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BIOQUÍMICA
Aparelhos imitam condições de fossas termais
Experimento reproduz composto essencial para surgimento da vida
ISABEL GERHARDT
DA REPORTAGEM LOCAL
O enxofre não é só coisa do demônio, ele pode também ter sido
fundamental para a criação da vida sobre a Terra.
Pesquisadores dos EUA reproduziram as condições químicas
das fossas hidrotermais (aberturas no fundo dos oceanos, ricas
em enxofre) e obtiveram um
composto essencial para os seres
vivos, o ácido pirúvico. Ele é produto da quebra de açúcares e funciona como substrato para produção de energia nas células.
Os resultados da investigação
da Carnegie Institution são mais
um suporte para a teoria de que a
vida surgiu em águas quentes e
sulfurosas no fundo do mar. Em
junho deste ano, cientistas já haviam noticiado a descoberta de
fósseis de microrganismos com
3,2 bilhões de anos em fossas hidrotermais na Austrália.
Onde a vida começou, quais as
condições da Terra desse período
e qual foi a primeira entidade capaz de se reproduzir são questões
ainda não respondidas pela ciência sobre a origem da vida.
Várias hipóteses discutem o local de surgimento da vida. Uma
teoria -chamada panspermia-
afirma que a vida não se originou
na Terra, mas foi trazida por meteoritos (veja quadro acima).
Essa teoria enfrenta a oposição,
entre outros, de Stanley Miller,
cientista norte-americano que, na
década de 50, mostrou como aminoácidos (blocos construtores
das proteínas) podem ser produzidos nas condições de pré-vida
da Terra. "A panspermia só muda
o problema de lugar", disse o pesquisador à Folha.
Procurando proteção
Miller acredita que a vida tenha
surgido na superfície do planeta,
em lagoas na praia, formadas pelo
recuo das marés. Mas a Terra devia ser atingida por muitos meteoros nesse período, o que tornaria a superfície um ambiente inóspito para a vida. As fossas hidrotermais, no fundo do oceano, poderiam oferecer as condições
ideais de formação e proteção, segundo alguns pesquisadores.
O trabalho dos cientistas norte-americanos, que produziram ácido pirúvico nas condições de
temperatura e pressão das fossas
hidrotermais, fecha o ciclo das
reações químicas que devem
ocorrer nesse ambiente para a
produção de uma molécula que
possa ter originado a vida, o peptídeo (um tipo de proteína pequena e sem estrutura definida).
Günter Wächtershäuser, que
comenta a pesquisa publicada na
edição de hoje da revista "Science", diz que o desafio, agora, é
descobrir quais as condições que
poderiam ter levado esses peptídeos a se reproduzir e evoluir.
Wächtershäuser, que é um advogado com doutorado em química orgânica, já havia proposto
que a pirita -um mineral também conhecido como "ouro de
tolo"- das fossas termais funcionava como um agente catalisador
das reações químicas.
"A pirita é rica em enxofre e ferro e pode fornecer elétrons que
induzem a formação de compostos", afirma.
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