice |
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