São Paulo, sexta-feira, 25 de agosto de 2000


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BIOQUÍMICA
Aparelhos imitam condições de fossas termais
Experimento reproduz composto essencial para surgimento da vida

ISABEL GERHARDT
DA REPORTAGEM LOCAL

O enxofre não é só coisa do demônio, ele pode também ter sido fundamental para a criação da vida sobre a Terra.
Pesquisadores dos EUA reproduziram as condições químicas das fossas hidrotermais (aberturas no fundo dos oceanos, ricas em enxofre) e obtiveram um composto essencial para os seres vivos, o ácido pirúvico. Ele é produto da quebra de açúcares e funciona como substrato para produção de energia nas células.
Os resultados da investigação da Carnegie Institution são mais um suporte para a teoria de que a vida surgiu em águas quentes e sulfurosas no fundo do mar. Em junho deste ano, cientistas já haviam noticiado a descoberta de fósseis de microrganismos com 3,2 bilhões de anos em fossas hidrotermais na Austrália.
Onde a vida começou, quais as condições da Terra desse período e qual foi a primeira entidade capaz de se reproduzir são questões ainda não respondidas pela ciência sobre a origem da vida.
Várias hipóteses discutem o local de surgimento da vida. Uma teoria -chamada panspermia- afirma que a vida não se originou na Terra, mas foi trazida por meteoritos (veja quadro acima).
Essa teoria enfrenta a oposição, entre outros, de Stanley Miller, cientista norte-americano que, na década de 50, mostrou como aminoácidos (blocos construtores das proteínas) podem ser produzidos nas condições de pré-vida da Terra. "A panspermia só muda o problema de lugar", disse o pesquisador à Folha.

Procurando proteção
Miller acredita que a vida tenha surgido na superfície do planeta, em lagoas na praia, formadas pelo recuo das marés. Mas a Terra devia ser atingida por muitos meteoros nesse período, o que tornaria a superfície um ambiente inóspito para a vida. As fossas hidrotermais, no fundo do oceano, poderiam oferecer as condições ideais de formação e proteção, segundo alguns pesquisadores.
O trabalho dos cientistas norte-americanos, que produziram ácido pirúvico nas condições de temperatura e pressão das fossas hidrotermais, fecha o ciclo das reações químicas que devem ocorrer nesse ambiente para a produção de uma molécula que possa ter originado a vida, o peptídeo (um tipo de proteína pequena e sem estrutura definida).
Günter Wächtershäuser, que comenta a pesquisa publicada na edição de hoje da revista "Science", diz que o desafio, agora, é descobrir quais as condições que poderiam ter levado esses peptídeos a se reproduzir e evoluir.
Wächtershäuser, que é um advogado com doutorado em química orgânica, já havia proposto que a pirita -um mineral também conhecido como "ouro de tolo"- das fossas termais funcionava como um agente catalisador das reações químicas.
"A pirita é rica em enxofre e ferro e pode fornecer elétrons que induzem a formação de compostos", afirma.


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